Antes que venham outra vez com coisas, de que eu aproveito tudo para malhar na Igreja, permitam-me que diga aquilo que penso: não sei. Exacto, não é algo com que eu tenha precisado de ser confrontado, quer na posição de doente, quer na de profissional de saúde ou familiar de alguém remotamente relacionado com qualquer caso, e não tive sequer conhecimento de ninguém que tenha feito essa opção. É daquelas coisas que para ter uma opinião teria que se passar por ela, ou caso contrário poderia estar a ser injusto, de uma maneira ou de outra. Não dá sequer para estabelecer uma comparação com a interrupção voluntária da gravidez, por exemplo, uma vez que para mim a vontade parte do casal, e em última instância, da mulher. Quem não pensar assim, paciência, mas ao contrário de quem se opõe tem o hábito de fazer, não vou impor esta solução, que para mim é sempre de último recurso e censuro que se faça por capricho ou comodismo, ou que a encare como "mais um método de contracepção". Se querem que vos diga, um meio-termo seria o ideal: avaliava-se cada caso, estabelecendo parâmetros limite e podendo-se recusar no caso de não corresponder a nenhum deles. Podia ser que assim mentalizassem toda a gente que uma simples ida à farmácia é mais fácil (e civilizado, já agora) do que ter embriões aspirados do útero. Penso que qualquer pessoa de bem concorda com esta ideia, sem que seja necessário atirar para aqui o extremismo que é dizer "é o meu corpo eu faço o que bem entender". Errado: neste caso implica sempre mais alguém, normalmente um profissional que é obrigado a corresponder ao seu desígnio, incorrendo em falta caso não cumpra este seu dever, com que pode ou não estar de acordo - e olhem que estendo a minha compreensão a quem se posicione assim por motivos religiosos, pois cada um tem as suas razões. É assim nas jurisdições onde a prática é permitida, e ainda por cima está-se a recorrer um serviço que é de todos, e pago por todos.
Se forem ver este artigo vão perceber que não sou nenhum crápula de um insensível que tortura e mata animais por diversão. Infelizmente aquele tipo de "activismo" recorre frequentemente a essa desonestidade, de que quem não concorda com os seus delírios de violência muitas vezes à margem da lei, está do lado do inimigo. Nem admito que me imputem tal comportamento, e tenho muitas vezes enfrentado de frente esta gentinha, que de tão desfasada e desprovida do sentido de humanidade e bom senso que está, que até se torna num alvo fácil. Vão também perceber outras coisas, se estiveram atentos ao que muita gente considerou "pancada" minha, que as imagens publicadas naquele artigo, com excepção da última, foram recolhidas na loja onde em Novembro de 2014 se deu um incêndio que vitimou cinco trabalhadores não-residentes, entre os quais uma querida amiga minha, uma perda que hoje ainda sinto. E não foi nada fácil tentar esquecer quando houve quem se tivesse aproveitado da tragédia, mesmo que indirectamente, para proveito pessoal e realização pessoal, recorrendo para o efeito a meios pouco claros em termos de honestidade. É possível que alguns de vocês, especialmente os que seguem o blogue há mais tempo, saibam do que estou a falar, e aproveito para reiterar que persisto na minha versão dos factos, e que não desisti da rectificação dos mesmos.
Se no parágrafo anterior deixei aquele "link" do artigo do blogue, não foi para me justificar ou para me ilibar antecipadamente de coisa alguma, mas para que entendam que não há aqui posições extremadas, nem se trata de nenhuma guerra. Senti tristeza com o desaparecimento do meu amigo de quatro patas, e já tinha passado pelo mesmo, e ainda relativamente jovem, quando com os meus 12 anos vi partir a minha primeira cadela, que a minha avó tinha a guardar o seu quintal ainda antes de eu nascer. Mas eu entendo isto, entendo perfeitamente que adquirindo um cão ou um gato, este não viverá mais que 14 ou 15 anos, e mesmo sendo a idade variável conforme a raça do bicho, nunca será muito mais do que isso. Quem racionaliza este facto e "sofre" com o desaparecimento do seu animal de estimação, recusando-se a aceitar essa eventualidade, então deixe-me que lhe diga que é um masoquista. Se calhar merece sofrer, sei lá? Você é que sabe, mas por favor poupe-me aos seus prantos como se tivesse morrido um familiar próximo, e procure ajuda de um profissional especialista em casos dessa natureza. Para seu bem, claro. Por enquanto falemos deste tema tão interessante, o da eutanásia.
