terça-feira, 6 de abril de 2010

Não se deixe iludir


Às vezes gostava de circular junto daqueles casinos onde a malta vai gastar somas pornográficas de dinheiro, encostar-me a um tailoque qualquer, e pedir-lhe uma gorjeta para o bom “fong-soi”. Nunca se sabe, o gajo podia sair dali contente e dar-me umas dez mil patacas! Só que a malta lá de cima é menos supersticiosa que a malta destas bandas, talvez qualquer coisa a ver com o maoismo, que rejeitava a crendice e a superstição. Ainda hoje ouvimos nos habituais discursos do PC chinês inúmeras referências ao “desenvolvimento científico”, o no-nonsense de quem nunca pensa com o coração. Isto às vezes tem as suas vantagens.

Em Macau a Polícia Judiciária lançou recentemente esta campanha, apelando aos cidadãos que “não se deixem iludir” pelos truques dos burlões, que aqui em Macau chegam a ser aos pontapés. Talvez uma campanha deste tipo seja uma coisa rara, senão mesmo única no mundo. Não quero insinuar que em Macau “é fácil” fazer dinheiro, ou que existe um segmento da população que acredita em histórias da carochinha, mas existem truques incríveis em que certas pessoas caem e que lhes dá logo vontade de dizer: “Bem feita! Que o/a mandou ser parvo/a?”.

O caso mais gritante é o da multiplicação das notas. Um grupo de três ou quatro indivíduos organiza-se de forma a convencer uma velhota qualquer de que caso ela lhes entregue um saco cheio de dinheiro e jóias, eles “abençoam-no” e a velha fica mais rica. Algumas são tão crédulas que levantam o dinheiro todo da conta bancária. Depois quando recebem um saco com jornais recortados e laranjas têm o desplante de apresentar queixa à polícia. Eu tinha vergonha. Outra abordagem mais agressiva passa por dizer às vítimas que “lhes vai acontecer uma desgraça na família” caso não lhes entreguem dinheiro para ser abençoado. Se alguém me dissesse isto ou qualquer coisa parecida, partia-lhe os cornos com a coisa mais pesada que tivesse à mão.

Alguns dos nossos cidadãos mais velhos são pessoas poupadas e sofridas, que sabem dar valor ao dinheiro e raramente compram luxos, e têm um sexto sentido para o negócio. Daí que seja fácil para alguns malandrins mais convincentes venderem-lhes banha da cobra do tipo que vemos na imagem de cima: chifres de viado, pilas de tigre, caudas de veado, ou medicina tradicional chinesa normalmente considerada “cara”. Nestes casos só é normal que se recomende ao consumidor que adquira os afrodisíacos e afins apenas em bruxos credenciados. Quanto ao resto das burlas, o segredo é simples: não confie em desconhecidos, mesmo que sejam simpáticos, e especialmente se quiserem “oferecer” qualquer coisa.

A malta mais nova é mais “esperta”, e na verdade vai sendo cada vez mais difícil encontrar alguém com menos de 50 anos para enganar. São os milagres da alfabetização. Os jovens são tão desconfiados que nos arriscamos a criar uma geração de egoístas. Ninguém ajuda, ninguém empresta o telemóvel a desconhecidos, muitas vezes nem olham na cara de quem lhes pede auxílio. O combate a burlões e espertalhões seria muito mais eficaz se existisse um pouco mais de cidadania. Quantas vezes se viram as costas a casos de burlas a acontecer no meio da rua e em plena luz do dia? A PJ fornece as indicações para que se combata eficazmente o crime de burla:

- Não seja ambicioso/a.
- Evite a superstição.
- Não compre coisas que não conhece.
- Não entregue artigos pessoais e valores a estranhos.
- Mantenha a comunicação com os seus familiares.

E o mais importante: Caso seja vítima ou testemunha de uma burla, participe o caso às autoridades. Os números são 999 (emergência) e 28573333 (comando da PJ).

5 comentários:

Anónimo disse...

Não falou dos principais burlões: os políticos e os seus truques para sacar o cacau do Zé. Hugo Zador

Anónimo disse...

Olhá censura.

Leocardo disse...

Bem, os políticos daqui não precisam de "sacar o cacau do Zé", uma vez que o Zé tem muitas formas de deitar as mãos no cacau.

Cumprimentos.

Anónimo disse...

Sorte vossa. Aqui o Zé está com uma tanga cada vez mais curta. Filipe Lintra.

Anónimo disse...

Eu sei. A última vez que vivi aí já nem a tanga me servia. Mas enfim, está conforme a vontade da maioria dos eleitores. Eu abandonei o barco quando vi que o casco já não tinha remendo. Felizmente.