sexta-feira, 12 de junho de 2009

Os blogues dos outros


A notícia dos Uigures que podem ir para Palau depois de Guantánamo está a irritar os chineses. Palau, dizem-me, reconhece Taiwan. Palau parece um destino de sonho que ainda não escolheu associar-se à República Popular. A presença da China na Micronésia e na Polinésia tem sido esquecida como tema de notícias. Há pouco tempo, um amigo de passagem por Pequim em viagem para o Estado do Tonga contava-me que a grande presença estrangeira no Tonga são os chineses e que o Rei, com poderes absolutos, mantém contactos próximos com o governo de Pequim. Depois da garantia de um empréstimo assinado no início deste ano, surge uma notícia sobre o governo chinês estar a fazer pressão para proibirem a presença de Falun Gong no Tonga dizendo que isto ameaça o futuro das relações entre os dois países. Há decerto muito a explorar sobre esta presença chinesa no Pacífico Sul. A escolha do local pelo governo norte-americano parece ter sido acertada. Acredito que poucos terão ouvido falar da República de Palau antes dos Uigures serem notícia. Mas este pequenino Estado há já algum tempo que impacienta a China. Recebendo os prisioneiros Uigures, os Palauenses viram as costas, mais uma vez, ao país do qual todos querem ser amigo.

Maria João Belchior, China em Reportagem

Realiza-se este fim de semana a gala do cinema indiano no Venetian com a presença de algumas vedetas de Bollywood como os adolescentes que encarnaram as personagens Latika, Jamal e Salim em Slumdog Millionaire. Talvez seja por isso que ultimamente tenho visto autocarros a largarem magotes de indianos num restaurante ali na zona das Docas. É um espectáculo à parte vê-los a apreciar as motos que ali costumam estar estacionadas.

El Comandante, Hotel Macau

A arrogância sai derrotada deste escrutínio europeu. Uma arrogância bem expressa nestes 20 segundos de declarações de Vital Moreira à Antena 1, no passado dia 1, sobre o seu rival Paulo Rangel em que procurava justificar a sua incompreensível falta de acordo para um frente-a-frente televisivo:
"Eu é que não estou disposto, perante a incapacidade do líder da lista do PSD em ter o povo consigo, a dar-lhe uma boleia na televisão. Se ele quiser falar para os cidadãos, que vá à procura dos cidadãos e que atraia os cidadãos. Agora utilizar-me como lebre e utilizar a televisão para ir ao encontro dos cidadãos, não conte comigo. Não estou para fazer fretes."
Seis dias depois, o País percebeu quem tinha afinal "incapacidade em ter o povo consigo". E talvez Vital Moreira tenha aprendido, embora tarde de mais, que a arrogância é sempre má conselheira. Na política como na vida.


Pedro Correia, Delito de Opinião

Cavaco Silva resolveu vir criticar os abstencionistas. É mesmo de quem não percebe nada. Então a resposta a uma proposta política (eleição directa de deputados europeus) é a de que a esmagadora maioria dos eleitores não quer saber do assunto e o PR não percebe a mensagem? A continuar assim, a abstenção tenderá ainda a ser maior. E o que tem «os tempos difíceis» que vivemos a ver com a eleição de 22 deputados ao PE? «Não é aceitável» mandá-los às malvas porquê? Então agora são os dirigentes políticos que dizem o que o soberano (os cidadãos ) devem fazer e já não o contrário? Apenas num ponto se vislumbra alguma clarividência e mesmo autocritica , o que lhe fica bem: «Se não tivermos órgãos de representação prestigiados, será difícil aumentar a participação dos eleitores».

Gabriel Silva, Blasfémias

Quebro o pudor futebolês para assinalar a milionária transferência de Ronaldo para o Real Madrid por 100 milhões de euros, mais coisa menos coisa. A verba é escandalosa; face à situação financeira internacional, infame. Não está em causa o jogador português que adoro; mas este viver acima das possibilidades, esta ostentação da riqueza e do sucesso, quando à volta campeiam as dificuldades e o aperta-cinto é insultuoso. Quem pagará em Espanha o que Ronaldo custará ao Real Madrid? De onde vem este dinheiro que permite estes negócios das arábias? É a economia de mercado haverá quem replique; mas aonde? qual a origem do dinheiro? Algures no caminho, o futebol europeu irá pagar este viver acima das possibilidades. E mais alguém virá para lavar dinheiro, sob a capa de um grande investimento.
Desculpa Ronaldo...