Agora vamos ao "showcase" que tenho hoje para vos propor. Reparem nesta imagem da página do Facebook "Direitos dos Animais", que tem ainda o correspondente "website", onde publica notícias relativas a casos ora de abusos de animais, ora outros inspiradores numa proporção que eu consideraria credível, não fosse pelo ritmo com que o faz, em alguns dias de meia em meia hora. Isto equivale por dizer que a possibilidade de darem conta de meia dúzia de casos atrozes de crueldade contra animais POR DIA é considerável. E que tal chamar a polícia por exemplo? Em muitos casos há notícias repetidas, falseadas, incompletas, ou como neste caso manipuladas. A cadela vai ser..."sacrificada"? À memória de quem ou a que propósito? Já vamos ver daqui a pouco, mas primeiro vamos ver como está a mesma notícia no website dos Direitos dos Animais:
Pode ser quem ache que é "a mesma coisa", mas eu digo que não tem nadinha a ver, se me permitem. Na primeira versão tudo o que ficamos a saber é que a tal cadela, com 15 anos - portanto, velha para um cão - vai ser "sacrificada". Na segunda versão explica-se porquê: tem um tumor inoperável num pulmão, e apesar de um animal não poder descrever a intensidade da dor que o apoquenta, arrisco com toda a segurança dizer que sim, está a sofrer. Eutanásia ou não? Já lá vamos, mas é isto a mesma coisa que "sacrifício"? Tomemos um exemplo local; quando é detectado o vírus da gripe aviária em 1 (um) frango, todos os frangos daquele aviário são abatidos. Que tal? Até podia ser a única ave infectada, apesar de ser bastante improvável, dada a agressividade do vírus H5N1, que por ser igualmente nocivo para os humanos, justifica este - e aqui sim - sacrifício. Ou não? Era o que faltava, e tratando-se de uma questão de saúde pública, imaginem o que seria ter esses cromos com aquela conversa de que os frangos "sentem como nós", e têm alma, e...será que têm mesmo? Interessante, esta questão. Esclarecidos que estamos quanto à desonestidade da versão do Facebook, provavelmente com a intenção de fazer os aficionados mais psicóticos da causa trepar pelas paredes acima, vou apenas mostrar os comentários da segunda versão, que fez toda a gente chorar.
Atentem a esta discussão de carácter filosófico-religioso-veterinário. Como vocês sabem eu sou agnóstico, e como diz o outro, "a alma é uma cena que a mim não me assiste". Contudo a Cleusa Dacyszyn tem não só a certeza de que está dotada de uma "alma imortal" que vai para o Paraíso, e lá encontrará a tal cadela que agora partiu dos vivos, e apesar da única certeza que temos é de que se tornará matéria orgânica, a Cleusa "sente no coração. A seguir Telma Fonseca confirma, e vejam como ela nos deixa saber a sua confissão religiosa: mórmon. Não sei qual é a posição dessa seita restauracionista, mas a seguir o Roseval Lopes parece reiterar o seu carácter não-trinitário (o mormonismo defende que Deus, Jesus Cristo e o Espírito Santo são um só) - ou mais ou menos isso Diz-nos que os animais "têm alma", mas "não são providos do Espírito Santo". Eu não sei o que implica esta estranha amputação mística, mas antes que se entrasse num diálogo religioso propriamente dito, eis que Fábio Honório Oliveira levanta uma questão mais "terrena", e que seria parva, não fossem as restantes do mesmo calibre. Eu não chamaria de "parvoíce" acreditar na alma e no Céu, mas esta crença não se livra de suposições daquelas: estarão lá todos os frangos, vacas e porcos que comemos? E os animais que na Terra e em vida são ferozes e perigosos, casos do crocodilo ou do tigre, serão mansinhos no além? E os mosquitos, carrapatos e restantes rastejantes e criaturas asquerosas que se incluem no reino animalia, estarão lá também? E estas são apenas algumas das mil e uma questões que a possibilidade da existência de uma alma colocam. De seguida a Cynthia Moro demonstra mais uma vez a natureza psicótica da causa que protela, ao insultar gratuitamente o camarada que até nem colocou uma pergunta tão idiota assim - idiota por idiota...Depois dois casos "especiais" que adensam ainda mais o mistério. Oliveiros Freire introduz a possibilidade da alma ser quantificável, e tantos humanos como animais terem mais que uma, com os últimos a ganhar vantagem sobre "muitos humanos". Isto é giro, porque dá a entender que estes tipos levam isto muito a sério. Finalmente um momento de poesia com Edvandro Vincensi a dizer-nos que "homem e animais não têm alma, são uma alma só". Aê, mermão! Não havia uma canção do Djavan que era mais ou menos assim? Deixem para lá. Antes de continuar, e como podem desde já deduzir, não tenho o dom de providenciar possibilidades de respostas a estas "dúvidas" que de tão pertinentes que são, chegam a parar o trânsito, vou citar o escritor francês Alfred Barbou, contemporâneo de Vitor Hugo:
"A certa altura a Igreja Católica debateu muito seriamente a questão sobre se os animais têm ou não uma alma: iriam os bons cães para o paraíso e os maus, que roubaram umas fatias de fiambre, arderiam no inferno para toda a eternidade. A negação da alma foi votada: mas é suficiente para honrar a espécie em causa que a questão tenha sido colocada".
