Zidane (Banjaqui) e o Real M. (de Massamá)

Esta reportagem tem quatro anos, e nela ficamos a saber uma curiosidade interessante: quatro jovens, dois pares de irmãos que são primos entre si, têm nomes de "craques" da bola, e começam a dar os primeiros passos no clube da sua terra, o Real Sport Clube. Maldine e Rivaldo, assim chamam os irmãos Semedo, são primos de Zidane e Figo, os irmãos Banjaqui, e o treinador dos escalões de formação do Real só acreditou que estes eram mesmo os seus nomes próprios quando conferiu os bilhetes de identidade. O pai de Zidane e Figo, natural da Guiné-Bissau e residente na Massamá,  conta no vídeo como surgiu a ideia de dar estes nomes aos pequenos. E de facto o jornalista que narra a reportagem está coberto: pelo menos as pessoas não se vão esquecer dos seus nomes.



Maldine Semedo tem actualmente 20 anos, e alinha no Pêro Pinheiro, clube que disputa a I divisão distrital da AF Lisboa, enquanto o seu irmão Rivaldo e o primo Figo, bem, devem ter ido fazer outra coisa qualquer com as suas vidas. Já quanto a Zidane, nasceu uma promessa do futebol português! O jovem, actualmente com 16 anos foi convocado para os trabalhos da selecção de sub-17, e fez furor com o Real, que este ano conseguiu um feito inédito ao qualificar-se para a segunda fase do campeonato de Juvenis, ao obter o 2º lugar da Série D, logo atrás do Benfica, e deixando para trás o Sporting, que se quedou em 3º e ficou afastado da eventual discussão do título. O técnico responsável por este "milagre" diz que na verdade não se trata de milagre nenhum, e muito menos obra do acaso. Para Filipe Martins, de 37 anos, o fim do Estrela da Amadora contribuiu para que outros clubes da linha de Sintra captassem jovens talentos a residir naquela zona dos arredores da capital. Ele próprio foi formado no clube amadorense, tendo ali iniciado a sua carreira de futebolista, passando depois por outros clubes da grande Lisboa, como o Estoril, Oriental e Atlético, retirando-se no Pêro Pinheiro. Trabalha com os juvenis da Massamá desde Setembro de 2014, vindo do C.D. Belas. Uma estreia de luxo, portanto.

O Real Sport Clube, nome oficial da colectividade ("da Massamá" é prós amigos) apareceu em 1995 da fusão de dois clubes: o Grupo Desportivo de Queluz e o Grupo Desportivo e Recreativo da Massamá - em suma, foi pegar em dois clubezecos completamente insignificantes e pífios, esquecer rivalidades parvas e fazer qualquer coisa de jeito, para variar. O clube inclui modalidades com uma inclinação marcadamente "urbana" e de "raíz multicultural" (perdoem-me os chavões) tal como a Capoeira, a Luta Livre ou o Assalto à Mão Armada, mas...oops! Isto foi engano, a sério. Vá lá, incluam o humor negro no vosso eclecticismo, amigos realistas (sim, assim chamam os adeptos ou simpatizantes do Real: realistas). Portanto como em qualquer outro clube que se preze, o futebol é o prato forte, e este ano o Real foi campeão distrital da AF Lisboa, e por isso sobe ao Campeonato Nacional de Seniores, mas apesar disto soar um pouco a "chunga" ou àquelas coisas que deixam os pobrezinhos muito contentes, coitadinhos, tem muito que se lhe diga.

O Real tem-se mantido nos campeonatos nacionais regularmente desde que ascendeu pela primeira vez em 1996/97, e sem interrupção entre 2002 e 2013, altura que foi "empurrado" para os distritais da AF Lisboa devido à extinção da III Divisão e criação do Campeonato Nacional de Seniores. Pelo meio, em 2006/2007, esteve muito perto de ascender à Segunda Liga; venceu a Série D da II Divisão "B", à frente dos favoritos Louletano e Atlético, ficando apenas a faltar destreza para passar no "play-off" da subida, onde foi derrotado pelo Freamude. Já esta época, e recordo que disputou os distritais, causou furor na Taça de Portugal. Primeiro ao derrotar fora o Portimonense, da II Liga, dois escalões acima do seu, e depois já com os "grandes" em prova deu que fazer ao primodivisionário Gil Vicente, perdendo por 1-2 em Barcelos com um golo marcado nos minutos finais do encontro.

