Cada vez que se comemora o aniversário da Revolução dos Cravos, Otelo Saraiva de Carvalho sai da prateleira. Gostava de poder dizer mais sobre este personagem, mas não entendo o que diz. Fala uma lingua esquisita, só se percebem alguns murmúrios inconsequentes: “hmmm…hmmm…camaradas…hmm…hmm…acção desencadeada….hmm…hmmm…fascistas…pá!”. Todas as frases de Otelo acabam com “pá”. É um gajo fixe, pá. À frente do seu tempo, pá. Isto apesar dos seus 76 anos bem contados. O Otelo é dos nossos, pá. É o avô da malta. Militar de carreira na Guerra do Ultramar, com comissões em Angola e na Guiné, foi um dos principais actores do 25 de Abril. Muito bem, pá. A sua acção nos anos que se seguiram à revolução é que foram questionáveis; candidato derrotado à Presidência da República em 1976 e 1980 (onde obteve pouco mais de 1% dos votos), foi posteriormente preso sob a acusação de liderar a organização terrorista FP-25, responsável pela morte de 17 pessoas e a autoria de vários atentados bombistas. Indultado em 1996, leva uma vida privada discreta, sendo recordado em cada aniversário da Revolução dos Cravos, quando tem sempre estórias novas e bizarras para contar. Descontente com o actual estado da democracia, defende que é preciso um novo 25 de Abril. Não surpreende. É do 25 de Abril que vive este Otelo. Foram os seus 15 minutos de fama. Até pró ano, pá!
Sem comentários:
Enviar um comentário