E de facto assim é: até muito recentemente a versão oficial da Igreja Católica de que os animais "não tinham alma", pois não sendo racionais, não poderiam estar dotados da qualidade transcendente do Homem, que o coloca próximo de Deus. Ou isso, ou podemos optar pela explicação mais terra-a-terra: a Igreja foi feita pelos homens e para os homens, e não acrescento mais nada a esta ideia, a não ser que a alma também. Os animais foram sempre carne para canhão, e alguns crentes que não partilham desta psicose abominam a personificação que os activistas fazem dos animais, chamando-lhe mesmo de "idolatria". Um problema este, que deixa os partidários de ambas as convicções meio baralhados, como se pode ver ali em cima em alguns daqueles comentários. O Papa Francisco veio recentemente dizer que "sim, que os animais vão para o Céu", mas mais uma vez a Igreja pisou na bola, ao dizer o mesmo dos homossexuais e das plantas, que "são uma criação de Deus", e "respiram". O Papa Francisco é um fartote. Como podem vislumbrar de toda esta salada de orelha de porco à cardeal (inventei isto agora para incluir os três grupos), é complicado. E pode-se complicar mais ainda:
E logo que uma abre as hostilidades, vem outro, o Caio Morais, que pelo menos tem a gentileza de começar com "na minha opinião" - vá lá. Mas eis que responde Patrick Cruz, que como vos tinha dito e agora confirma-se, é um daqueles tipos super-liberais que não questiona a ética da medicina, ou pondera implicações legais e pelos vistos não está lá muito virado para a religião (comuna! esquerdalha! - urra a beatagem e acolitaria) - "dói muito, é? mata-se já". Depois reparem naquela Eva Marcia, que nem dá para perceber se está MESMO a falar de um "filho", ou de um animal de estimação. Seja o que for, pode esperar um longo calvário antes de morrer, caso se depare com uma doença dolorosa. Marlon França é outro anjinho, Galdina Palha quis deixar o mundo saber que existe (e falhou), e finalmente está aquele que considero o comentário mais sensato (e até vou ignorar aquela última frase para não "atrapalhar"). É uma decisão difícil, claro, mas neste caso parece evidente que dois anos com um tumor maligno num pulmão, ainda mais num animal que pode expressar o que sente, mas não consegue racionalizar o conceito de morte, quanto mais aquele arraial de disparate que ali teve lugar, é demasiado tempo. Só alguém muito burro pode esticar o tempo de vida de um animal que agoniza apenas com "Deus" em mente, quando nem a Igreja, nem as escrituras lhe podem valer para justificar tamanha barbárie.
Com os animais basta ter um pouco de bom senso e dar ouvidos ao veterinário, que faz daquilo a sua profissão e portanto sabe como agir. Quanto às pessoas, e agora de volta ao outro lado do Universo Lusófono, não sei se viram o programa "Pós & Contras" dedicado a este tema, mas deu-se ênfase aos argumentos baseados na ética e na legalidade. Mas aqui fica bem claro o que esperar na hora de querer eventualmente legislar a questão da eutanásia: vai haver quem traga "recados" de um certo personagem que de certeza não vai gostar mesmo nada que alguém O substitua nessa função de destruir o que Ele próprio criou. É lá com vocês, eu já disse o que penso, mas há quem delegue a outros essa responsabilidade. Eu assobio e olho para lado, e como faço em todo o resto, levo a minha vida sempre sem pensar na não-vida. Mas já que trouxe esta contribuição para o debate sobre a eutanásia, vejam lá se não se lembram de fazer um cartaz, por Júpiter! É que aí é que vão ver o que é unidade, solidariedade e "respeito" por quem não respeita nada nem ninguém.
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