quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Cortina de fumo


Está aí mais um capítulo da eterna guerra entre os fumadores e os seus arqui-inimigos proibicionistas. A nova lei anti-tabagismo está na forja, e caso o actual esboço venha a ser aprovado, será proibido fumar em quase tudo o que é sítio, menos em casa. Quando as posições se extremam, nada como ser um ex-fumador e ficar no meio de dois fogos, e perceber ambos os lados deste argumento que parece nunca mais ter fim.

Em primeiro lugar, os não-fumadores têm todo o direito a respirar um ar limpo, e sem fumo. Os fumadores, inebriados pela dependência desse poderoso alcalóide que dá pelo nome de nicotina, acham-se no direito ao seu espaço. Só que uma vez que está mais que provado que o tabaco é prejudicial à saúde e uma das principais causas de morte prematura, os não-fumadores têm o também direito de impôr as suas regras em lugares partilhados por ambos. Só que me parece um pouco exagerado que se proíba fumar na praia, por exemplo. Quando era fumador, um dos meus maiores prazeres era exactamente esse: fumar na praia.

Na AL a lei anti-tabagista encontra uma oposição feroz: os empresários, nomeadamente os dos sectores da restauração e do jogo, e os próprios fumadores. É preciso não esquecer que recentemente o sempre divertido deputado Fong Chi Keong afirmou que fumar é "um prazer", que fuma há 40 anos e que "conversa com o cigarro". O pauzinho fumegante faz-lhe companhia, portanto. O deputado Ung Choi Kun levantou a questão do fumo nos casinos. Segundo o deputado da Associação dos Cidadãos Unidos de Macau, os casinos "não são aeroportos" para que se criem zonas de fumadores e não fumadores. Os jogadores estão lá para jogar, não para esperar.

É normal que as posições se radicalizem; quem fuma quer um lugar onde possa fumar, e quem não fuma não quer o cigarro entranhado na roupa, no cabelo e nos pulmões. Esta situação torna-se numa espécie de apartheid tabagístico, com alguma hipocrisia à mistura. Ninguém inclui uma ida a um bar, discoteca, sauna ou casino na sua lista de "actividades saudáveis ao ar livre", e o melhor mesmo seria quem não fuma e não gosta de ser incomodado pelo fumo dos outros evite frequentar locais onde é habitual que se concentrem os fumadores. Será que apanhar uma bebedeira de paralisar os neurónios faz menos mal que fumar meia dúzia de cigarros?

O caso da restauração é interessante. Se os fumadores começarem a comer em casa por falta de um local onde possam cultivar o vício, isso é mau para o negócio. Quanto aos casinos, parece que muita gente está de acordo que jogador crónico é sinónimo de fumador crónico. Uma das coisas que mais me impressionou a primeira vez que visitei o velhinho Casino Lisboa foi a quantidade de idosas que dão passas enquanto se divertem nas slots, e os borrões de cigarro na alcatifa vermelha. Quando "o cliente tem sempre razão", torna-se complicado exigir a quem está disposto a deixar milhões em receitas que apague o cigarrinho.

Quem não parece concordar são os croupiers e outros funcionários dos casinos, que aparentemente constituem uma maioria de não-fumadores, e que não estão dispostos a levar com o fumo passivo e os consequentes prejuízos para a saúde, que segundo algumas cabecinhas pensadoras, é como o aquecimento global: não estão provados. Ficamos assim com uma pescadinha de rabo na boca. Se fumam é mau para quem trabalha e quer viver com qualidade, se não fumam é mau para o negócio. Aliás é esta dialética a causa de tanto laxismo e a razão porque não temos uma lei deste tipo aprovada há mais tempo, à medida de outros países e territórios da região. Macau é "uma terra de vícios" na acepção do termo.

De resto há pontos que são absolutamente indiscutíveis. Não se deve fumar em edifícios públicos, aviões, escolas, museus, hospitais, creches, recintos desportivos e locais fechados em geral. Contudo defendo que devem existir espaços reservados a fumadores em aeroportos, hotéis ou outros locais a quem ninguém deve ter o acesso vedado pelo facto de ser fumador. Mas exigir mais que isso, é irrealista. Os fumadores não têm direito a exigir que se providenciem locais onde possam fumar onde eles não existem. Sabe o que é mesmo o ideal? Que deixe de fumar. Nem imagina as vantagens. Mas isto é só uma recomendação...

16 comentários:

Anónimo disse...

Repito o que já aqui disse: em Portugal a lei hipócrita permite que se continue a fumar em casinos. Lá está, porque aí é que ia mesmo dar cabo do negócio, que os jogadores não cedem tão facilmente como os frequentadores de bares. Quero ver em Macau. Vão-se armar em durões em todo o lado excepto... claro, nos casinos. Isto não são princípios, é pura hipocrisia. Essa da proibição na praia tem também muita piada. Mas em Macau nem me aquece nem me arrefece, que não ponho os pés na praia, uma vez que não há uma única digna do nome. Finalmente, quanto a bares e discotecas, seria preferível que primeiro aprovassem uma lei que proibisse de vomitar nas casas de banho, porque podem ter a certeza os alcoólicos incontinentes que me incomoda muito mais o cheiro do vomitado deles do que o meu fumo alguma vez os poderá incomodar.

