As eleições vistas de Macau

Albano Martins e José Miguel Encarnação trocam pontos de vista.

A TDM acabou de transmitir um debate sobre as eleições legislativas do próximo Domingo, e convidou quatro ilustres residentes do território: António Katchi, professor do IPM ligado ao POUS, o advogado António Baguinho, do PSD, o economista Albano Martins, do PS, e o jornalista d'"O Clarim", José Miguel Encarnação, que fez furor ao candidatar-se pelo círculo fora da Europa pelo Partido Nacional Renovador (PNR), um partido assumidamente de extrema-direita.

O debate esteve morno enquanto se falou da situação económica do país, e aqueceu quando José Miguel Encarnação começou a falar do PNR. Pareceu-me que o JME meteu um pouco os pés pelas mãos, ao tentar justificar - branquear até - algumas posições mais xenófobas do partido que apoia, e das quais o próprio JME diz demarcar-se. Como faltava neste debate uma personagem do calibre de José Manuel Coelho, o "Tiririca" da Madeira, a discussão pautou-se pela moderação.

Albano Martins e JME chegaram a ter um tête-a-tête interessante, e mais tarde Katchi analisou calmamente alguns pontos do programa do PNR. Digamos que o programa deste partido é assim uma espécie de livro de regras de algum clube privado (saída da NATO, expulsão dos alunos problemáticos do ensino público, regresso do serviço militar obrigatório, etc. As soluções que apresenta para o país são completamente piadéticas.

Gosto muito do JME como jornalista e como pessoa, mas incomoda-me que misture o bem que diz querer fazer pelos portugueses de Macau em particular e pelos portugueses fora da Europa em geral com a sua candidatura pelo PNR. É hipócrita e caricato que um partido xenófobo se candidate a um círculo da emigração. Não me convencem que são a favor dos imigrantes bonzinhos e produtivos. No fim JME aproveitou para fazer campanha, de olho na câmara e dedo a bater na mesa, e diz que "não se importa de ser criticado". Ainda bem.

Já António Katchi, e apesar da retórica nitidamente socialista, não se pautou pelo discurso do seu partido. O POUS - Partido Operário de Unidade Socialista - é um partido estranho liderado há anos pela "camarada" Carmelinda Pereira, conhecida por distribuir panfletos às portas das fábricas. Katchi passou apenas por comentador político competente. A fricção entre os apoiantes do PSD e do PS nunca chegou a acontecer realmente, apesar de António Baguinho e Albano Martins se colocarem cada um do lado das barreiras. O debate foi moderado por Jorge Silva, e foi uma boa ideia. Pena que tenha sido tão tarde; não podiam dar isto em vez da novela? Só hoje?