Considero que tem sido feito um ataque algo exagerado ao sector pró-democracia em Macau. Além dos ataques em jeito de encomenda, e outros que se baseam em discursos puramente políticos, como os que acusam os democratas de não apresentar soluções, ou manter um discurso considerado xenófobo.
Ontem ouvi naquele programa da Rádio Macau o jornalista e meu amigo Jorge Silva a afirmar que “prefere ser governado por este elenco do que pelos democratas”, e de que “estes democratas”, como alguém o ajudou a acrescentar, têm um discurso “perigosos e demagogo”. Perigoso, depende da opinião, demagogo, talvez, mas para “governar”? Nunca.
Ainda não sei se muita gente percebeu que os democratas não querem o sufrágio directo e universal para a eleição de toda a AL e do Chefe de Executivo para se candidatarem. A última coisa que lhes passa pela cabeça é governar. Este é o papel deles: agitar. É lógico que sendo Macau e Hong Kong regiões administrativas especiais da RP China, a nomenclatura em Pequim nunca iria aceitar um candidato vindo de um sector que se opõe abertamente ao regime.
E os resultados estão à vista, pois para a azia de muito boa gente, os democratas aumentam a votação a cada eleição que passa, independentemente dos resultados espectaculares da economia ou do nível de satisfação da população. E a música era outra, se uma grande fatia do eleitorado não fosse pressionada para votar nos representantes do seu patronato, com medo de perder o emprego.
Se há coisa que eu respeito acima de tudo numa sociedade democrática, é o voto popular como forma de concretização da vontade da população. Eu também “gosto muito” de viver na RAEM, mas sem condições. O que é bom para a maioria da população – e não falo pela “esmagadora maioria” que consiste sempre nos mesmos – é bom para mim.
Isto tudo porque os democratas são uma peça indispensável da engrenagem do princípio “um país, dois sistemas”. Se não existisse a mínima objecção ao primeiro sistema, nunca haveria a necessidade de criar um segundo. É uma desonestidade intelectual assumir que os democratas querem prejudicar o território, passar uma imagem negativa para o exterior ou derrubar o poder.
Para quem a vida corre às mil maravilhas, obviamente que não lhe interessa muitas ondas, ou que se mexa muito no estado de coisas. Mas desse lado estão os empresários que lucram milhões por ano, fomentam a especulação imobiliária que leva a que muitos jovens não consigam adquirir a primeira habitação, e que pagam salários na ordem das sete mil patacas e acham que “chega e sobra”.
Era o que faltava deixar essa gente fazer o que quer e ir por aí fora cantando e rindo em nome da “estabilidade” que dizem ser a única coisa em que a população está interessada. É importante criticar o que está mal, e dar ouvidos aos anseios das gentes de Macau. O que está bem feito pode ficar, não precisa de ser mudado.
Se querem ou não sair para a rua no dia 20 de Dezembro e exercitar a tal "política do trombone" de que tanto se fala, posso também não concordar, que a ocasião é sobretudo festiva. Mas isso não significa que não tenham o direito de o fazer. Mesmo que seja apenas pela coerência, que é um valor que muitos dos seus críticos desconhecem.
10 comentários:
Para nossa vergonha, há muitos portugueses em Macau que não gostam dos pró-democratas, nem querem a democracia no território, pela simples razão de recearem que o sucesso das ideias destes possa significar a perda dos privilégios e da vida fácil que sempre aqui tiveram. Preferem viver à sombra do poder (da bananeira), mesmo que seja um poder incompetente e corrupto, desde que lhes vão chegando as bananas.
Não temos que pensar todos da mesma maneira, mas uma coisa é divergir das ideias ou dos métodos e outra é estar contra apenas por oportunismo ou servilismo. O Jorge Silva esteve à Rocha Dinis com esse comentário. Esperava mais dele.
viva vitnho, viva timor!
O problema é quando os democratas se esquecem da democracia e, por mais uma mão cheia de votos, enveredam pelo populismo fácil e pela demagogia.
Não é mentira nenhuma que estes "democratas" são xenófobos. Basta ouvi-los com atenção. A mim não me agrada a ideia da democracia em Macau, mas não é por ter medo de deixar de ser um privilegiado, porque ao contrário da maioria dos portugueses por cá, não tenho privilégios nenhuns, a não ser aqueles que decorrem das minhas funções, mas que são menos que as obrigações, e são os mesmos que tem qualquer meu colega chinês. A única coisa que quero é continuar a ser tratado de forma igual que os chineses. E tenho sérias dúvidas que isso aconteça quando o Chefe do Executivo for eleito universalmente. E é verdade que há outras nacionalidades que em Macau não são bem tratadas mas, pelo que ouço destes democratas, até para esses vai ser pior a democracia.
Eles entram muitas vezes nesse discurso fácil do populismo e de alguma xenofobia, que não lhes fica nada bem, mas é também por travarem uma luta desigual contra o poder e precisarem desesperadamente de captar um eleitorado que ainda está pouco virado para as lutas políticas.
Muito bem dito, anónimo das 01:18.
Anónimo das 1:18, estou também plenamente de acordo consigo.
Enquanto verdadeiros democratas NUNCA deviam entrar por esses caminhos! São demagogos, xenófobos, põe em risco a economia de Macau, afastam trabalhadores de qualidade, que Macau bem precisa! Isso não é ser democrático é ser retrógrado! Nenhum democrata em qualquer parte do mundo (nomeadamente em Hong Kong, onde há política a sério!)entra pelos caminhos que estes "democratas" entram! Estes pseudó-políticos são uma vergonha para qualquer democrata!
O anónimo das 2:28 está a ser reducionista. Vi esse tipo de acusações contra eles na AL e em certa imprensa, por exemplo, quando levantavam suspeições contra o Ao Man Long e certas obras públicas, concessões de terrenos e empreitadas. Afinal, estavam cobertos de razão e, se pecaram nessas questões, foi por defeito, não foi por excesso.
Quanto ao trabalhadores de qualidade estrangeiros que são prejudicados pelo discurso dos pró-democratas, isso talvez não acontecesse se os grandes empresários não utilizassem certos esquemas na contratação de mão-de-obra estrangeira, preterindo gente da terra que quer e pode trabalhar (e também há os vadios e os não qualificados, como em todo o lado), em favor de mainlanders e outros, só por estes serem mais baratos e mais vulneráveis. Depois, acaba por pagar o justo pelo pecador.
A população de Macau é quem mais sofre com os males deste crescimento desenfreado e desregrado. Logo, é mais do que justo que também seja a população de Macau, em geral, a sua principal beneficiária.
Os pró-democratas podem cometer muitos erros, mas imaginem o que seria a governação de Macau sem essas vozes incómodas a tentarem fiscalizar a coisa pública. Se, mesmo com eles, já é o que é...
Querer não é poder. Levou-me a vir ler atentamente este texto. Mas quero lembrar que há o QUERER É PODER. É o que acontece na Agencia Lusa cá na terra. Pela enésima vez lá vai aquele lambe-cus do Costa Santos ao escritório do advogado Neto Valente para recolher o que o senhor quer dizer.
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