sábado, 20 de junho de 2015

Cedric ♥ Sótampetóne (ou quem pagar mais)


Os jogadores de futebol, já se sabe: são um prato. Alguns chegam a ser um almoço, jantar, ceia e ainda sobra qualquer para umas sandes e os ossos para dar ao cão. Cédric Soares, aquele indivíduo na imagem exibindo uma camisola naquilo que parece um anúncio a uma lavandaria de "pront-a-sec", era jogador do Sporting - sim, e digo "era" porque agora vou revelar um segredo...ali NÃO É UMA LAVANDARIA! Isso mesmo, e os mais conhecedores dessa arte de observar homens de calções a correrem suados atrás de uma bola, segurando-se e por vezes caindo uns em cima dos outros enquanto um homem mais velho vestido de preto observa de perto e amiúde apita, chamada "Futebol" (sim, alguma imprecisão na minha descrição?) já perceberam que o jovem disse "ciao lao" ao clube do leão e foi para o Southampton, esse colosso do futebol mundial.

Sim, sim, e quem o diz é o próprio Cedric, que em entrevista ao tablóide "The Express" diz que "está contente por ir jogar em Inglaterra", pois para ele "é um dos melhores campeonatos mundiais, senão mesmo o melhor" - isso agora levava-nos a uma discussão...uh...inútil. Para não dizer "parva". Falava muito bem, o jovem, até ao momento em que resolve exceder-se na quantidade de lustro com que puxava as britânicas botas dos seus novos patrões, e só lhe faltava dizer que era adepto do clube "desde pequenino". Ao facto da Premier League ser uma maravilha, e ele muito contente por lá estar (depois admiram-se quando nos chamam "pequeninos"), acrescenta qualquer coisa como "...ainda mais no Southampton, um grande, grande clube, com muita história, e que toda a gente conhece em Inglaterra". Ahem. Ó Cedriquezinho, pá, estavas a falar com quem? Os gajos são bifes, ainda por cima jornalistas da bola, e não a Dona Lourdes do 3º direito, que acredita se lhe disseres que o Southampton ganhou a liga nos últimos dez anos sem qualquer derrota - ou pode não acreditar, mas não vai verificar, com toda a certeza. O Cedric diz ao "The Express" a seguinte frase, que passo a transcrever:
”Southampton is a big, big club in England and is very respected. It’s a club with a lot of history and, for me, it’s very important to play for a big club. I think this is a very good move.”
Pode até ser que esta seja uma tradução de palavras do atleta, proferidas em português, mas até o consigo imaginar aos pulinhos, a chorar, e a dizer: "A sério? É verdade, senhores "Sótamptónes"? Vocês querem mesmo que eu vá jogar para vocês?! Fosga-se, quando eu contar ninguém acredita, 'ménes!". Passo o exagero, mas sair do Sporting para o Southampton não é "um grande passo", mas sim "um grande pa$$o". Porque se formos falar de "história", de "respeito", e de "progresso na carreira", vamos por os dois pratos na balança e ver o que temos:


Hmm...longe de impressionar, este Southampton - pelo menos para lhe chamar um "grande", entenda-se. Mas temos que ter em conta também que na Inglaterra concorrência pelos troféus é muito maior ("muito" não é, mas digamos que sim. Tudo bem, apesar das prateleiras dos troféus vazias (o título de campeão da III Divisão na conta), o Southampton deverá ter o "respeito" dos adeptos do futebol na generalidade, tal é a frequência com que temos visto o clube na divisão principal; olhem para o Leeds, para o Nottingham Forest, Blackburn ou os dois clubes de Sheffield, todos atirados para as divisões secundárias. Assim sendo, olhando para a tabela total dos clubes que participaram na divisão principal do futebol português, vemos isto:
Team S1 S2 G W D L GF GA GD P2+ P% P+ P3+ DP
Benfica Lisboa 79 79 2198 1484 424 290 5325 1982 3343 3392:1004 0,772 3746 4876
FC Porto 79 79 2198 1449 402 347 4895 2002 2893 3294:1096 0,751 3717 4743 6
Sporting Lisboa 79 79 2198 1345 462 391 4840 2123 2717 3152:1244 0,717 3480 4497
Sim, eu sei, tem duas épocas de atraso, mas entretanto nem o Porto fez mais 134 pontos que o Benfica, nem o Sporting mais 247 que o Porto, portanto no essencial, os "três grandes" são, e por esta ordem, Benfica, Porto e Sporting. O Porto ultrapassou o Sporting em meados dos anos 90 em pontos no total das classificações dos campeonatos nacionais desde 1934, e em 1998 passou a ter mais um campeonato ganho que os leões, e actualmente tem mais nove (27/18). De resto, o Sporting foi até aos anos 60 clube português com mais honras, mas seria destronado pelo Benfica por culpa de Eusébio e companhia. Apesar de tudo isto, e tenhamos em conta as longas "secas" de títulos em Alvalade, o Sporting é o 3º maior clube de futebol em Portugal, e nem se avista a horizonte uma ameaça a esse estatuto. Agora olhemos para onde é que o Cedric deu "um passo importante na carreira":


