domingo, 4 de maio de 2008

Legalize it


Cerca de 600 pessoas marcharam ontem em Lisboa pela liberalização da cannabis, também conhecida por marijuana. A produção e venda da cannabis é proibida, mas a sua posse e consumo foram descriminalizados em 2001. Como já me pronunciei a esse respeito, reproduzo aqui a opinião do Arcebispo da Cantuária, com a devida vénia:

Sou sem hesitação a favor da despenalização do cultivo de Cannabis para consumo próprio. Porque é uma planta e não vejo quem possa ter autoridade para me dizer que plantas posso ou não ter em casa (o que é diferente do que ter uma estufa para produção "industrial"), porque sei dos vários usos da planta, sob o ponto de vista dito lúdico ou os potenciais e reais usos medicinais diabolizados por algum extremismo paranóico e porque apesar de não ser vivo ao tempo da Guerra Colonial e por consequência muito menos à época dos descobrimentos, conheço as Campanhas do Canhamo para as fardas ou o material de que eram feitas as velas das caravelas.

Não é uma defesa do consumo, é uma defesa da liberdade individual (é uma planta, não envolve qualquer processo químico), da verdade do desperdício dos usos "não droga" das fibras, sementes e THC, contra a hipocrisia que me permite plantar tabaco que vai matar milhares mas não me deixa plantar uma planta que não mata. Da hipocrisia, que faz lei não ser crime possuir algo (erva, haxixe) que é proibido vender ou comprar mas não é ilegal ter. É que quem inventou esta lógica kafkiana, planta umas coisas em casa, de certeza.

Ou então... a única maneira que eu vejo de alguém possuir legalmente uma planta que não pode comprar e não se pode vender é... plantando-a.

17 comentários:

Anónimo disse...

Totalmente de acordo. Este mundo de hoje, que se julga civilizado, arroga-se o direito de mandar em nossa própria casa. Quem é incomodado dentro da sua propriedade por plantar seja o que for para consumo próprio, devia resolver a intrusão a tiro, que era para essa gentalha opressora que detém o poder se começar a meter na sua própria vida. Este mundo dito civilizado está a precisar é de uma revolução a sério, em que as pessoas se recusem a cumprir leis estúpidas. E não sou consumidor de drogas. Mas julgo ter uma coisa que os idiotas do poder há muito perderam: bom senso. Em minha casa mando eu. Quem nela quiser entrar à força para ver o que faço, arrisca-se a morrer. Já que têm o direito de me prender, que seja com um motivo.

Anónimo disse...

O austríaco que encarcerou e violou a própria filha durante 24 anos também pensava assim (lá em casa, mando eu e faço o que quiser).

Leocardo disse...

Comparar o cultivo da marijuana para consumo próprio com o caso do austríaco parece-me um pouco descabido. Só se a marijuana for uma Maria Joana e em vez de plantada seja violada.

Anónimo disse...

Não se admire, Leocardo. Esta gente que gosta de comandar a vontade dos outros, para defender as suas teses, não se importa de cair no absurdo com comparações destas.

Anónimo disse...

Absurdo é dizer que pode plantar tudo o que quiser dentro da sua propriedade, mesmo que seja ilegal. Se aceita como válido esse raciocínio, tem aí um bom ponto de partida para chegar a muitos abusos.

Anónimo disse...

Ó anónimo das 14.05: com certeza que aquilo que entende por "abuso" não é o mesmo que eu entendo. Devo ter o direito, sim, de fazer tudo o que me apetecer desde que não afecte mais ninguém com isso. Se plantar para vender, devo ser punido. Se plantar para consumir, ninguém tem de ter nada a ver com isso. Abuso é os outros quererem-me impingir coisas que só a mim dizem respeito.

Anónimo disse...

As proibições legais baseiam-se na ideia de que há condutas que prejudicam os outros e condutas que também prejudicam o seu autor. Tomar drogas é um dos exemplos típicos de um comportamento que afecta tanto o autor como terceiros. Logo, mesmo que o nenhum terceiro seja afectado, o autor continua a sê-lo (e, de uma forma ou outra, mais cedo ou mais tarde, a comunidade envolvente acaba sempre por ser afectada).
Além do mais, se as pessoas pudessem produzir drogas em casa, seria muito difícil verificar se as limitavam ao consumo próprio ou se as partilhavam com terceiros, de borla ou com intuitos lucrativos.
Questão diferente é saber se a droga A ou B prejudica mesmo a saúde. Se não prejudica, então o problema não se deveria colocar. No caso da marijuana, não há unanimidade entre os especialistas sobre os seus efeitos para a saúde humana.

