domingo, 21 de junho de 2009

Um duque qualquer


Muito se tem falado da lista da comunidade macaense/portuguesa às eleições à AL. A confusão começa logo na designação. É uma lista macaense? Portuguesa? De "matriz" portuguesa? É ou não uma lista étnica? O problema não tem tanto a ver com a escolha dos candidatos, se são macaenses, portugueses ou chineses. Se são "Sangue novo" ou os suspeitos do costume. Tem mais a ver com a atitude e a presença das associações que integram, organizam e pensam a lista. Presença, ou falta dela. Se há algo de que não tenho dúvidas é do carácter elitista da lista. Como português residente em Macau, eleitor, e com os mesmos direitos dos restantes residentes permanentes da RAEM não me identifiquei com a "Macau Sempre", com a "Por Macau" e tenho quase a certeza que não me vou identificar com esta. Políticos de ocasião que botam falatura e dão palmadinhas nas costas de 4 em 4 anos não, obrigado.

Quando o ex-deputado Jorge Fão prevê que esta lista vai sofrer uma "derrota copiosa" não está a fazer futurologia nem previsão política. Está apenas a constatar o óbvio. Quando Fão expressa o desejo "Que pudesse existir um estreitamento de amizade e de convivência entre todas as comunidades, em vez de um certo isolamento, do género: 'Nós somos os macaenses... Os tais macaenses'" sabe do que fala. Não precisamos de pessoas que nos viram a cara na rua, não nos cumprimentam (às vezes fingem que não nos vêem), e só nos conhecem quando precisam de nós. Compreendo que Jorge Fão tenha comido algumas "uvas amargas" estes últimos anos, mas também tem razão quando insinua que alguns dos elementos desta comunidade estão "agarrados" aos cargos que ocupam. Aliás basta observar a sede de protagonismo bem patente em alguma imprensa onde se acotovelam para aparecer à frente nas fotografias.

A elite nunca foi em número suficiente para garantir uma eleição que necessita de mais de cinco mil votos. O mais provável é que concorram - e têm o seu mérito em fazê-lo - obtenham um milhar de votos (ou menos). No fim podem vir a parecer "um duque qualquer" em vez de um às de espadas. Depois esquevem, voltam às lides do associativismo, das festas de fato e gravata, da "diplomacia" e dos elogios ao poder local e central, enfim, do elitismo. Daqui a quatro anos lá estão outra vez a organizar debates no Clube Militar, armados em grandes políticos que querem mudar o mundo, juntamente com alguns portugueses metropolitanos que nunca perdem uma oportunidade para aparecer (e muitos nem votam). O que fazia mesmo falta aqui em Macau era um local como a Voz do Operário, para dar uma ar mais informal à coisa.

O deputado José Pereira Coutinho, persona non grata desta elite, tem pelo menos o mérito de aparecer de mangas arregaçadas, a colar cartazes, a discursar, a juntar-se ao povo. A "trabalhar", como ele diz. Apesar de não votar nele, já falei várias vezes com Pereira Coutinho, e é uma pessoa que sabe ouvir, que cumprimenta todos e não ignora ninguém. Podem chamá-lo má-lingua, demagogo ou o que quiserem, mas na hora de colocar o voto na urna, em quem se lembram os macaenses que não pertencem à tal elite? A postura contestatária é que vale votos numa eleição directa. Para concordar com tudo já lá estão os outros.

2 comentários:

Anónimo disse...

Caro Leocardo,

Mas quem bem, que análise tão lúcida. O antigo provérbio português ensina que "um homem nunca pode servir a dois senhores" e um chinês, que "Mais se fia num malfeitor do que num cão fugido ("chau cau", ou traidor).
Hossanas aos que se emocionam ao ouvir o hino da sua nova pátria e ao mesmo tempo arregimentam em nome da sua outra pátria...e no dia em que surgir uma terceira pátria, se der cobiça, quem sabe?

Um abraço,

Anónimo disse...

Viva o 24 de Junho!