Anónimo disse...

Um pouco mais de civismo resolvia o problema em vez de fazer leis parvas quem nem crianças da escola primária sob os efeitos do xarope para a tosse se lembravam. Os fumadores têm direito de fumar onde quiserem, desde que não incomodem os outros. Quando incomodam alguém, não têm direito de fumar. Vão fazê-lo para casa. Outra coisa que não percebo é como há tanta gente que fuma enquanto conduz, às vezes tirando as mãos do volante para acender um cigarro. Não aguentam dez minutos sem fumar? É isso?

Anónimo disse...

È que tou mesmo a ver os gajos das seitas de macau a entrarem num restaurante e o empregado da mesa a avisar aos gajos para nao fumarem eheh,vai ser o bom e o bonito.

Anónimo disse...

Parece-me que estamos perante uma lei radical desadequada a Macau. Esta terra é uma terra de vícios, não é suposto ser o país das maravilhas.

Imaginem só como a turistada que vem da China interior respeitar esta lei...agora é que a moina vai facturar.

AA

Anónimo disse...

na praia e' que nao seu porco
ali n tem cinzeiros

António Manuel Fontes Cambeta disse...

Estimado Amigo Leocardo,
Sempre acompanho os seus belos e adoro a forma como aborda os problemas.
Como o seu blog é em português e aceita todo o tipo de comentários, postados por anónimos, criam-se uma atmosfera de polémica e intriguices que nada contribuem para resolver as questões.
Em meu parco blog publiquei um vasto artigo sobre o tabagismo.
É lógico que Macau tem as suas pecularidades, mas vejamos o que se passa na Tailandia, Singapura e até Hong Kong sobre as leis de proibição de fumar.
A Tailândia nesse campo é o país mais exigente, até nos jardins existem zonas próprias para fumadores, em todos os recintos cobertos é proibido fumar e está o problema resolvido, quando se entra numa democracia em debates onde se fala muito e pouco se faz, entáo é difícil chegar-se a um conseço.
Eu sou fumador à mais de 50 anos, mas concordo perfeitamente que seja proibido fumar em todos os locais com recintos fechados.
Em Hong Kong até nas paragens de autocarros onde existe algum ajutamento de pessoas é igualmente proibido fumar.
Em muitos casinos de Macau, existem zonas de jogo para fumadores, se não sabiam fiquem a saber.
Li num dos jornais de Macau que o deputado Pereira Coutinho presidente honorário da Associação antitabagismo é favoral que se criem zonas para fumadores nos restaurantes de Macau, e vai mais longe, que o Governo contribua financeiramente para que os proprietários dos restaurantes possam criar essa zonas, e mais, que o Governo contribua monetáriamente para ajudar todos os propreitários da restauração que adiram ao programa da restauração sem fumo, afim de aliviar os prejuízs de falta de clientela, é de bradar aos céus.
Quem fuma, sempre fumará, se o náo poder fazer nas zonas proibidas o fará noutros locais onde náo prejudique a saúde dos outros.
Aprendam meus senhores.
Na Tailândia até nos locais onde se vende o tabaco, os maços não estão à vista das pessoas.
O tabaco faz mal à saúde devia haver sim leis que proibissem não só o seu consumo, mas igualemnte a proibição da sua venda, mas isso irá causar prejuízos de bilióes de dolares.
Afinal se o consumo de tabaco faz mal à saúde, por razão não é eliminado de uma vez para sempre.
Deixemos de ser hipócritas, e sejamos realistas.
Um fumador que sabe os males que o tabaco faz, só fuma quem quer é bem verdade, mas tem que ter em atenção a saúde dos outros.
Um abraço amigo

Anónimo disse...

Como este blogueiro de fim de tarde não tem argumentos para argumentar na própria posta relativa ao aquecimento global vem para esta aqui enviar o remoque. Tudo bem, não se leva a mal. Já se percebeu que não tem argumentos ou capacidade para mais.

Anónimo disse...

Não sei a quem se refere o anónimo das 22.04 horas quando se refre ao bloqueiro de fim da tarde.
Argumentos existe, e muitos, mas para muitas pessoas, cuja capacidade de raciocinio está somente na nicotina, para esse o argumento é um fumo que se vai desanuviando, são tal deputada chamado palhaço a um colega no parlamento.
Fumos de parvos sobem aos céus.
Macau é assim já quem não quiser suportar estas coisas que vá lá para o jardim à beira mar mal plantado, já que a árvore das patacas para esses jardineiros de meia tigela já deu o que tinha a dar.
Politiqueiros de merda....

Anónimo disse...

