O director do Jornal Tribuna de Macau, José Rocha Dinis, assina hoje
um editorial mais extenso que o habitual onde desmonta uma série (duas, para ser preciso) de imprecisões da tese de mestrado de Clara Gomes: “Freedom of the Portuguese Press during the transition period (1987-99) in Macau” para o “Centre for Mass Communications Research, University of Leicester”. Apesar de eu já lhe já ter chamado a atenção para a tese (numa perspectiva analítica, não se pense que fui fazer "queixinhas"), o director do JTM desvalorizou, aparentando até desconhecer o trabalho para o qual contribuíu com testemunhos na primeira pessoa, e que já foi publicado no milénio passado - em 2000, para ser mais preciso. Agora não se tratando de um romance policial ou de um filme do género "western", não há culpados, nem há bons, nem maus, portanto ninguém precisa de ficar incomodado com o que está lá publicado. No entanto JRD destaca uma passagem de linha e meia onde se diz que o "editor" (parte meio confusa) foi vítima de uma atentado onde "rebentam com o seu carro". JRD nega que tal tenha sucedido - e de facto Clara Gomes terá recebido aqui informação errada - e estabelece um paralelo com o caso do director da PJ, Marques Baptista, que foi vítima de um atentado semelhante em 1998; algo que Clara Gomes não menciona em qualquer parte da tese. Eu não sou de Leicester mas gostei de ler o trabalho, que providencia muitas explicações para algumas dúvidas que tinha até recentemente, e considero uma excelente tese de mestrado. Quanto aos que escutaram a apresentação em Leicester, é possível que tenham ficado mal impressionados com Macau.
Eu recomendo vivamente que leiam a tese da Clara Gomes
aqui, e tirem a vossas próprias conclusões; são apenas 39 páginas, e o essencial lê-se na vertical durante a hora do café. É apenas a partir da pág. 18 que as coisas começam a "aquecer", com a situação real da imprensa no território no período pré-transição, e testemunhos de alguns dos seus actores - alguns deles ainda por cá, outros nem por isso. Entre vários testemunhos de profissionais da imprensa e proprietários ou patrocinadores de jornais, e passando pelos subsídios e a subsídio-dependência, a auto-censura e a outra censura, o bizarro conceito de "jornalismo patriótico", os "bons portugueses" e a "guerra" pelos anúncios, há um pouco de tudo, e no fim é só retirar as devidas conclusões.
A minha foi muito simples: num país onde tanto nos orgulhamos da democracia, vimos para esta praça tão longínqua fazer tanta figura triste, tanto exercício de canalhice, tanta porcaria que ainda me leva a pensar que ser pulha é a rampa de lançamento para algo maior. Quando escolhemos o caminho da liberdade, juramos a pés juntos que é esse que queremos, e com a democracia como objectivo final, última paragem, e depois dizemos "alto lá, que não é bem assim!". Isso não é realismo, pragmatismo ou outro qualquer eufemismo para descrever o que simplesmente se chama "prostituição intelectual". Há quem considere que se vendeu barato, ou que ganhou muito com isso, mas passado todos estes anos desde o tempo em que decorre a acção da tese de Clara Gomes, pergunto-lhes se valeu mesmo a pena. Deixem-me responder também: claro que não. Diga o leitor de sua justiça.
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