Eu sei que ia demorar a encontrar, e para mais indo pela teoria do Cedric, que vos deixava aí a ler o nome das 25 (vinte e cinco) equipas do futebol inglês com mais prestígio que o Southampton, para onde vai agora este artolas, vindo do 3º maior clube português. Ainda diria que é o dos clubes da Albion que terminam em "Hampton" o mais conhecido e respeitado, mas em 17º temos o WolverHAMPTON, e esses ganharam 3 campeonatos, 4 FA cups e 2 taças da liga - nem nos sonhos mais húmidos dos fãs do Southampton. Se há quem ache que esta avaliação feita pelo número de pontos é "injusta", permita-me que concorde e assine por baixo; logo atrás do Southampton está  o Preston North End, que além de duas FA cup foi duas campeão inglês, a primeira das quais na primeira edição da prova, em 1889, sem perder qualquer jogo, o que lhes valeu o cognome de "invencíveis", que mantêm até hoje. O Southampton tem de memorável no seu historial o tal 2º lugar, em 1983/84, quando foi "quase campeão", e bota um grande "quase" nisso, "mermão", que a duas jornadas do fim estavam em quarto e o Liverpool já tinha garantido o título. Ah é verdade, e há a tal FA Cup, que os deixa num patamar idêntico ao de 18 outros clubes que venceram a mais antiga prova oficial de clubes do mundo por uma vez desde 1871, ano da sua primeira edição. "Mas... até foi mais ou menos recente, essa taça que o Southampton ganhou!" - pensará o leitor da escola do copo meio cheio - e deve sportinguista, também: foi em 1976! Nem aqui o Cedric era nascido, quanto mais! Como é que ele poderia saber alguma coisa daquele glorioso dia (para o Southampton), e daquela fabulosa equipa (na rua deles, talvez) recheada de estrelas (de quem nunca ninguém ouviu falar), como eram os casos de Paul Gilchrist, David Peach ou Peter Osgood, guiados à vitória pelo génio do seu "manager" Lawrie McMenemy (quem, quem, quem, e finalmente quem?). Ah sim, e como me podia esquecer eu do único autor do golo do único jogo que teve importância nos 130 anos de história do "Sótampatón", Bobby Stokes? Pois é, tenho a certeza que o Cedric ia adorar conhecê-lo, já que este é o seu novo clube do Cora£ão, não fosse pelo facto de ter morrido. Ainda jovem, por sinal. De alcoolismo. Típico.


Cedric veio dizer que "José Fonte persuadiu-o a aceitar o convite do Southampton". Faz sentido, pois este defesa-central é um dos esteios do actual elenco da equipa de Hampshire, treinado pelo nosso conhecido Ronald Koeman, e foi lá de que passou de um "quem é esse?" a internacional "A" pela selecção portuguesa. Muito bem, mas não foi com o mesmo entusiasmo que Cedric que este penafidelense chegou a St. Mary's, vindo do Crystal Palace, para onde foi em 2007, cansado de sonhar com sportings e benficas, e pronto, queria fazer pela vida e receber no fim de cada mês um chequezito catita, coisa que os Setúbais e Amadoras por anda andava não lhe ofereciam - e por vezes nem um cheque de todo se via por esses lados, quanto mais. Mas muita água escorreu pela(o) Fonte até chegar ao convívio dos grandes, quanto ele suou; chegado a Londres disputou duas épocas  completas no Championship, o escalão imediatamente inferior à Premier League, e a meio da época seguinte transferiu-se então para o Southampton, que estava na League One, o equivalente ao nosso actual Campeonato Nacional de Seniores, antiga 2ª "B". Mas o que parecer um retrocesso, em Inglaterra ganha outra dinâmica. Que Southampton foi José Fonte encontrar em inícios de 2010?