Arnaldo Gonçalves, Exílio de Andarilho

Ele não tem culpa que exista um louco na presidência do Real Madrid a querer desembolsar quase 100 milhões de euros por um futebolista numa altura em que a Espanha (país que acolhe o jogador) e Portugal (país de origem do jogador) atingem recordes de desemprego. Ele não tem culpa, mas que o timing chega a ser obsceno, disso ninguém duvida. Ainda assim, Ronaldo tem mérito. Veremos se em Madrid resolve mostrar isso nos relvados ou fora deles. É que Madrid não é só a cidade onde ele vai jogar, é também a cidade onde vai residir.

Bruno Pires, Corta-Fitas

Sou uma pessoa muito compreensiva e, por razões que já apontei, consigo entender que as pessoas embirrem com o Cristiano Ronaldo. Aquilo que não concedo é que lhe menorizem o futebol. Ronaldo é um jogador assombroso com poucos paralelos históricos seja no valor utilitário para as conquistas da equipa, seja no valor estético-artístico para o património do jogo. Mais, a partir do momento em que o seu repertório de fintas começou a ser estudado em cursos de formação profissional pelos defesas laterais do futebol inglês, a partir do momento em que as dobras sofreram uma alteração conceptual para serem activadas preventivamente, a partir do momento em que as entradas a pés juntos se insinuavam como a resposta Indiana Jones para tanto malabarismo, Ronaldo, sabiamente instruído por Fergusson, com a ajuda da mobilidade do ataque do Manchester (destaque-se o papel sacrificial de Rooney), soube fazer uma assinalável transformação de extremo desequilibrador para avançado goleador. Deparando-se com um beco evolutivo imposto pelo corporativismo dos defesas, sempre pressurosos em juntar forças para pôr fim à humilhação do drible, Ronaldo adaptou-se de tal modo que hoje se atreve a pouquíssimos dribles (drible, enquanto logro ensaiado, diferente de arranque em velocidade no 1 para 1). Como dizia alguém numa tirada chauvinista sobre certa cantora repleta de outros dotes: "cantar para quê?". Ronaldo cabeceia como um Jardel, chuta com os dois pés como ninguém, tem um arranque colossal, (acho que perceberam a ideia, e também não quero chegar ao ponto de lhe elogiar os pontapés de baliza). Para não parecer inteiramente acrítico, diria que lhe falta visão de jogo capaz de potenciar a qualidade do passe vertical e uma melhor definição dos contra-ataques quando assume a primeira posse. Quanto ao sub-rendimento da selecção, está na altura de assumirmos que aquilo é uma equipa de segunda. Para lá do novel perfil do Prof. Carlos "Pardal" Queiroz, cabe perguntar: quantos jogadores portugueses actuam hoje como titulares incontestáveis em equipas de topo do futebol europeu? Respondo: Bruno Alves, Raul Meireles, Ronaldo, Bosingwa e Pepe. Muito pouco. Estou convosco se acaso desprezam Ronaldo por ser um básico sem gravitas, por ter elimando o (meu) Porto com aquele pontapé obsceno, por ser presumido sem estilo ou, mesmo, por pura inveja (excelente argumento, aliás). Agora, se querem mitigar a valia do jogador que nas próximas horas será transferido para o Real Madrid por 94 milhões de euros, não contem comigo. Se um jogador acostumado à seriedade do Manchester resistirá desportivamenete ao circo madrileno -- mesmo que ao lado de Kaká, um atleta de Cristo com passes divinais --, isso é outra questão.

Bruno Sena Martins, Avatares de um Desejo

O homem é secretário no Governo. Dizem, que é de Estado. Eu direi que é de estalo. No carro do Estado com chauffeur desloca-se a todos os acontecimentos desportivos e não só. Manda organizar cocktails enquanto o diabo esfrega um olho. Mobiliza as televisões e os fotógrafos num ápice sempre que há um olímpico com uma medalha, a Rosa Mota por perto ou uma corrida de meia tijela no autódromo de Portimão. O homem forte, e grande, de nome Laurentino Dias, sem perguntar nada a ninguém decidiu o absurdo: a ajuda de dois milhões de euros para um piloto medíocre que, por exemplo, por mais que tivesse tentado nunca chegou ao pódio do Grande Prémio de Macau - o Tiago Monteiro - e que atreveu-se a andar pela Fórmula 1 a fazer uma figura triste. O abonozito serviu para garantir a sua participação na Fórmula 1 (segundo consta, uma ajuda não só imoral, como ilegal). O tal Laurentino Dias corre o risco de ter de devolver o dinheiro ao Estado e, quem sabe, arranjar um consultor que lhe diga quem são os pilotos que merecem uma ajudinha...

