O Chefe do Executivo foi à Assembleia Legislativa anunciar algumas das medidas que planeia tomar os cinco anos que vão durar o seu segundo mandato. Cinco anos ou não, pois um dos detalhes que foi possível observar em Chui Sai On foi o facto de estar a coxear de um pé - provavelmente devido à sua hiperuricermia, vulgo "gota", diagnosticada há alguns meses e que se especula poder ser uma "reserva" para uma eventual aposentação antecipada, dependo tudo dos "ventos" que soprarem nos próximos dois anos.
Muitos esperavam que Chui Sai On anunciasse os secretários que o vão acompanhar neste percurso, mas o chefe ficou por meias palavras - mas já lá vamos. O dia era de anuniciar medidas com mais impacto na vida da população, e além de ter prometido estar atento e a estudar soluções para os diversos problemas de que os habitantes se queixam, nomeadamente a habitação e a saúde entre outras (um disco que parece estar riscado, mas que temos sempre a esperança que arranque), Chui anunciou uma injecção de 13500 milhões de patacas no Fundo de Segurança Social, e que equivale a mais sete patacas no pé de meia de cada contribuinte. O momento mais esperado era o do anúncio (ou não) da compensação pecuniária, os tais "cheques", que tal como no ano passado, serão de 9 mil patacas. Chegou a considerar-se que por culpa da sucessiva queda das receitas do jogo não atribuir a compensação inaugurada por Edmund Ho em 2008, e falou-se ainda de um pouco mais, na ordem das dez mil. Chui Sai On diz que mantém essa política, mas prefere "não arriscar, até mais ver". Os Funcionários Públicos vão ser aumentados na ordem dos 6%, passando o factor de multiplicação para 79 pontos, dos anteriores 74. Na prática isto quer dizer que um funcionário que aufira o índice 500 da tabela indiciária, recebe mais 2500 a partir de Janeiro - ao contrário dos últimos três anos, em que os aumentos entraram em vigor no mês de Maio. Como alguém disse e bem, "não chega para pagar uma renda de casa". De facto, nem dá para pagar um lugar de estacionamento nos locais centrais de Macau e da Taipa.
A respeito deste malabarismo orçamental, a deputada Kwan Tsui Hang disse que "não se devia misturar a questão dos aumentos dos funcionários com os cheques de compensação pecuniária...". Curiosamente este é "o primeiro aumento acima dos números da inflação". Continuo sem entender muito bem como funciona aqui isso da "inflação". Onde quer que vá vejo massas a aumentar de 17 para 20 patacas (8,5%), bebidas de 20 para 25 patacas (8%), e em alguns casos outros bens de consumo a aumentar na ordem dos 10% ou mais - e da habitação é o que se sabe. A inflação é uma coisa, aquela forma muito peculiar de capitalismo selvagem que se faz por aqui é outra.
Na manhã antes da vinda de Chui Sai On à AL, já o jornal Ou Mun tinha apresentado os nomes dos elementos que vão compôr o IV Executivo da RAEM. Assim temos, da esquerda para a direita:
(Em cima):
Administração e Justiça: Soniá Chai Hoi Fan
Economia e Finanças: Lionel Leong Vai Tak
Segurança: Wong Sio Chak
Assuntos Sociais e Cultura: Alexis Tam Chon Weng
Obras Públicas e Transportes: Raimundo Arrais do Rosário
(Em baixo):
Ministério Público: Yip Sang Son
CCAC: André Cheong Weng Chon
Comissariado de Auditoria: Ho Veng On
Serviços de Polícia Unitários: Ma Io Kun
Serviços de Alfândega : Mandy Lai Man Wa
Se o Ou Mun disse, está dito. Fica a análise mais extensa para quando vier de Pequim a lista dos nomes com a estampa do Mandarim.
Na plateia estiveram os deputados da AL e mais algumas figuras ligadas à nomenclatura e José Pereira Coutinho não perdeu tempo em comentar a escolha de Sonia Chan Hoi Fan para a área da Administração e Justiça, recordando o papel da juíza no referendo civil em Agosto último, enquanto à frente do Gabinete de Protecção dos Dados Pessoais, "fazendo um jeitinho ao Executivo", que agora "foi devidamente recompensado". O presidente da ATFPM diz que a lista de secretários anunciada pelo "Ou Mun" já circulava nas redes sociais "há mais de um mês". Gostaria de saber que redes sociais são essas pelas quais o sr. deputado anda, uma vez que há qualquer coisa como semana e meia nem um pio se ouvia ou lia sobre o assunto.
Hilariante foi Chan Chak Mo, que por incrível que pareça subiu pontos na minha consideração. O empresário da restauração, natural de Hong Kong, gerente do grupo Future Bright e deputado nomeado pelos interesses culturais (?), pareceu-me muito mais à vontade fora dos bancos do hemiciclo, falando num discurso aprazível num inglês bem cuidado, mesmo que não tinha dito nada de jeito (como é aliás do seu timbre). E estava todo janota, também! Quem é que ele me fez lembrar...
"Oferece semelhanças", é o mínimo que se pode dizer.
O comentador convidado do Telejornal foi José Miguel Encarnação. Concordei com ele em alguns pontos e fico meio "tremido" quanto a outros. Abriu muito eloquentemente com uma parábola do rei-eremita, que vivia num enorme castelo, rodeado de quatro paredes e acompanhado pela própria sombra. Álvaro Cunhal contou um dia algo parecido sobre Kim Il-Sung após uma visita à Coreia do Norte - extremos que se tocam? Aquilo com que não posso mesmo concordar é com a perspectiva do José Miguel sobre a Função Pública. Não querendo desfazer da sua opinião, que respeito, mas estando eu "no centro do furacão", posso-lhe dizer que é ainda uma carreira muito apetecível em termos de horário, remuneração, regalias e até em termos de vínculo laboral: mesmo em situação de contrato além-quadro existe a "justa causa", que parecendo que não, requer muita "arte" para despedir alguém que se possa revelar "incomódo". Quanto àquilo que considera "inexperiência", e que testemunhou na chamada "linha-da-frente", deixe-me dizer-lhe que é outra coisa. Se quiser um dia a gente conversa melhor e eu conto...
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