E como podem ver, isto não é propriamente um Vizela ou um Sertanense, e com o devido respeito por esses dois emblemas, temos que admitir que para comprar alguns destes jogadores já seria necessário os referidos clubes venderem os estádios, e possivelmente pedir a alguns sócios que "doassem o rim que não lhes faz falta, que o outro sozinho faz o mesmo trabalho". Neste terceiro escalão o defesa português partilhou o balneário com nomes que seria impensável a qualquer atleta nas mesmas circunstâncias fazê-lo hoje: Adam Lallana e Rickie Lambert, ambos actualmente ao serviço do Liverpool, Jason Puncheon e Anthony Pulis, médios, e que agora representam respectivamente Crystal Palace e West Bromwich, da Premier League, Morgan Schneiderlin, ainda  no Southampton mas com um valor de mercado dez vezes superior, e até o (ainda hoje) jovem Alex Oxlade-Chamberlain, extremo do Arsenal e considerado uma das grandes esperanças do futebol inglês, na altura com 16 anos! Mesmo assim...


Não conseguiram subir, com uma equipa que hoje estaria possivelmente a discutir os primeiros lugares da Premier League! Só que no ano seguinte José Fonte foi um dos protagonistas da subida ao Championship, convencendo o então treinador Nigel Adkins, e afirmando-se como titularíssimo no eixo da defesa, chegando até a marcar sete golos nessa época. No ano seguinte deu  o "salto" e regressou à Premier depois de 7 anos de ausência, e Fonte foi-se mantendo como umas das peças chave da estrutura da equipa. E foi um período difícil, esse, e ao contrário do que o Cedric Soares pensa ou quer dar a entender, não foi pelo Southampton ser um "clube grande e respeitado" que chegou onde está agora. O "respeito" que agora usufrui é ao igual ao "respeito" que outros clubes como Chelsea ou Manchester City granjearam: foi comprado - e em boa hora, antes que fosse demasiado tarde. Se repararem com atenção na tabela classificativa que publiquei acima, vão reparar que o Southampton devia ter terminado no 5º lugar com 83 pontos, mas foram-lhe retirados dez por incumprimento das obrigações fiscais, e obrigados a ficar sob administração designada pela fazenda, aquilo que se chama em Inglaterra "going into administration", e que aconteceu no passado com clubes como Wimbledon, Luton Town, ou mais recentemente o Portsmouth. Em suma: corriam o risco de fechar as portas, ou ficar "a arrastar-se" pelos campeonatos da Confederation, o equivalente aos nossos campeonatos distritais.


O ano era 2009, e depois do penúltimo lugar obtido no Championship, a direção do Southampton demitia-se em bloco, e anunciava-se aquilo que há muito já se sabia: depois de 27 anos consecutivos no escalão principal, a descida em 2005 abriu a caixa de Pandora das "gestões futebolísticas", e deu conta de uma sociedade desportiva que nem vendendo todo o plantel se conseguiria pagar as dívidas. Foi com o clube já a disputar a League One (repito: 3º escalão) que surgiu aquilo com que todos os clubes falidos (redundância...) sonham: um milionário excêntrico que acordasse uma manhã com vontade de ser proprietário de um clube de futebol. Aqui até pode ser "qualquer um", em ambos os casos, pois nem o milionário precisa de ser adepto desse clube em particular, adquirindo-o apenas porque era o único à venda naquele dado momento, nem os adeptos precisam do "amor" dele para nada - tapar os buracos com notas e matar os bichos com moedas é que o que eles pedem, e mais nada - nem precisa de perceber patavina de futebol, claro. Tem que ser alguém cujo nome seja  secundário à conta bancária, e a generosidade a única qualidade necessária - humana ou qualquer outra.


