sábado, 30 de novembro de 2013

Faz frio no Paraíso


Que dias maravilhosos temos tido em Macau. Depois da chuva e do tempo cinzento no fim-de-semana do Grande Prémio entrámos na época do ano em que o clima atinge o seu ponto de rebuçado. Cai a temperatura, desce a humidade, o solzinho anda por aí, que deleite! O Verão abafado, chuvoso e pegajoso já lá vai, o ar-condicionado fica desligado, voltamos a sentir o ar puro e fresco. Pele seca? Mou man tai, comprem um creme. Cieiro? Ora, já inventaram um baton para isso há séculos, não sabiam? Prefiro mil vezes hidratar artificialmente a pele do que ter o suor a escorrer-me pela cara, com a horta toda empadada lá em baixo, e manchas de sal na roupa. Viva o Outuno de Macau. Que saudades.

É nesta altura que regressam ao território os aposentados que dividem o que lhes resta do seu tempo entre Portugal e Macau. Em Maio partem do Macau do calor para o Portugal em flor, ficam até ao fim do Verão ameno e voltam ao Oriente antes que o velho Inverno os brinde com a sua chuva, vento e neve nas terras altas. Que inveja tenho deles e da sua vida climatizada. De Abril ou Maio até Setembro ou Outubro em Portugal, e no resto do ano em Macau. Quem disse que é impossível atingir a perfeição?

Como dá gosto descer as escadas de manhã, abrir a porta e sentir aquele ar frio e seco, ao mesmo tempo que o sol ilumina o pátio onde moro. Um sorriso depois, respiro fundo,e já com os óculos escuros vou caminhando pela cidade velha, pela Rua da Tercena até à Rua dos Mercadores, passando pela Rua dos Ervanários. A luz do astro-rei dá um outro encanto às casas velhas, que podemos apreciar com calma sem o enfadonho peso da humidade nos ombros. Até a Rua da Palha, esse lugar sitiado onde é quase impossível circular, tem a sua elegância, pelo menos de manhã cedo, quando há menos turistas.

O que não consigo entender muito bem é a reacção da população à mudança de temperatura. O termómetro baixou meia dúzia de graus entre Domingo e segunda, e toca a tirar do armário as botas, os casacos, os cachecóis, os gorros, as luvas. Os mais vaidosos aproveitam logo para exibir o seu novo guarda-roupa Outono/Inverno, e em alguns casos fico a pensar que o foram comprar na Sibéria. Desde quando é que uma mínima de quinze graus e uma máxima de vinte é razão para tanto alarido? Estão com medo de se constipar, os bebés?

Este tempo fresquinho faz-me lembrar as noites de verão em Portugal, quando arrefecia depois de um dia de 40º à sombra, mas bastava apenas um casaquinho leve ou uma camisola para resolver o problema. Para esta gente é pretexto para se vestirem de esquimó: as mulheres com meias de malha grossa e botas de cano alto, os homens com aqueles casacos que mais parecem coletes salva-vidas. Se com este tempo fresquinho é assim, em Janeiro e Fevereiro, quando a temperatura cair para menos de dez graus, vão morar para um iglo e comer peixe cru que apanham de um buraco serrado no chão.

Ainda se compreende que os filipinos e os indonésios tenham mais problemas em adaptar-se ao frio, pois vêm de países onde nunca faz menos de vinte graus, mas vós, gente de fibra nascida na imprevisível Àsia das Monções? Deviam saber tratar o frio por tu, já que se adaptaram tão bem àquele calor insuportável que em 20 anos ainda me causa dissabores. Deixem-se lá de mariquices, pá. Tirem lá os adornos, vão até à beira-mar e gozem aquele ventinho que corta à faca, como se estivessem a testar o chassis num túnel de vento. Aproveitem as contas luz mais baratas. Garanto que em Julho e Agosto vão ter saudades.

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