quarta-feira, 23 de março de 2016

O "covarde", o cão e o povão


Ah, Direitos dos Animais: a ficha que cai quando algumas pessoas fazem a chamada para se demitirem da humanidade. E eis que temos aqui um cão queimado vivo! E que vivo continuou, aliás, tem muito que se lhe diga, o processo de convalescença deste cão, que foi vítima do "covarde". Sim, é tudo o que nos deixa saber o sítio dos Direitos dos Animais: o "covarde" bebia cachaça, regou o cão com um pouco dessa bebida, e ateou-lhe fogo. Porque é "covarde", pronto, e os "covardes" fazem dessas coisas. Não deve ter sido porque sentiu frio e o cão era a única coisa que tinha à mão, pois penso que mesmo assim isso seria assaz reprovável, pois isto aconteceu no Brasil, mais precisamente em Ourinhos, no Estado de S. Paulo, junto da fronteira com o estado do Paraná. Desconhece-se portanto se o "covarde" era mesmo paulista, ou se seria paranaense, ou se teria origem desconhecida, vindo lá de um estado onde abundam os "covardes". O cão era, contudo, residente de Ourinhos, e como tal...


...foi-lhe dado destaque no "Ourinhos Notícias", o que chega a ser suspeito, visto que numa cidade com 110 mil habitantes costumam acontecer...coisas? Outras coisas? Já lá vamos. Aqui pelo menos ficamos a saber...o mesmo? A única diferença é a evolução que o cachaceiro atravessa durante a história: começa por ser "covarde", é promovido a "homem" na segunda parte, apenas para voltar a ser relegado a "marginal", e acaba como "pessoa", de quem "nada se sabe" - a não ser que é "covarde", claro. E se nada se sabe, o que nos leva a pensar que foi um homem? A cachaça é exclusivo do género masculino? Pode parecer que estou a fazer pouco da lamentável situação, que levou inclusivamente o cão a "passar por cuidados" numa clínica veterinária. A razão porque este tipo de notícia me deixa apreensivo é não ajudar em nada a melhorar a situação de ninguém, de pessoas, de cães, de "covardes", nada. Tudo o que faz é despoletar sentimentos de ódio, causar fricções ENTRE PESSOAS, e deixar um registo vergonhoso em certas pessoas no que toca às afirmações que fazem, e se tempos houve em que pensei que se tratavam de simples desabafos, hoje temo o pior. Quando vi que esta entrada na página do Facebook tinha mais de 700 comentários em 15 horas, já sabia que não se estaria ali a debater nenhuma problemática específica, sobre a cachaça, o cão ou o "covarde" - o que se fazia ali era sim destilar ódio por este último, de quem "nada se sabe", nunca é demais repetir. Mas esqueçam tudo o que aprenderam sobre a presunção da inocência, o direito à defesa e a um julgamento justo e imparcial, o factor prova, enfim, deixe o civismo à porta e prepare-se para entrar no mundo dos...DIREITOS DOS ANIMAIS! UAHAHAHA!



E entramos logo com um retrocesso de séculos na civilização: "linchar o fdp até à morte", diz a Sueli Souza, uma veterana nestas andanças, e que diz "falar com a razão", pois o tal "covarde" em causa "TENTOU assassinar um inocente". E o que vamos nós fazer, aplicar a pena de talião, de olho por olho e dente por dente? Qual quê, isso é para meninos! Vamos "linchá-lo até à morte", subentendendo-se aqui que vão-lhe beliscar as partes mais tenras, tornando o processo desnecessariamente demorado. Nos restantes comentários é bem latente o ódio, e eu imagino estas pessoas a espumar de raiva, a imaginar os castigos mais cruéis, as formas mais lentas de morrer, sentindo toda a dor, sem perder pitada, e...hmm...isto não sei porquê abre-me o apetite. É deveras sugestivo, o que torna tudo ainda mais assustador. Mas adiante.