É aqui no Monte Abraão, freguesia do concelho de Sintra situada entre Queluz e a Massamá que acontece a magia. Já todos devem saber que foi aqui (não foi bem, mas pronto) que o internacional português Nani começou a dar os primeiros toques na bola, tendo representado o Real desde os 7 anos até quase aos 17, quando finalmente foi para os juniores do Sporting. Outras celebridades do clube de Alvalade passaram também por aqui, mas noutras circunstâncias; se olhar para o plantel principal da época 2009/10 vai ver nomes como André Martins, Diogo Salomão, Wilson Eduardo, Diogo Amado ou ainda Marco Matias, o melhor marcador português do campeonato que agora terminou, apontando 17 golos com a camisola do Nacional. É que o Real foi uma espécie de Sporting "B" durante algum tempo antes de ser permitida a inscrição dessas equipas propriamente ditas na Segunda Liga, o que só aconteceu em 2012. Mas mesmo assim da "cantera" da Massamá, 100% puros e sem misturas nem empréstimos e outros préstimos, saíram nomes como Ricardo Vaz Tê, Ivan Cavaleiro, extremo actualmente cedido pelo Benfica ao Deportivo por empréstimo, Abel Camará, outro extremo, este ao serviço do Belenenses, onde faz parte da primeira equipa, Pedro Mendes, central que também passou pelo Sporting e está actualmente no futebol italiano...

...E agora Zidane Banjaqui, de que  vemos em duas nuances na imagem em cima: à direita a "papar" uma leoa no campo nº 2 do Real Sport, em Queluz, e onde a 3 de Setembro de 2013 o pequeno clube da linha derrota o "gigante" por uma bola a zero (o golo foi marcado por Ray Pinheiro, já agora) - pena ter sido uma quarta-feira à tarde, e assim só estavam cerca de uma centena de pessoas no estádio. A vitória foi preponderante para obter a classificação, pois na penúltima jornada o Real encontrava-se na quarta posição com menos um ponto que Sporting e Sacavenense, e a dois do Benfica, que liderava e também ia fazendo contas à vida, se bem que dependia apenas de si. Acontece que nessa penúltima ronda os leões recebiam em Alcochete o...Sacavenense, e escusado será dizer que o derrotado deste encontro ia "estender lulas", pelo que nenhum deles se decidiu a "desatar o nó" e a partida terminou empatada a um golo. Já andavam os palermas a consultar regulamentos para ver se passavam um ou o outro, uma vez que na primeira volta em Sacavém o resultado tinha sido de 0-0, e ninguém se lembrou que ao mesmo tempo o Real tinha jogado com Atlético na Massamá, onde já se fazia a festa, pois os "putos" tinham vencido por 1-0 e "saltado" para o 2º lugar. Na semana seguinte o corso seguiu para o Pina Manique, onde o Real venceu o Casa Pia por 4-1 e fez História. Na imagem da esquerda vemos Zidane Banjaqui envergando pela primeira vez a camisola das quinas, e já agora aqui fica mais esta curiosidade:

Vejam só que preciosidade, a primeira convocatória do nosso menino  - que comovente, ali, parece pequeno entre gigantes mas é Real entre a plebe. É verdade que foi só para uma concentração, para se dar uns toques, para ver o que se sabe, e tal, mas não é assim mesmo que se começa? Além disso o Zidane Banjaqui  já garantiu que não vai sair do Real, pelo menos para já, o que me dá a entender que por enquanto ainda vai tendo a cabeça em cima dos ombros, onde deve ficar. E espero que continue a evoluir, sempre sem deslumbramentos ou outros excessos, e também que a escola do Real continue de olho nos jovens talentos - e há tantos por aí entre a "malta" - e deixem-me que vos dê os parabéns. Belíssimo trabalho!