Este deve ser um dos títulos mais estranhos que alguma vez dei a um artigo - estará no top-10, com toda a certeza. Isto explica-se facilmente: António Faneca é um comerciante de Torre de Moncorvo, distrito de Bragança, Portugal, que foi há um mês condenado a três anos e meio de prisão efectiva por tentativa de homicídio. A decisão judicial não agradou aos Moncorvenses, que exigem a libertação do seu conterrâneo, que é segundo eles "um bom homem, pacífico e querido da comunidade". Sim, eu sei que um grupo de populares a ostentar cartazes onde se lê "O António Faneca para a rua" dá a entender que se trata de algum presidente da junta mal amado, mas aqui "rua" é a alternativa à choldra, onde o Faneca vai passar os próximos três anos e meio. Dois, se se portar bem, algo de que duvido que aconteça.
Os factos reportam-se a Agosto de 2013, quando durante as festas populares do Carvalhal, António Faneca abordou o grupo que animava um arraial, pedindo-lhes "para cantar". Estes recusaram, e Faneca "muito desportivamente" partiu para cima da banda, com a intenção de os agredir. Edgar Lopes (em cima, à direita), amigo do agressor e testemunha ocular dos factos, tentou separar a briga, "majo xô António lebanta um pé pra lhe dar um puntapé, não é, e um deles chegurou um pé e o xô António cai pra traje, e eu a tentar xegurar o xô António e ele caíu e eu caí praxima dele e lebantei-me logo...majele tem uma pixtola no bolcho pra ninguém lhe bater quando tá no chum, porque ele num che pode lebantar, purque pejaba chentichinquenta quiloche naltura, né, e daí ele deu um tiro para o ar, mas shempre contra pra...pró outro lado, não é?". Lógico! Quem é que no seu perfeito juízo pesa 150 quilos e ainda ousa andar por aí desarmado??? Só algum maluco, ora "echa"!
Outra amiga do Faneca, uma tal Berta Vieira, diz que "o sr. António teve a infelichidade de ter dado um tiro ó ar, e...aqui a nocha juxtiça...'baseou-se' que ele é um homem perigoso, num é, e nós estamojaqui pra demonstrar o cuntrário" (sic). Pois é, meu amor, só que parece que "o ar" não gostou e foi apresentar queixa. Entre outros testemunhos que dão conta da natureza pacífica do Faneca, está o advogado Nélson Sousa (em baixo à esquerda), que recorda que "não há instituições intocáveis", e que o tribunal "é uma instituição soberana", que está a aplicar a lei "pelo povo e para o povo", mas...mas o quê? Mas "tem que ouvir o povo", e "não se pode aplicar uma lei em nome do povo, quando o povo não concorda". Nem mais, ó gravatinha! O povo é quem mais ordena, ou "a luta continua", como se ouvia entre as palavras de ordem que gritavam os populares que exigiam a libertação do Faneca. E recordo que tudo se passou em Trás-os-Montes, ontem, dia 24 de Novembro de 2014, e não no Alentejo em 24 de Abril de 1974.
E andam aí os média a perder tempo com o Socrates, quando em Torre de Moncorvo há uma família "de três gerações e completamente integrada" que sofre enquanto o seu patriarca se encontra detido numa prisão em Bragança, acusado de um crime que não cometeu. Tentativa de homicídio...por acaso dão prémios Nobel por "tentativa de Literatura"??? Tudo o que o pobre homem de 150 quilos queria era cantar à revelia do alinhamento do grupo que animava o baile, um direito que assiste a qualquer cidadão. Depois de ter sido empurrado enquanto tentava "disciplinar" um dos elementos desse grupo com um pontapé - afinal era a sua HONRA que estava ali em jogo - deu um tiro para o ar, para "acalmar a situação", e assim "evitar uma desgraça". Ah justiça, que andas pelas ruas da amargura...
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