Para o Southampton o nome do anjo que caiu do Céu foi Markus Liebherr (à esquerda), co-proprietário da empresa fundada pelo seu pai Hans, e que foi baptizada com o apelido da família. A Liebherr, sediada na Suíça, é uma conceituada fabricante de maquinaria pesada e das respectivas peças, e pode-se dizer que era essa a solução que faltava para por o Southampton em andamento. O milionário adquiriu o clube em Julho de 2009, pagou todas as dívidas e a ainda tentou recorrer da decisão da FA e recuperar os dez pontos perdidos na secrataria no início da época, mas em vão. Menos de um ano depois morreu fulminado por um ataque cardíaco, em Junho de 2010, aos 62 anos (quem disse que o dinheiro faz a diferença? ah!), e como manda a lei a sua herdeira universal e única ficou na posse de todos os seus bens: Katherina Liebherr (à direita) -  que incidentalmente se tornou a primeira, e até agora única mulher proprietária de um clube da Premier League inglesa. Tudo foi correndo de vento em popa, apesar da morte prematura e repentina do "messias" de Yorkshire, com o  clube a ser gerido no plano desportivo pelo italiano Nicola Cortese, que no Verão de 2013 contratou o treinador argentino Mauricio Pocchetino. Já durante a época passada, durante a reabertura do mercado de transferências, Liebherr opôs-se à venda de mais jogadores do plantel, conforme planeava Cortese, e fala-se de que a proprietária desconfiada da existência de negócio pouco limpos (desconfiava, pfff). O director-desportivo acusou-a de ingerência, demitiu-se, dividiu os adeptos em  nos que estavam do seu lado e os pró-Liebe, e chegou mesmo a ficar perto de conseguir que um bilionário chinês fizesse um "take-over", o que a se concretizar, faria do Southampton o clube mais rico do mundo! 


....Ou não, e sabe-se como certas megalomanias terminam (não é mesmo, apoiantes do Vale e Azevedo?). Daí que Liebherr não se deixou intimidar por Cortese (ou por outro indivíduo com nome de mafiosos calabrês, para esse efeito) e substituiu-o na direcção técnica do departamento de futebol do clube por Ralph Krueger, que curiosamente percebia mais era de hóquei sobre o gelo. Alemão nascido no Canadá  - combinação explosiva que faz de qualquer um praticamente, ou no mínimo adepto incondicional de hóquei no gelo - Krueger era treinador da equipa profissional dos Edmonton Oilers, do Canadá, quando Liebherr o convidou para o Southampton, e até consigo imaginar a conversa entre os dois:
Katharina Liebherr: Oi Ralph! Zieg Heil! Você serrr trreiandorra daquele...como chamarrr?
Ralph Krueger: Hóquei mit gelo. Serrr desporrrto que amerricana gostarr muito!
KL: Ah, verdammt! Eu querrria convidarrr você parrra dirrrectorr und Southampton mit Engländer schweinen! 
RK: Não fazerrr mal, ja? Eu irrr na mesma! Achtung!
KL: Santinha...mas serrr aquela soccerr, mit euch não entenderrr porrra keiner!
RK: Serrr tudo mesmo scheiß. É trrabalho, é bem pago, serrr geld verdienen, eu alemã...eu irrr! Ah, ah, ah!
KL: Ah, ah, ah, engrraçada, ich du. Heil Hitler.


Depois foi aquilo que se sabe: os nazis correram com Pochettino, que se andava "a deitar" com Cortese, e trouxeram Ronald Koeman, que também fala espanhol, mas inglês também, e isto hoje em dia falar estes dois idiomas no futebol é tudo para ter aquelas conversas super-inteligentes, ou produzir comentários mesmo nada grunhos. Olha, como é exemplo o Cédric Soares, coitado. Mas a esse já lá vamos, pois voltando aqui a esta malta da pesada, fizeram muitíssimo bem em mandar embora o tanguista do tango, e mandar vir o "lo Sporting es mierda". Ai não se lembram?


Aí está, e já gostava de saber duas coisas, apenas por "mierda" curiosidade: 1) Será que o Koeman está ao corrente do regabofe que foi a saída do Jesus para o Sporting, e 2) E o Jorge Jesus, saberá pronunciar o nome "Koeman", ou sairia qualquer coisa como "Cú mane"? Mistérios. Nunca gostei muito aqui deste loirinho, que a "hablar ispaniol" parece um daqueles turistas alemães que se vê em Marbella, Ibiza, e aqueles sítios que custam uma nota, e onde os próprios espanhóis não sonham ir , nem sequer para molhar os pés, mas desta vez tirava-lhe o chapéu, caso usasse um. O Southampton fez uma época surpreendente, onde andou a "morder os calcanhares" ao líder Chelsea, que assumiu cedo essa condição, e à entrada para a 2ª volta da edição finda da Premier League encontrava-se em quarto lugar, com acesso virtual à Liga dos Campeões. Não estando dotado das mesmas valências que os clubes londrinos, os dois Manchester e até  o Liverpool, terminou no 7º lugar, igualando a classificação de 1989/1990, não conseguindo melhor do que isso até agora. E o mais importante foi a bofetada com luva branca (ou de cabedal com a insígnia das SS) que deu na concorrência.  Senão vejam:


