sábado, 20 de abril de 2013

Nublado, húmido, chuvoso e merdoso


Entrámos oficialmente no clima de Verão em Macau. As últimas semanas, com especial incidência nos últimos dias, têm sido marcadas pelo tempo húmido, quente, chuvoso e merdoso. O tal de que me queixo há anos sem que ninguém tenha pena de mim. Como sofro, meu Deus. O clima é um dos aspectos menos bem conseguidos desta terra, onde afinal nem se vive mal. Se os Céus nos presentearam com a benesse dos casinos e do dinheiro fácil, exigiram em troca que penássemos debaixo de um clima infernal. É um purgatório de suor, roupas molhadas e sapatos encharcados.
O calor até nem é o maior problema, pois as temperaturas raramente ultrapassam os trinta graus Celsius, mas a humidade relativa próxima dos 100% torna a simples tarefa de andar na rua uma tortura. É como uma sessão de sauna, mas com roupa e sem os apetrechos que tornam a experiência tão aprazível. Não é nada simpático passar o dia com a roupa colada ao corpo, uma situação que se agrava com o uso de um fato, caso a profissão o exija. Um dia típico de Verão em Macau inclui calor, humidade e aguaceiros, por vezes chuva torrencial. Sol nem vê-lo. É assim desde Abril ou Maio até Setembro. Ninguém merece.

A chuva é quiçá o aspecto mais desagradável, muito devido à sua imprevisibilidade. O guarda-chuva torna-se um utilitário indispensável – quem quiser investir num negócio de baixo risco em Macau, uma fábrica de guarda-chuvas é o ideal. Depender do guarda-chuva é um enfado. Quem se lembra de sair de casa com ele arrisca-se a passar o dia inteiro a carregá-lo sem precisar de o abrir. Quem arrisca e sai de casa de mãos a abanar, confiando que não chove, arrisca-se a apanhar uma épica molha. Macau deve ser um dos poucos locais do mundo onde é completamente impossível prever quando chove. Mesmo um dia de sol aparentemente inofensivo pode descabar numa bátega diluviana. Repito: é castigo divino.

Apesar da frequência do uso do guarda-chuva pela população, os nossos cidadãos parecem ter ainda alguma dificuldade em utilizá-lo de forma correcta. Nas ruas mais concorridas, os guarda-chuvas ocupam uma parte considerável do espaço destinado à circulação, já de si muito escasso. Os mais altos (ou menos baixos, como é o caso) são os que mais sofrem com a displicência, arriscando muitas vezes a levar com uma vareta num olho. Não sei se foram feitos estudos sobre o impacto civilizacional do uso dos guarda-chuvas, ou se as conclusões explicam algum dos comportamentos, como abrir o guarda-chuva à saída de uma loja ou de um edifício sem cuidar que passa por ali alguém que pode ser atingido pela propulsão do cabo, ou a irritante mania de manter o chapéu aberto debaixo das verandas, onde obviamente não chove. A atitude predominante é egoísta: o mundo sou eu, o meu guarda-chuva e mais ninguém.

Contudo o uso do guarda-chuva não garante que se chegue ao destino sequinho, sequinho, como no anúncio das fraldas Dodot. A chuva que aqui cai é mesmo chata, e nem o guarda-chuva mais largo impede que as calças fiquem encharcadas dos joelhos para baixo. O escoamento deficitário das águas da chuva levam a que os sapatos fiquem empapados ao atravessar os mini-riachos que se formam nos passeios nos dias de maior pluviosidade. A chuva quando cai é para todos. Alguns tentam manter-se secos optando por capas de chuva ou simplesmente cobrindo o calçado com sacos de plástico, ou optando por chinelos. A estética fica completamente esquecida quando se trata de manter seca a indumentária. Que se lixe, não há nada pior que passar o dia inteiro enfiado num escritório molhado como um pinto.

Até pode ser que alguns escapem deste pequeno inferno e procurem outras paragens onde podem usufruir de um clima mais ameno, paisagens parasidíacas, gente bonita, mulheres voluptuosas ou um serviço de luxo ao preço da uva mijona, mas não conheço ninguém que tenha tantas férias que consiga escapar completamente deste clima fustigante. Faz parte da experiência que é viver em Macau. Aguentem, equipem-se dos tais guarda-chuvas, das capas, usem e abusem dos ares-condicionados e dos secadores, paguem a conta da electricidade e não refilem.

1 comentário:

Hugo disse...

Um verdadeiro terror sem duvida. Aquilo a que chamam Verão é um período péssimo para se estar em Macau. Nunca mais chega Novembro....