Se repararem bem são praticamente todas mulheres, os comentadores desta página dos Direitos dos Animais. Senhoras, meninas, mães de família...agora que penso nisso fico preocupado, sinceramente. Quer dizer, com este conceito de "justiça", esta boca de trapos, os castigos sádicos que imaginam, a maneira com que se referem aos animais como "anjinhos de quatro patas". Atroz, no mínimo. A Maria da Graça Alves de Lemos diz que "precisão" de encontrar o "covarde", mas eu digo que se o apanhassem ele não seria julgado lá com muita precisão; basta ver o que diz a Maria de Fátima Toledo Vedoti. Brrr...ele aprendeu aquilo onde? Na novela? A Luana Castro faz ali timidamente a primeira aproximação ao prenúncio do fim do mundo. E são bastante comuns, este tipo de comentários, que acabam sempre por...


...chegar ao auge, aqui pela mão da Elizabeth Zurkinden, que numa notícia de um cão que teve o azar de se cruzar com uma palerma qualquer, e ainda por cima bêbado, faz logo um anúncio do Dia do Juízo Final, citando (mesmo que involuntariamente, acho) a doutrina do Arrebatamento - incrível, e era o outro que estava bêbado? Pelo menos tem uma desculpa. Mas reparem mais acima no primeiro comentário, antes  desse o dos outros três igualmente "simpáticos", de uma tal Maria Estela de Almeida. A mulherzinha, que deve ter tido uma data de afrontamentos que de uma assentada resultaram em dez acessos agudos de SPM quando leu a notícia, apela ao povo de Ourinhos que vá LINCHAR o "cobarde", uma vez que "sabem quem ele é", e "não existe lei para punir essa desgraça humana". Bem, aqui temos alguém MESMO dedicado a esta causa ao ponto de saber tudo isto, suponho que por telepatia, o que parecendo uma coisa boa, não...mas espera lá, 32 comentários? Aquilo promete! 


E lá está: Maria Estela de Almeida é mesmo a cacique desta facção ultra-radical da causa dos Direitos dos Animais, de gente que se diz "moderna", mas que defende os linchamentos, um tipo de justiça da Idade Média, aplicada naquele tempo em locais onde não existia nem lei nem grei. Neste caso a lei até existe, e vendo bem o tal "covarde" não se livrava de uma admoestação que o faria pensar dez vezes antes de repetir a graçola, mas não: linchamento é a única solução que equilibra o Universo, segundo esta senhora. E os restante "amigos dos animais" concordam, como dá para depreender daqueles comentários impregnados de raiva (estarão vacinados?). Vejam ali a sra. Alzira Mota, já com uma respeitável idade, a defender um método de linchamento que se pode ver no primeiro filme da "Tropa de Elite". Ó minha senhora, que modos, esses os seus, que ninguém diria. Neste seguimento de comentários ao comentário encontramos finalmente representado o sexo masculino, mesmo que no caso daquele Orlando, que ou muito me engano, mas não deve ser "fogo" no sentido literal que ele quer pôr em alguma "bunda". Ahem. Quanto ao Vítor Rodrigues, pode-se dizer que chegou, viu e venceu. Excelente observação, meu caro, só que aqui parece que os camaradas já há muito que não vêem um palmo à frente do nariz.



















E eis que vos apresento ela mesma, a paraíbana Maria Estela de Almeida, adepta dos linchamentos. Apesar de ter um arcaboiço que sugere poder proporcionar uns momentos agradáveis de...uh...ah! convívio (pois), Maria Estela demitiu-se da humanidade, e hoje ladra. Sim, eu disse "ladra", como quem ladra aqueles disparates todos que vemos ali em cima. Se algum mérito tem, é o de assumir a passagem ao seu estado "animal", como se pode ler naquela introdução por cima daquelas fotos. Ah, introdução...hmmm...woof!


1 comentário:

Anónimo disse...

Este blog é claramente a obra de um autêntico atrofiado mental com comportamentos muito infantis, pois só as pitas e as crianças é que andam neste tipo de coisas a gravar comentários dos outros e a fazer artigos sobre os mesmos.

O Leocardo é um triste, para dizer o mínimo...