domingo, 19 de maio de 2013

Fome e vingança


1) A World Vision organizou hoje no território mais uma recolha de fundos para as vítimas da fome no terceiro mundo, que incluíu ainda uma simbólica greve de fome de dez horas. Macau é um território que tem a sorte de ignorar por completo o que é o flagelo da fome e da malnutrição de que sofrem e morrem diariamente milhares de pessoas em todo o mundo, na sua maioria crianças. Aqui a expressão "tenho fome" é normalmente utilizada três horas depois da última refeição, e seguida pelo consumo de um "min" na tasca mais próxima. A isto chama-se "larica". Fome propriamente dita não sabemos o que é, e contam-se pelos dedos os residentes mais pobres que vão para a cama sem jantar. Não podendo ir pessoalmente aos locais distantes onde há fome daquela a valer, da que mata, nada nos resta senão contribuir com dinheiro para as associações que lá chegam. Infelizmente as contribuições pecuniárias esbarram com a corrupção declarada que existe nesses países. Depois de se "abotoarem" com a sua parte, os oficiais corruptos permitem que chegue apenas uma pequena fracção dos donativos cheguem às populações necessitadas. A World Vision diz que faz chegar comida à mesa de 50 mil crianças todos os dias. Podiam ser muitas mais, não fosse pela ganância e a falta de escrúpulos de quem transforma a fome num negócio, e continua a lucrar com a miséria alheia. Mesmo assim um grande bem haja para a World Vision, uma associação humanitáia em que ainda se pode confiar. Sem eles seria pior, certamente.

2) Foi com enorme satisfação que assisti a manifestações de solidariedade por parte de um grupo de trabalhadores taiwaneses para com os seus colegas Filipinos. A recente crise despoletada pela morte de um pescador taiwanês, abatido pela polícia maritima Filipina, leva a que os emigrantes deste país que trabalham na ilha nacionalista vivam com medo de represálias. É mais que sabido que as Filipinas são um país pobre que sofre de problemas estruturais graves, e que as suas autoridades são mal equipadas e mal preparadas. O que não há necessidade é de fazer os trabalhadores que nada têm a ver com isto pagar pelo erro. É preciso separar as águas e no tomar a árvore pela floresta; os Filipinos que lhes limpam as casas, que tomam conta dos seus filhos, dos idosos, que lhes servem à mesa não devem pagar pela decisão infeliz de um compatriota seu lá no meio do mar do sul da China. A História já demonstrou vezes demais que o ódio xenófobo pode produzir resultados desastrosos. Taiwan tem todo o interesse em demonstrar a sua autonomia através da diplomacia, e não tem muita margem para sacrificar e fazer inimigos. Esta atitude retaliatória e vingativa não lhes fica nada bem.

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