As palavras, e por inerência as intenções que delas podemos retirar, variam conforme a situação e o contexto em que são usadas. Esta regra nem sempre se aplica, uma vez que há palavras e frases que dificilmente se podem justificar através de diferentes contextos e circunstâncias, tal é a sua força ou a força da ideia que acabam por transmitir. Há outros casos ainda em que a pontuação pode alterar o sentido, ou a acentuação, e podem ainda ter outro sentido pelo simples facto de se iniciarem com letra maiúscula; é o caso de "Homem", no sentido de humanidade, a raça humana em geral, e "homem" no sentido de um único indivíduo do sexo masculino, ou ainda no caso que gostaria de comentar neste artigo, "diplomacia" e "Diplomacia". Entendemos por "diplomacia" no seu sentido mais lato a habilidade na gestão das relações interpessoais de modo a resolver um problema, solucionar um diferendo ou tratar uma questão mais sensível. Já a "Diplomacia" no seu sentido mais específico tem a ver com a representação dos interesses de um determinado estado num país estrangeiro, e como todos sabemos, os caminhos da "Diplomacia" são por vezes tão ínvios que podem decidir um conflito armado; tudo depende portanto de quão diplomática é a Diplomacia.
Já quanto às qualidades que fazem um bom Diplomata, assim com "d" maiúsculo, a diplomacia deve sem dúvida ser uma delas, além dos conhecimentos históricos, culturais e linguísticos, e depois já dentro do espírito mais pragmático da ciência, a capacidade de se negociar em nome da defesa dos interesses do país que se representa - daí se chamar ao ministério em questão "dos negócios estrangeiros". Aqui convém ter em conta o passado comum dos países em causa, pois ou a representação diplomática é meramente simbólica, ou no caso de existir um passado de relações menos pacíficas, requer-se algum "jogo de cintura", e além de diplomático dá jeito ser ainda um pouco desconfiado, ou porque não dizê-lo, um bocadinho filho da puta. Como o temos o terrível hábito de viver do passado, cometemos por vezes erros de julgamento, e teimamos em ser diplomáticos quando a hora exige que sejamos filhos da puta. Nao é que não nos dê vontade em ser filhos da puta, ou que rejeitemos essa qualidade, mas o que acontece é que ou não sabemos quando ou como ser filhos da puta, ou confiamos demasiado que outros não terão a coragem de ser filhos da puta connosco. O valor da "amizade" entra nestas contas como um factor relativo, ou melhor dizendo, na operação matemática da divisão seria o resto: "amigos, amigos, negócios à parte", ou se os negócios forem "estrangeiros" mais à parte ficam os amigos. Às vezes são mesmo postos de lado.
A recente notícia que nos dá conta de cinco magistrados portugueses, portanto "amigos", que foram postos de parte em Timor-Leste são um bom exemplo disso. O que terão ficado a pensar eles quando lhes foi dito que os seus serviços deixaram de ser necessários? Terão dito qualquer coisa como "filhos da puta...". É bem possível, até porque sendo eles da area do Direito e não da Diplomacia, a diplomacia é uma coisa que não é para aqui chamada. No entanto não podemos deixar de ficar curiosos quanto ao que pensa a nossa Diplomacia deste assunto, claro, que aquilo que para nós, opinião pública, pode parecer apenas uma desfeita da parte de uns filhos da puta ingratos, para eles pode ser algo mais complexo, uma área sensivel onde não há lugar para esse tipo de linguagem - ou seja, não se diz: pensa-se. A nossa tendência para sermos diplomáticos sempre antes de ser Diplomatas causa-nos este tipo de dissabores: se fossemos mais Diplomatas e um bocadinho filhos da puta de vez em quando, talvez ficássemos menos à mercê dos filhos da puta que nem uma pitada de diplomacia sabem usar. Parece sina, 'cum raio.
Sabendo o pouco que se sabe deste caso (o facto de lhes terem sido dadas 48 horas para deixar o país dá a entender que foram expulsos), dá no entanto para deduzir que voltámos a ser anjinhos, cheios de boas intenções, querendo o melhor para os meninos, ensinar-lhes que a separação dos poderes executivo, legislativo e judicial é a oitava maravilha, garante direitos iguais a todos e não sei que mais, mas e depois? Se calhar eles gostam mais de outra forma. Talvez prefiram continuar assim, uns fazem amor com os outros contra a vontade expessa destes e com recurso à coacção física, e a corrupcao para eles nao é um mal, mas uma "estranha forma de vida", como era o fado para a nossa Amália. Foi tudo uma ilusão...buhhh...uma ilusão...lembram-se como andávamos contentes em ter aqueles indiozinhos a comer-nos da mão? Acendiamos velas como se fosse para os mortos, com a diferença de que eles não estavam mortos (longe disso)? E quando pensávamos que o Banana Gusmoso era uma espécie de super-herói? Vai ser tão bom, não foi?
Pois é, mas eles "têm uma dívida connosco", não é mesmo? Ora, as dívidas pagam-se, é ou não é? Ou se não se pagam, ficam-se a dever "ad eternum" - obrigadinho, ó tansos, pagamos no dia de S. Nunca à tarde. Ainda há coisa de um ano deixei aqui em forma de "verbu divino"
este "post" sobre o que é "emprestadar" (leiam os três últimos: "o descarado", "a virgem ofendida" e "o investidor", que se inserem na descrição), e as desvantagens quando isso acontece. Mas pronto, não me dão ouvidos...ou não põem os olhos em cima, e depois é o que acontece. Mas também Jesus foi assim, quer dizer, Jesus, o fundador do Cristianismo. E voltando à introdução, sobre as diferenças que podem existir entre as mesmas orações em contextos distintos, é fácil acreditar em Jesus, mas é mais difícil "engolir" a ideia do "Menino Jesus", da estrela de Belém, dos pastorinhos e (especialmente esta) do Espírito Santo. Acreditando em boas intenções sem querer ser um pouquinho filho da puta de vez em quando, qualquer dia damos connosco a acreditar no Pai Natal. E por falar em Natal, pelo menos os magistrados portugueses vão poder passar a consoada em casa, uma vez que aparentemente para estes timorenses "não há pai" - nem Natal, nem nenhum outro.
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