Este mapa diz bem do que foi o fenómeno Trump: o rude despertar da América profunda. Como se pode ver ao lado da imagem dos dois candidatos ali em cima, Hillary Clinton obteve um maior de número de votos no total, e fossem estas as eleições presidenciais portuguesas, teria ganho por uma unha negra. Mas os EUA são uma federação de estados, e nesses estados é dado um número de pontos eleitorais conforme a população neles residentes, sendo a Califórnia e Nova Iorque os mais valiosos, o que explica que a candidata democrata tenha obtida mais de 200 pontos, apesar da evidente inferioridade em número de estados nos quais saiu vencedora. Os antigos membros confederados, os estados do sul que durante a Guerra Civil Americana optaram pela secessão do resto da União, votaram em massa no candidato republicano. Tem sido quase sempre assim, e desta vez a Florida também não foi excepção, e tal como em 2000 na eleição de George W. Bush, voltou a ser um estado decisivo para se apurar o vencedor. Outro caso interessante é o do Ohio, que mais uma vez votou no presidente eleito, como vem fazendo desde 1960, e nunca um republicano chegou à Casa Branca sem ali ter vencido.
Esta imagem pode parecer um "cliché", mas não é propriamente o que se pode chamar um paradoxo quando falamos no eleitor-tipo de Donald Trump. A China, que apoiou o candidato republicano desde a primeira hora (ou esteve contra o seu adversário, melhor dizendo) veio já cinicamente comentear o resultado das eleições, recordando que "é isto o que acontece quando há democracia". Claro que democracia temos nós todos em nossas casas, à nossa maneira, optamos por não ter, ou chamamos-lhe outra coisa qualquer. De facto é difícil imaginar que tipo de liderança sairia de eleições democráticas pelos padrões ocidentais se fossem realizadas na China, mas aqui é mensagem é clara: nem todos estão habilitados para decidir pelos restantes, e um exemplo recente disso foi o Brexit, o pesadelo de qualquer britânico moderno, educado, progressista e com o seu futuro e o dos seus em perspectiva. Mas aqui há que ponderar um factor essencial: o que é a democracia quando lhe viram as costas, e se permite que o resto decida por nós? Tal como no Brexit, tenho a certeza que muitos americanos se abstiveram de participar, de tanto que dão por garantida a tal democracia que agora questionam. Com um discurso directo, falando ao eleitorado dos problemas que os afligem directamente, abstendo-se do discurso politiqueiro que ficaram fartos de ouvir, e bastou incutir-lhes um pouco de receio e apresentar soluções instantâneas e improváveis tiradas da manga naquele instante, e ficou com a eleição praticamente ganha - demagogia e populismo, com o desprezo e a arrogância dos que nunca pensaram ser possível esta combinação resultar fazendo o resto. Eis a receita do presidente Trump.
E com isto chegamos à parte da apreensão, ou na sua versão mais aguda, dos receios de muitos em relação à prestação de Trump como presidente. Em primeiro lugar, ele não vai construir muro nenhum, não vai caçar muçulmanos, nem vai dar um murro na mesa quando estiver cara-a-cara com os chineses. O primeiro é materialmente inexequível, o segundo seria uma loucura, atendendo à dependência do petróleo árabe, e a terceira uma loucura seria - a China é o maior comprador de dívida americana. Foram iscos lançados para apanhar os carapaus, por assim dizer. Quem votou em Trump porque é xenófobo vai apanhar uma grande e prolongada desilusão. Quem o fez em nome de uma tal "libertação da escravatura dos mercados", ou lá de não sei quem, ou destes e daqueles que controlam isto e aquilo, também não me convence; a América tem tido, e continuará a ter uma postura imperialista, onde ditará sempre as regras do jogo na diplomacia e nas relações internacionais, com Trump ou com outro qualquer. Quem elegeu Trump APESAR de ser Trump, das duas uma: ou acertou sem querer, ou será cúmplice de um dos maiores equívocos da História. Eu sou optimista e inclino-me para a primeira opção, ou no pior dos casos uma segunda sem consequências de maior.
A primeira reacção à vitória de Trump fez-se sentir nos mercados, com uma queda a reflectir a surpresa do resultado, e a incerteza quanto ao que será o consulado deste personagem na Casa Branca. Nem ele decidirá nada sozinho (ou pela própria cabeça...), nem os americanos o deixarão de algum jeito interferir com aquela sua "way of life" muito peculiar, e que a nós aqui no resto do mundo faz alguma confusão. Se há algo em que se redime, foi em ter posto termo (a ver vamos...) ao "establishment" que Hillary Clinton personificava, sem originalidade e sem graça. Duvido é que vá prender a senhora, o que seria um verdadeiro delírio. Foi só uma das patetices do senhor, pronto, nada a que já não estejamos habituados. E quem não estiver, que se vá preparando...
2 comentários:
Prepara-te é para levar mais. Tu gostas de apanhar, não é, sua badalhoca?
«se alguém aqui é covarde é vc que foi humilhado por um tal de leocardo entre outros e não foi homem para dar a cara.»
Priceless 😈
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