Anónimo disse...

Espero que não goste então de bebidas alcoólicas ou de fumar cigarros porque, pela sua lógica, devia ser impedido também de beber ou fumar, mesmo dentro de sua casa, não fosse partilhar o copo ou o cigarro com terceiros ou mesmo vender-lhes o produto.

Anónimo disse...

O consumo de bebidas alcoólicas e de cigarros não é ilegal, pelo que o problema não se põe. Põe-se em relação às drogas.
Alguém disse aqui que devia poder cultivar drogas em casa, desde que fossem apenas para consumo próprio. Daí o meu argumento.
Percebeu ou é preciso fazer-lhe um desenho?

Anónimo disse...

É melhor fazer-me um desenho, é, porque até que alguém me explique por que motivo drogas de efeitos parecidos têm tratamento diferente, só posso concluir que os legisladores não passam de um bando de idiotas. Independentemente da lei (feita, aliás, por uns palermas quaisquer totalmente desprovidos de bom senso), é tudo a mesma coisa, embora os tais palermas consigam convencer muita gente das diferenças que (não) existem.

Anónimo disse...

É verdade que há muitos legisladores idiotas, mas ainda bem que pessoas como você não são legisladores.

Anónimo disse...

Claro, ainda bem, que a liberdade de cada um decidir a sua vida ainda incomoda muita gente.

Anónimo disse...

A liberdade de cada um termina onde começa a liberdade dos outros, certo? Se quer fazer tudo o que lhe dá na real gana, então isole-se, vá viver para as Berlengas.

Anónimo disse...

Há uma coisa que realmente você não consegue perceber: eu já moro nas Berlengas (a minha casa, para mim, é isso, as minhas Berlengas). Desde que não faça nada que incomode os meus vizinhos, como barulho, por exemplo, ninguém tem nada a ver com o que faço ou deixo de fazer. A minha liberdade acaba onde começa a dos outros, precisamente! E explique-me lá, se faz favor (coisa que, obviamente, não consegue fazer), em que é que uma planta que eu queira plantar em minha casa interfere na sua liberdade. O seu sonho quando era pequenino era ser pide, não? E entretanto, nunca mais se conseguiu libertar desse fantasma.

Anónimo disse...

O austríaco também fazia tudo nas suas Berlengas e não incomodava os vizinhos. Tanto que eles nunca descobriram nada em 24 anos.
Mas faça como quiser. Como deve compreender, só estou a tentar contribuir para um debate de ideias. Se você se quer drogar, o risco é seu. A mim não me aquece nem me arrefece, até porque não tenho aspirações a pide nem a polícia, se é isso que o incomoda.

Anónimo disse...

Por acaso nem fumo disso. Mas, por pura coincidência, algumas das melhores pessoas que conheço até fumam, enquanto que alguns dos maiores crápulas que já me apareceram pela frente são muito "limpinhos", não fumam nem bebem. Daí posso deduzir que não é o fumar ou não fumar que forma o carácter de uma pessoa e que, em vez de haver uma lei contra a droga, devia era haver uma lei contra o mau carácter. Comparar o fumar um "charro" com uma violação ou com o encarceramento de pessoas é que me parece grave, pois se para si isso é tudo igual, espero que nunca se lembre de fumar, porque no dia em que por qualquer motivo isso acontecer, vai sentir que, pecadinho por pecadinho, a seguir pode violar alguém, já que é mais ou menos a mesma coisa.

Anónimo disse...

Não estou a comparar. Estou é a criticar o conceito de que podemos fazer tudo o que quisermos intra-muros, desde que não incomodemos os vizinhos. Se dá esse conceito como bom, abre as portas a muita coisa.
As regras de uma sociedade não podem ser diferentes dentro e fora das nossas casas. Há coisas que podemos e devemos fazer apenas na privacidade do nosso lar, mas por questões de pudor, etc., não porque as nossas casas devam ser um espaço onde a lei não entra.