João Severino, Pau Para Toda a Obra

Como a virgindade é coisa única, quem se dispõe a perdê-la, seja por libido exacerbado, por extaseamento, por deslumbramento, por higiene ou por distracção, arrisca a dor pelo prazer. Temo que se a perda de virgindade for só trauma e acto único, fique a ideia de que todos os que anteriormente a viveram só repetem o acto por malvadez. Na política também pode ser assim e se a perda for tão intensa que leve o trauma a provocar a insensatez de generalizar nos outros e em todos os que os antecederam a incapacidade de criar prazer, acaba-se isolado do mundo, agarrado à moralidade sensória e à frustração da irrealização, atirado para os confins de um carmelo sem nunca chegar ao prazer e à utilidade. Isto parece a estória da carochinha, e é. A estória da carochinha que queria casar com o João Ratão, o tal que morreu no caldeirão por querer comer a feijoada enquanto fervia.

Luís Novaes Tito, A Barbearia do Senhor Luís

Para mim, a diferença maior de Salazar (que não era fascista, como muito bem diz o Lidador, mas um mero ditador) em relação aos seus congéneres europeus da época é que, para começar, era um chato, um sensaborão que nem jeito tinha para aquelas "marchas grandiosas" organizadas pelos outros, que sempre davam um ar festivo à coisa, com aquele kitsch todo a esparramar-se pela existência dos cidadãos. O homem sufocava de falta de imaginação, encurvava-se para a sopeira e esganiçava perdigotos em direcção ao país, que via como uma vila de província nortenha, onde a tasca era a norma e o café um sintoma de modernidade suspeita de poder vir a adoecer ou, pelo menos, macular a virgindade feminina. O romano da história, que não conhecia uma letra do tamanho de um burro, fez por isso dos escravos uma biblioteca viva para declamarem citações durante os banquetes que dava; Salazar, por seu lado, entregou a cultura a António Ferro, o qual andara tempos e tempos a tentar meter-se no grupo de Pessoa e que, como não o tinham querido lá, aproveitou o quintalzinho de celebridade oferecido pelo filho do caseiro de Sta. Comba, com automóvel ministerial e tudo. Reconhecido, deu ao país a cultura que Salazar era capaz de entender, em forma de propaganda. Como cristão, era uma nódoa que mesmo ao Senhor custará tirar. Leu o Novo Testamento do cimo da burra em que andava quando jovem e, por esse motivo, trocou a frase de Cristo “Quem não é contra nós, é por nós”, por outra, que propagandeou: “Quem não é por nós, é contra nós”. Criou assim, para ele e para os seus compatriotas, um problema hermenêutico em teoria política, e uma explicação teológica entaramelada por parte da Igreja Católica, que, a partir daí, se emaranhou constantemente numa outra frase do Nazareno:”Não podes servir, ao mesmo tempo, a Deus e a Maimon”. Desconfiado e supersticioso como todo o bom provinciano, não fosse o demo tecê-las, diz-se que comia sempre alho antes de levantar o telefone para falar com Hitler, que se afirmava nacional-socialista, e com Mussolini, de quem também não esquecia o passado vermelho. Salazar foi uma espécie de Napoleão das couves, que utilizou as forças Armadas como o hortelão utiliza os cães para lhe defenderem a propriedade, que nele se reduzia à paternidade da Nação. Como toda a propriedade de carácter meramente ideal, ela reduzia-se àquilo que Nietzsche afirmava ser o essencial, pouco inteligente e pouco hábil, da filosofia platónica: “Eu, Platão, sou a verdade”. Quem percebesse Salazar, serenaria de vez e, exultante, colaboraria com ela; quem não visse a luz que a Pátria (Salazar) prodigalizava, deveria aquietar-se ou mesmo anular-se. Em casos de maior renitência (que ele, infelizmente, há sempre por aí gente má…), como aldeão de brandos costumes que era, amante da paz e a quem a violência perturba o calmo fluir do sono dos justos, mandava os cães menores resolver assunto, o mais discretamente possível, evitando o escândalo, impróprio de gente digna. Fora isto, era uma jóia.

José Gonsalo, Fiel Inimigo

Terços feitos de rolhas, rosários feitos de clips. A imaginação da pequenada deixou ontem marca no recinto da Cova da Iria (Fátima) que acolheu, de manhã, mais de 250 mil peregrinos, segundo contas do Santuário. Um coração gigante, ao fundo das escadarias, encheu-se de oferendas dos mais novos que ali chegaram de todo os pontos do País. “É mais gente agora que no último 13 de Maio”, informou ao DN fonte do santuário, garantindo: “esta tradicional Peregrinação Anual das Crianças bateu recordes”. Comentário: As crianças são facilmente influenciáveis.

Carlos Esperança, Diário Ateísta

"Cães pisteiros procuram avião da Air France na bagageira do carro dos McCann".

João Moreira de Sá, Arcebispo de Cantuária

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