Pois é, reparem nestes números, que se não dizem tudo, então é só porque não estão dotados de cordas vocais que lhes permita fazê-lo. Mas tudo bem, isto até uma criança que tenha dominado o conceito de "maior" e "menor" entende.  O Pochettino, que tem nome de palhaço careca, foi para o Tottenham, e com um plantel quase três vezes mais caro que o do Southampton, só conseguiu acabar à frente destes uma posição, separados apenas por dois pontos. Koeman conseguiu não só andar  sempre nos lugares da frente com um plantel mais económico que, por exemplo, o do Newcastle, que evitou  a descida na última ronda, como conseguiu valorizar o plantel quase 80%, ficando bem próximo dos valores do Tottenham, que passou a valer menos. Por muito que nos custe aceitar, o futebol hoje é essencialmente isto, meus amigos. E não se queixem que os meninos "são muito mimados", ou que "estão mal habituados", senão eles ainda mandam vocês ir correr até da rapapeca , ali vestido de macacão, biqueirada aqui e canelada ali, à chuva, ao frio ou ao sol, e tudo para os entreter a eles, que ficam em casa de roupão em frente à TV a beber "minis". É o preço da Sport TV, enfim, e vendo as coisas pelo lado positivo, estes não estão dependentes da oscilação do preço do barril de crude.


E  pronto, antes de me despedir, queria mandar este recado ao Cedric Soares (ou "so-ah-rez", como dizem os bifes), que vai agora fazer a vida naquele país triste e deprimente, cheio de gente ainda mais triste e deprimente e onde o futebol é quiçá a última fronteira que os separa do suicídio em massa. Pronto, ó Cedric, é assim: quando alguém pergunta "onde fica exactamente Southampton", a resposta mais dada é "sei lá onde é que essa merda fica", ou em alternativa, "quéláxabê ó Xôtantón ou o c...." (esta é mais frequente conforme a proximidade com a Galiza). Se calhar olhas assim para o mapas como este que deixei aqui e cima e ficas a pensar: "bacano, mesmo que lá o Só-tó-coiso seja um tédio, um gajo mete-se no carro, apanha a M3 em Eastleigh, e em meia-hora está no Lóndótaune, oh yeah!". De facto visto deste ponto parece que efectivamente a capital estende os braços até à Mancha e os cornos até à Cornualha, e Southampton está para Londres como a Reboleira está para o Marquês, não é mesmo?


Epá ka longe, meu! O mundo é assim, grande e colorido, como uma bola nas mãos de uma criança, já dizia o outro. Não te estou aqui a chamar nomes, ou a tentar ser paternalista - e que diabo, pela graça de quem o faria eu? É só porque penso que deves ter um problema com os volumes, medidas, dimensões, paralelos, eu sei lá, quando dizes que ir do Sporting para o Southampton  é "um passo em frente", não estás lá a ser muito respeitador com a toca de leãozinho que te arranjou o sr. visconde, pois não? Diz lá, ó raçudo felino "made in Germany", se estás ou não a ser assim um bocado...qual é mesmo aquela palavra que serve para descrever na perfeição aquilo que estás a ser? Não, não é "ingrato", que apesar de também ser verdade, fica um bocado "curto" em termos de definição. Ah, sim! Já sei! A palavra é "prostituto". Isso mesmo, "prostituto". É que se for o dinheiro que está aqui em causa, rapaz, na China também pagam a valer, e quem sabe se um dia destes vens dizer que jogar no Shandong Luneng era "um sonho de criança". Olha, pode ser que quando quiserem fazer um negócio envolvendo quantias astronómicas com um rival na venda de um Nathan Clyde lá do sítio, lembrem-se de te chamar a ti, o tapa-buracos, o Nathan Clyde a fingir, o "B" dos laterais-direitos. Era só um pequeno aparte, que vai agora em milhares de palavras, imagens, vídeo e gráficos, para não fiques a pensar que te estou a chamar de "parvo" e de - agora recorrendo à expressão correcta do futebolês - "pesetero". Disso que já ninguém tem mesmo qualquer dúvida, pá!


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