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Amanhã é dia 1 de Maio, dia internacional do trabalhador. Como o nome indica, é o dia dedicado à malta que trabalha, que dá o litro, que faz o mundo andar para a frente. Independente do que o leitor pensa sobre “manifestações” e sucedâneos, o primeiro dia do mês de Maio foi exactamente criado para isto mesmo: para protestar. Do que está mal, e do que está bem. É – ou devia ser – o único dia do ano em que o comum dos mortais operários se deve soltar das suas amarras e dizer de sua justiça. Não interessa se o que ele quer é menos trabalho e mais dinheiro, mais férias, uma ama-seca ou um novo martelo pneumático. No 1º de Maio fale, ou cale-se para sempre.
É lógico que nem toda a gente gosta de manifestações e prefere passar o feriado do lado dos seus familiares, fazer um piquenique, ir a um daqueles concertos deprimentes que se organizam neste dia, ou simplesmente ficar em casa a comer amendoins, beber cerveja e dormir, mas aí está, ninguém é obrigado a nada. Um amigo meu, muito anti-manifs, insiste que este dia foi consagrado a “descansar”, e não em “cansar-se mais”, com marchas pela cidade, levantamento de cartazes ou cargas policiais. A verdade é que se não fossem os heróis dos primeiros de maio passados, ainda trabalhávamos 15 horas por dia, sábados e domingos em alguns casos, e ganhávamos feijões perante a pujança deste sistema que consideramos “o menos mau”, o capitalismo.
Em Macau temos um passado recente de manifestações problemáticas. Em 2007 tivemos a primeira grande demonstração de desagrado da história da RAEM, com a manifestação do 1 de Maio que ficou célebre pelos cinco tiros disparados para o ar por um agente da autoridade. Essa manifestação foi uma enorme dor de cabeça para o Governo, e veio na sequência de um escândalo de corrupção dentro do Executivo apenas meses antes. No ano seguinte, num acto de real politik bastante questionável, Edmund Ho anunciava pouco antes do 1 de Maio o subsídio das cinco mil patacas, e as marés acalmaram. Remédio santo, repetido o ano passado com uma dose ainda maior, seis mil patacas. Este ano as águas voltam a estar conturbadas, apesar de um esforço suplementar do Governo com o anúncio recente do Plano de Poupança, pois há duas semanas um certo grupo de trabalhadores residentes descontentes demonstraram-se violentamente junto da Direcção dos Assuntos Laborais.
A questão do trajecto volta também a estar envolta em polémica, sempre com a tal dúvida se é permitido ou não passar pela Av. Almeida Ribeiro, uma espécie de santuário de pássaros da RAEM. A discussão sobre se os manifestantes devem ou não passar pela Av. Almeida Ribeiro é mais problemática que uma eventual passagem dos manifestantes. Certamente que amanhã toda a gente quer celebrar o 1 de Maio sem problemas, e as autoridades quererão ter também um feriado tranquilo. E depois é preciso não esquecer que os olhos vão estar postos em Xangai, na abertura da Expo 2010, e não nos grupos que vão estar amanhã a fazer o que é consgrado a esta data. Protestar, fazer barulho, dizer o que lhe vai na alma. Feliz 1º de Maio!