Está confirmado que Fernando Chui Sai On será o próximo Chefe do Executivo da Região Administrativa Especial de Macau. O ex-secretário para os Assuntos Sociais e Cultura obteve 286 assinaturas dos 300 membros do Colégio Eleitoral, vazando assim a possibilidade de qualquer outra candidatura que pudesse surgir. O tal senhor da medicina chinesa foi entregar uma candidatura em branco, e alega que antes de Chui demonstrar a sua intenção de suceder a Edmund Ho, tinha conseguido vinte apoios, que depois se desvaneceram. Naturalmente.
Toda esta unanimidade em volta de Chui Sai On tem dividido opiniões. Os menos aventurosos consideram que é bom sinal, e que afinal "a união faz a força", ou que "em equipa que ganha não se mexe". Os críticos acham que a equipa não ganha tantas vezes como devia, e quem gosta de política fica a perder. Era saudável para a política local que aparecessem mais candidatos. Era emocionante se aparecessem três ou quatro candidatos, e que houvesse a necessidade de uma segunda volta. Certamente que existiriam algumas ideias e pontos de vista diferentes que no fundo convergessem para o bem estar de Macau. Ninguém no Colégio Eleitoral ia apoiar um louco ou um incompetente declarado. Digo eu.
Isto a propósito de um artigo de opinião assinado na edição de quarta-feira do jornal Va Kio por um tal de Lok Tin, de que tomei conhecimento ontem através do Ponto Final, e consegui fazer com que a minha tradutora de serviço me fizesse o favor de explicar em detalhe. O facto de alguém se congratular com o facto de, num
acto eleitoral, haver apenas espaço a um candidato espanta-me. Não me espantou há cinco anos quando Edmund Ho concorreu sozinho. Afinal o ainda residente de Santa Sancha teve um primeiro mandato exemplar, ao ponto de se conjecturar sobre a possibilidade de abrir a porta a um terceiro. Estranhamente nos anos que se seguiram a ideia foi perdendo força, até ser completamente esquecida. Ou não terá sido tão estranhamente assim, se tivermos em conta os caminhos sinuosos percorrido por Ho e a sua equipa (Chui Sai On incluído) durante o segundo mandato. Mas adiante.
Lok Tin faz-me lembrar outros opinadores que temem que se parta a loiça se a tirarmos do armário. Os exemplos que dá são quase anedóticos. Com que então Índia. Onde é que em Macau, uma cidade de meio milhão de habitantes, 20 km2 e uma população etnicamente homógenea, as eleições para o Chefe do Executivo iam gerar violência? Onde é que o facto de existir apenas um candidato é benéfico para qualquer eleição que se diz democrática? Assim de repente, com apenas um candidato eleito unanimamente, só me recordo da Coreia do Norte. Ou do Iraque de Saddam Hussein. Uma outra candidatura ia ser benéfica nem que fosse para que a população em geral saísse do marasmo e do desinteresse. Todas as opiniões que ouvi desde a data que Chui Sai On avançou foi que o Chefe já estava escolhido, e que este era um assunto que já não valia a pena discutir.
A existência de outra candidatura iria pelo menos demonstrar que existem pessoas que têm projectos, ideias novas que podem apresentar e tentar cativar o interesse de quem ache que algo deve ser mudado. Considero que Chui Sai On é uma boa escolha, e que a tal "continuidade" merece pelo menos mais uma oportunidade. Tenho a certeza que Pequim vai estar mais atenta ao que se passa no território durante este segundo período político, e o próprio ex-secretário deve saber disso melhor que ninguém. Não vi ser um chá dançante, como dizia o outro. Mas toda esta aura de concordância não pode ser positiva. Ou será que em Macau não há mesmo ninguém com coragem para tirar a tal loiça do armário? Assim vamos continuar a comer com os mesmos pratos de plástico.
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