quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Parabéns, RPC!


Passam hoje 59 anos desde que Mao Zedong anunciou da Praça Tiananmen a fundação da República Popular da China. Para choque do mundo, sorrisos de Leste e desespero do Ocidente, que via uma das maiores civilizações da Terra cair aos pés do comunismo. Os anos seguintes foram de afirmação; participação na guerra da Coreia, anexação do Tibete e definição das fronteiras. Na milenar China vivia-se um ambiente de euforia, depois de várias décadas de humilhação à mão de potências estrangeiras, as sangrentas invasões japonesas e séculos de guerras que levaram à cisão do país do meio em vários impérios. Seguiram-se as grandes fomes dos anos 50, e a Revolução Cultural, que levou a grande nação chinesa a um retrocesso sem precedentes, e ao isolamento e ainda mais fome.

A morte de Mao em 1976 e a sua eventual sucessão por Deng Xiaoping deram início a um conjunto de reformas que, adoptando os princípios da economia de mercado, que levam hoje a China a ser a terceira economia mundial. Em retrospectiva, a liderança chinesa na última década tem implementado as reformas necessárias que fizeram o país mais populoso do mundo "apanhar o comboio" do progresso e do desenvolvimento sustentado, que culminaram na organização dos Jogos Olímpicos este ano, e o início de um programa espacial ainda há alguns anos impensável.

Os problemas são ainda muitos e difíceis de resolver, a começar pelos estruturais. A corrupção é ainda endémica, a pobreza no interior é um facto, a poluição fora de controlo, e a recente crise do leite trouxe de volta a discussão daquele que é um problema difícil de ignorar na "maior fábrica do mundo": o controlo de qualidade. Ou neste caso, a falta dele.

As questões dos direitos humanos, da liberdade de imprensa ou os índices de democracia pura e dura ainda longe dos parâmetros ocidentais parecem ser questões secundárias para a actual nomenclatura, que é acusada de se querer perpetuar no poder. A direcção parece ser, no entanto, apenas uma, e para a frente. O esforço tem sido verdadeiramente estóico para melhorar dia a dia a vida da população, da China "real", e a máquina da diplomacia está mais oleada que nunca. Existe hoje uma classe média significativa, uma juventude proactiva, e muita, muita riqueza. Para quem não quer aceitar o tal socialismo de mercado de características chinesas tem apenas uma opção, que passa por achar que a China "não interessa". E quem se atreve?

Nós aqui deste lado, das regiões administrativas especiais inseridas no princípio de "um país, dois sistemas" tudo bem. Com as suas habituais dores de crescimento, fruto de alguma falta de experiência dos seus líderes, pode dizer-se que o segundo sistema tem funcionado sem uma interferência de fundo do poder central. Olhando para trás devemos congratular-nos por pertencer a esta imensa China direcionada para o futuro, e não à outra, que realmente não daria garantias do bem-estar da sua população. Quanto ao futuro propriamente dito, só quero acreditar que seja risonho. Quem não gosta de acreditar que assim será?

7 comentários:

Anónimo disse...

Uma coisa é certa: quer o Ocidente goste quer não, a classe média na China tem-se vindo a fortalecer; ao invés, em muitos países democráticos do Ocidente (quer gostem quer não, Portugal é um excelente exemplo), a classe média está a empobrecer a olhos vistos. A realidade é esta, o resto é conversa.

Anónimo disse...

Sem dúvida, apesar dos problemas existentes, a China é de facto uma grande nação. E quanto à economia, nem digo nada... simply awesome!

:)

Anónimo disse...

A classe média urbana era uma coisa inexistente na china há 30 anos atras.
E com crescimentos da economia na ordem dos 10% ao ano, concerteza que a classe media fortalece-se e que muita gente passa da classe indigente para a classe media.
no ocidente ja existe classe media ha decadas, os indigentes e camponeses sao uma minoria.
Ao contrario da china que ainda tem 70% da sua populaçao constituida por camponeses.
nao compare aquilo que nao pode ser comparavel.

Anónimo disse...

Não é comparável? Porquê? Claro que no Ocidente seria difícil a classe média fortalecer-se, pelas razões que aponta. Mas o que não havia era necessidade de empobrecer. Isso só mostra que o Ocidente está a andar para trás.

Anónimo disse...

se uns enriquecem, outros empobrecem.

é a lei da vida

Anónimo disse...

Não é a lei da vida, é a lei do capitalismo selvagem.

Anónimo disse...

pois é, nao era assim quando nao havia industria na china, eram todos camponeses a trabalhar em unidades colectivas, enquanto a classe media do ocidente era a unica que produzia bens industriais para serem vendidos em todo o mundo.
esses tempos acabaram, meu caro, acorde para o seculo xxi.