"na praia e' que nao seu porco
ali n tem cinzeiros" (sic). Por este comentário se vê quem é o porco, que nem lhe passa pela cabeça que podemos nós próprios arranjar o nosso cinzeiro e levar as beatas para o lixo quando sairmos da praia. Pelo teor do comentário, está-se mesmo a ver que este, se desembrulhar uma sandes na praia e não houver caixote ali à mão, atira o papel para a areia. Isto, aliás, prova que as prioridades estão todas erradas. Antes de se preocuparem tanto com o tabaco, deviam era começar por ser rigorosos com os porcos que atiram todo o tipo de lixo para o chão (sejam eles fumadores ou não).

Anónimo disse...

Anónimo das 23:52, referia-me ao leocardo no seu remoque sobre o aquecimento global aqui enfiado e de ele não ter tido argumentos para o que foi dito na posta dele sobre a matéria. Não me referia a argumentos sobre os malefícios do tabaco. Sou fumador, sei dos malefícios que causa, a mim e aos não fumadores, e concordo que os não fumadores não devem ser obrigados a levar com o fumo dos outros. Por isso evito fumar quando estou acompanhado de não fumadores.

Anónimo disse...

Eu sempre tentei ter respeito pelos que não fumavam. Sempre, isto é, até há coisa de dois anos, quando percebi que já ninguém tinha respeito por mim, como fumador; quando percebi que o que passou a haver foi uma onda fundamentalista que não pretende apenas proteger os que não fumam mas, mais do que isso, pretende perseguir os que fumam; quando se chegou ao cúmulo de, depois de uma viagem de avião de doze horas, chegar a aeroportos onde já nem existiam as "gaiolas" de vidro para os fumadores ("gaiolas" onde, convém não esquecer, mais ninguém era obrigado a entrar e, portanto, não faziam mal a mais ninguém) e onde nem nos terraços (ao ar livre) se permite fumar; quando reservei quartos em hotéis que não me avisaram que não tinham um único sítio onde se pudesse fumar, e só fiquei a saber depois de já ter pago. Foi aí que passei a fumar ostensivamente nos locais onde ainda posso fumar. E quem quiser que se desvie. Quem quer ser respeitado, também tem de respeitar. E eu deixei apenas de respeitar quando mo fizeram a mim primeiro.

Leocardo disse...

Anónimo das 22:04 e 2:03 : blogueiro de fim da tarde e com muito orgulho. Como já disse trezentas vezes, mas lá vai mais uma ó alminha da compreensão lenta, não consulto, escrevo ou respondo a comentários no blogue durante o meu horário de trabalho.

Quanto ao ponto que refere, sobre o aquecimento global, mantenho tudo o que disse e não mexo uma vírgula. Os argumentos são os que estão no post e depois cada um é livre de discordar, concordar, ou acrescentar o que quiser. Era o que faltava responder detalhadamente a cada um dos comentários.

Cumprimentos.

Anónimo disse...

Leocardo de compreensão lerda, mas alguém lhe pediu para vir responder seja o que for durante o seu horário de trabalho? Simplesmente se constatou um facto mas não se lhe pediu opinião. Você é perfeitamente livre de acreditar em quem quiser e nos dados forjados que quiser.

Anónimo disse...

Deixei de fumar ira fazer 1 ano em Janeiro....claro que me sinto melhor, embora tenha engordado...enfim...nada que com ginastica nao se resolva.....mas revolta-me este fundamentalismo enorme contra os fumadores e uma hipocrisia enorme dos governos porque lucram com os impostos:).....tem que existir um meio termo...e inadmssivel apos 12 horas de voo chegar a Londres e nao ter uma jaula para fumar como antigamente....falta de respeito por quem fuma e que inclusive pode criar situacoes de excessos de nervos, etc...nao existe necessidade deste fundamentalismo!!!....porque e que nao aumentam o tabaco para precos como HK?? Os fumadores incomodam!!! mas nos casinos ja nao incomodam!!!! nas saunas??? nao va as tipas ficarem tristes sem uma passa apos uma queca!!! Salas de Danca!!! o que e isso? DD2??.....enfim....duvido....com a mentalidade de Macau ate aposto que os bofias serao os primeiros a quebrar a lei e aqueles restaurantes em Iao Hon e Fai Chi Kei, ahahhhaha....quanto aos puritanos contra o tabaco e que desrespeitam selvagicamente os fumadores que ate respeitam os nao fumadores....aconselho civismo:)

Leocardo disse...

Anónimo das 8:05 : Ao contrário dos restantes comentários, que são sobre o tema em debate (e desde já agradeço aos leitores, são comentários de elevadíssimo calibre), os seus são apenas com o intuito de provocar. Mas não me vou rebaixar ao seu nível. Desculpe lá isso.

Cumprimentos.

Anónimo disse...

Pois, exacto, tem toda a razão. É só provocação. O seu remoque sobre o aquecimento global nesta posta sobre tabaco (um outro tema suponho) é o que exactamente? Está relacionado com o fumo exactamente de que forma? Não foi provocação de certeza, porque V. Exa. não baixa de nível. Ou fica sem resposta, ou fala de outras coisas (não responde durante horário de trabalho, etc), contradiz-se, torce as palavras ou amua.