Estes na imagem são Baggio Leung Chun Hang (a sério, "Baggio", que "cute") e Yau Wai Ching, os dois deputados eleitos pelo partido Youngspiration (青年新政), vulgo "localistas", nas eleições de 4 de Setembro último para o Legco de Hong Kong, e que estão no centro de um vendaval político com consequências imprevisíveis. Segundo estes "localistas", surgidos dos protestos do "Occupy Central" em 2014, "Hong Kong vai deixar de estar sob a política de 'um país, dois sistemas' em 2047", pelo que propõem que já em 2020 seja efectuado um referendo sobre a "auto-determinação de Hong Kong" - ou por outras palavras, que seja permitido optar pela independência da RAE de Hong Kong, e a sua secessão (conforme consta do infame artº 23 da Lei Básica) da R.P. China. Muito bem, gente nova com ideias novas, e o facto de terem obtido o número de votos que lhe garantissem dois assentos no órgão legislativo honconguense é prova de que esta é uma tese que tem uma certa "penetração" no território vizinho - isto apesar dos avisos do Governo Central, que mesmo assim não mugiu nem tugiu em relação à eleição destas duas "ovelhas negras". O pior mesmo foi no momento de tomar posse no Legco, a 12 de Outubro:
Primeiro foi Baggio Leung, que depois de ter "jurado fidelidade à nação de Hong Kong", foi obrigado a repetir o juramento, e aí referiu-se à R. P. China como "People's Republic of Sina". Este "Sina" é um termo depreciativo para fazer referência ao país do meio, e era utilizado pelos invasores japoneses durante a Guerra do Pacífico. É considerado mesmo humilhante, e nem consigo entender o que ia pela cabecinha daquele rapaz. A pinta de retardado não explica nem metade do que veio a seguir, quando chegou a vez de tomar posse a sua nº 2, Yau Wai Ching:
A mesma conversa do agora (até ver) colega de bancada, e na altura de ler o que estava escrito na cábula, diz "People's Refucking of Sina", conseguindo ir ainda mais longe que o Baggio - se calhar devia mudar o nome para Vialli Yau (ah, ah, perceberam o trocadilho futebolístico?). Com toda esta palhaçada, os juramentos ficaram sem efeito, certamente a mando de Pequim, e aos "rebeldes" foi dada a oportunidade de o repetirem, que viriam a recusar, e agora o Governo Central pode mesmo solicitar ao Comité Permanente da Assembleia Nacional Popular uma interpretação do conteúdo original da Lei Básica. Neste particular assumo aqui e já a minha ignorância, e remeto-vos para este artigo de meu colega Pedro Coimbra, que é jurista de formação, no seu blogue "Devaneios a Oriente". Não podia estar mais de acordo com ele quando diz que este pode ser um rude golpe no princípio de "um país, dois sistemas", pois representaria uma intromissão directa - ou pelo menos declarada - na gestão dos assuntos das RAEs na sua vertente executiva. É uma daquelas coisas que não augura nada de bom para o futuro próximo.
E concordo que se trata de teimosia - mais do que isso, uma birra. Nestas duas semanas não tenho visto outras reacções (pelo menos deste lado) que não fossem de repúdio e de indignação. Até os democratas, que por muito que se solidarizem com os seus "camaradas de luta" daqui do lado, terão ficado completamente abanadados com a leitura que qualquer pessoa com dois palmos de testas fará de uma atitude irresponsável como esta: serve para que fim, exactamente? Mesmo a maioria dos eleitores que votaram nos dois "localistas" devem estar a sentir-se defraudados a esta hora, e se não estão, deviam! - não era isto que estava no programa político lá da lista do "Youngspiration", pois não? Quer dizer, vão usar esse bem precioso que é o voto para que se faça ouvir uma voz que depois não só não diz nada, como ainda fica à porta a fazer fita? Pensava que aqueles partidos que se dizem anti-europeístas e que apregoam aos quatro ventos a saída do seu país da União Europeia, mas depois concorrem a um "tacho" em Bruxelas eram o cúmulo do paradoxal (a propósito, esses deputados dispensaram as muitas regalias inerentes ao cargo, por uma mera questão de coerência? era o recusavas - parvo é quem vota nesses gajos), mas eis os "localistas", que se recusam a tomar posse no orgão legislativo de uma região integrada num sistema que repudiam, odeiam e rejeitam - sim, isso tudo, e mais qualquer coisinha.
Claro que há quem ache imensa piada a tudo isto, e até quem ache "bem". Eu como só conheço gente que trabalha e tem mais que fazer, não sei de nenhum, mas por acaso gostaria de trocar um ou dois pontos de vista, e de preferência sem um guarda-chuva amarelo aberto, se não for pedir muito. Já tivemos num passado recente o tal "long-hair" a debitar disparates depois de prestar o tal juramento aquando da sua tomada de posse, mas esse pelo menos cumpriu com o mínimo que se lhe pedia, e ficou para lá a dizer o que pensa e a atirar fruta podre e ovos ao presidente do Legco e a ostentar cartazes onde se liam frases que tinham a ver com tudo menos política, mas pronto, "foi ao choque", por assim dizer. Estes nem isso. Mais do que ficar preocupado com o facto do Baggio e a sua "loi pang yau" não quererem comer a sopa que lhe puseram à frente, há outra leitura que faço de toda esta pantomimice, e que me deixa com dores de cabelo: é isto que estes tipos entendem por democracia? Não, não é para responder.
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