segunda-feira, 1 de abril de 2013

Eu não quero morrer, sr. Kim


A situação na peninsula coreana piora a cada dia que passa. O regime monárquico-estalinista da Coreia do Norte com todas aquelas características que o tornam único no mundo e já estamos fartos de ouvir falar tem subido o tom das ameaças que faz aos seus “inimigos” (os americanos e os seus fantoches do Sul, citando os próprios). Os norte-americanos olham com desconfiança; os ataques do 11 de Setembro ainda estão frescos na memória e não é recomendável ignorar uma potencial ameaça, por muitos contornos de megalomania que se revista. Além dos exercícios que tem realizado com o seu aliado do sul, os americanos mandaram para a região navios de guerra equipados com armas nucleares. Pelo sim, pelo não. No caso de prevalecer o “sim”, o desfecho é imprevisível e não se agoira um final feliz. O mundo está atento aos desenvolvimentos, e preocupado. Devemos estar preocupados, sim.

É sabido que no evento de acontecer um conflito total entre as duas potências os Estados Unidos têm capacidade para aniquilar a Coreia do Norte em meia hora. Não é preciso ser um especialista em geo-política ou perito em armamento para saber isto. Não é credível ou sequer racional que um país onde há fome declarada e que durante anos tem dependido da ajuda internacional para não se eclipsar por completo tenha poderio militar para fazer frente à maior potência bélica do planeta. No tempo de Kim Jong-Il as ameaças eram entendidas como um mero acto de desespero, uma forma de chamar a atenção. Agora com Kim Jong-nam levantam-se dúvidas sobre as reais intenções do regime. Se calhar estão mesmo a falar a sério quando dizem querer reduzir a América e o Sul “a cinzas”. Do querer ao poder vai uma grande distância, claro, mas a concretização de um ataque por parte de Pyongyang deixaria mazelas, por muito frouxo que fosse. Quem esperava que o terceiro dos Kim adoptasse uma postura passiva, dialogante e até reformista enganou-se redondamente.

A dúvida não reside em quem sairia mais prejudicado com o eventual conflito armado – a resposta está há muito encontrada – mas qual será a posição das duas maiores potências militares depois dos Estados Unidos: a Rússia e a China. Moscovo tem-se mantido estranhamente silencioso (ou apenas expectante?) perante o escalar da crise, e Pequim vem apelando à contenção. É uma posição complicada e ingrata, a da China. São o único aliado de Pyongyang, mas não estão interessados numa guerra, muito menos com os Estados Unidos, parceiro económico por excelência, e ao mesmo tempo não querem deixar o estimado regime norte-coreano cair. Devem estar a cruzar os dedos para que os delírios dos “camaradas” da peninsula coreana não passem das intenções, e para que os americanos não se aborreçam a valer e optem pela força para resolver o imbróglio. Por enquanto o melhor é que este bacalhau continue de molho no mar da Coreia.

O mais deprimente (e assustador) é assistir à reacção do povo norte-coreano perante tudo isto. O discurso transborda de ódio, e a única solução é o conflito, para o qual se dizem preparados. Vi uma mulher norte-coreana a ser entrevistada na TV no outro dia, e entre um choro convulsivo falava das ameaças dos americanos, “que tinham mísseis apontados às estátuas dos queridos líderes, e se preparavam para destruí-las”. Não sei se isto é apenas propaganda, e é provável que seja, ou se estes tipos estão mesmo a falar a sério. Nesse caso ainda estão mais iludidos do que pensávamos. Mas é assim, amigos da Coreia da Norte: façam o que fizerem, eu pessoalmente não estou disposto a dar a vida por nenhuma parvoíce. Pode ser que para vocês eu não passé de um cobarde, um traidor ou um fantoche, aquilo que quiserem, mas não quero morrer por vossa causa. Uma simples enxaqueca ou uma unha encravada provocada por esta “tourada” já seria demais. Como dizia a malta nova do meu tempo, “matem-se, esfolem-se, mas não me aleijem”.

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