Os habitantes do Edifício Sin Fong, no Patane, estão furiosos. E com toda a razão. Este complexo habitacional situado na zona da Barra foi há pouco mais de duas décadas um dos projectos mais ambiciosos em termos de imobiliário, e os seus habitantes eram vistos como gente de bem. Mesmo em finais da década de 80 não era qualquer gato-pingado que podia comprar uma fracção no Sin Fong. Mesmo depois da época de ouro da construção em Macau, o Sin Fong manteve a sua fama. É ainda a maior referência em termos de habitação na marginal do Patane, entre a Barra e o Mercado Vermelho.
Mas para desespero dos “sin-fonguenses”, um dia a casa vem abaixo. Em Outubro passado o edifício foi considerado inabitável devido ao risco de desmoronamento, e as centenas de residentes do Sin Fong ficaram subitamente na rua com todos os tarecos, abandonados, sendo a única opção procurar outro lugar para viver. A qualidade da construção foi apontada como principal razão para a decadência do prédio: a estrutura seria composta apenas por 40% de cimento. Os dedos foram apontadas à construtora, uma das mais profícuas de Macau. Outra versão responsabiliza as obras que se realizavam no terreno anexo, onde se ia construír outro prédio. Os mais sensatos põem as culpas em ambas as circunstâncias.
Passados vários meses desde o escândalo que transformou um edifício onde residiam várias famílias numa cidade fantasma, as Obras Públicas não têm dúvidas: a ruína deve-se à qualidade da construção. A empresa responsável pelo Sin Fong manifestou a sua indignação, e respondeu com uma missiva publicada na imprensa na semana passada, atribuíndo as culpas às obras do lado. Missiva essa devidamente documentada, com fotografias dos danos alegadamente provocados pelo projecto em realização no terreno anexo.O director das OP, Jaime Carion, insiste que o Sin Fong é mesmo cócó, e se for necessário leva-se o caso a tribunal. Não tenho bem a certeza de quem pisou na bola, mas nesta roda-viva das empresas de construção existem interesses que nos escapam. Caso a empresa responsável pelo Sin Fong seja considerada culpada, deve suportar os custos da demolição e reconstrução do imóvel. Falamos aqui de valores acima dos 200 milhões de patacas. É obra, esta obra.
Quem não acha piada nenhuma a todo esta passar de bola são os residentes do Sin Fong, que apenas querem voltar para casa. O grupo de moradores criado após a crise apela ao Governo que os ajude a solucionar o problema. Mas porquê o Governo, se estas são contas de um rosário particular? E porque não? Um Governo que contribui automaticamente com 100 milhões de patacas para o terramoto de Sichuan, mesmo antes que se medisse a real dimensão do mesmo, tem dinheiro de sobra. Não quero aqui equiparar a dimensão da tragédia, mas se o Governo se prontifica a contribuir para o alívio de uma situação localizada numa realidade distante, porque não abrir os cordões à bolsa para ajudar os seus? E já basta de falar de milhões e mais milhões. Como não fui convidado para este banquete da construção e da especulação imobiliária, só sei falar de milhares. Esta conversa faz-me comichão no bolso.
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