Ouvi com alguma atenção a entrevista da Rádio Macau com Carlos Simões, notário-privado e presidente da Associação de Pais da Escola Portuguesa. Em cima da mesa estiveram temas variados sobre aquela instituição de ensino, que ao fim de mais de dez anos de funcionamento continua a ser ensombrada por alguma indefinição quanto ao seu futuro. Os três temas fortes continuam a ser os mesmos: a hipotética internacionalização da escola como forma de garantir a sua continuidade a longo prazo, o papel da Fundação Oriente, e a própria localização da escola.
Em relação ao primeiro tema, sou contra a internacionalização da escola. Podem chamar-me demagogo ou sonhador, mas nem a matriz de ensino se dá a tal aventura, nem é esse o seu propósito. A razão de existir da EPM passa por um princípio muito simples: a continuidade do ensino em português no território, como sempre exisitiu durante o tempo da administração portuguesa. Nesse tempo chegaram a existir várias instituições de ensino em Macau, sendo as principais a Escola Comercial (onde funciona actualmente a EPM), o Liceu Infante D. Henrique e o Colégio D. Bosco. Se passadas duas ou três décadas não existe interesse por parte dos pais (sim, são esses que decidem) então alguém esqueceu-se de fazer o trabalho de casa.
O que tenho sentido nos últimos dez anos é um cada vez maior desencanto por parte de quem a EPM nasceu para servir: a comunidade macaense. Existe apenas uma percentagem ínfima de macaenses que inscreve os filhos na EPM, no ensino em português. Chego a pensar mesmo que os poucos que ainda optam por ter os seus filhos a estudar em português fazem-no por "tradição", ou por alguma desconfiança quanto ao futuro da RAEM, ou por qualquer ligação sentimental ao longínquo Portugal. Os outros, mais pragmáticos, optam pelo ensino em chinês, de modo a que os jovens sejam mais facilmente integráveis no mercado de trabalho no futuro. Outros pais portugueses optam pelas tais escolas internacionais, mais caras, e que segundo eles oferecem uma melhor qualidade de ensino. Eu tenho os filhos na EPM simplesmente porque é a única opção. Se a ideia é uma escola internacional, isso devia ter sido pensado há anos, e não de um dia para o outro quando se verifica que a escola afinal tem metade dos alunos que tinha quando começou, e levam-se as mãos à cabeça à procura de uma solução fácil e rápida. Uma escola internacional não se faz assim do dia para à noite.
A questão da Fundação Oriente continua a ser a pedra no sapato da EPM. Carlos Simões diz e bem que a FO tem apenas servido de travão a mudanças que se querem operar na escola. O ideal seria sem dúvida a saída da FO da EPM e uma aproximação maior ao Governo da RAEM, que quer se queira, quer não, nunca tem faltado com o mínimo essencial a uma escola que no fim de contas também está integrada neste território que é agora chinês. Fica mais fácil andar de braço estendido a quem está aqui perto, do que a quem está a milhares de quilómetros de distância. Mesmo assim, e apesar dos "azeites", tenho a certeza que se o sr. Carlos Monjardino aparecesse um dia destes em Macau e visitasse a EPM, estendiam-lhe a passadeira vermelha, na ilusão de que dali ainda pode vir qualquer coisinha. Desculpem lá se isto parece má-língua, mas até sou capaz de apostar que assim seria.
Finalmente quanto à localização da escola. Pode-se dizer que neste caso a crise económica mundial veio mesmo a calhar. Satanley Ho abriu o casino há dois anos, mas ainda não abreiu o hotel. A crise travou a veia expansionista do Grand Lisboa e penso que se não fosse ela a EPM provavelmente já não estava no mesmo lugar. O assunto ficou meio esquecido desde a crise do Verão de 2007 que obrigou a uma reunião de emergência nas instalações da escola. O que continua por explicar é o papel da Associação Promotora da Instrução dos Macaenses (APIM), a quem o terreno da escola foi concedido de forma gratuita e vitalícia, sendo que esta última palavra significa que a EPM pode ali funcionar para sempre, independentemente do que acontece nas suas imediações, ou de quem quer a escola dali para fora. Talvez fosse interessante se essa pergunta tivesse sido colocada ao presidente da APIM na entrevista hoje publicada no JTM.
15 comentários:
O hotel do Grand Lisboa já abriu há alguns meses.
O Leocardo fala fala mas também não apresenta solução nenhuma para o problema da falta de alunos. Qualquer dia teremos uma escola com apenas umas dezenas de alunos e depois??
"A razão de existir da EPM passa por um princípio muito simples: a continuidade do ensino em português no território" - Então e uma escola internacional que continue com o ensino em português mas em paralelo também com outras línguas não satisfaz esse principio?
"... como sempre exisitiu durante o tempo da administração portuguesa" - pois se calhar o problema é mesmo esse. É que não consciencializamo-nos que isso faz parte do passado, e que agora vivemos numa realidade completamente diferente.
"Uma escola internacional não se faz assim do dia para à noite." - Pois é tem toda a razão, mas se for esse o caminho a tomar, temos de começar por algum lado, não é? Mais vale tarde que nunca (e já vamos muitissimo atrasados...) Agora como as coisas estão agora é que não... Todos ralham, todos berram, todos discutem mas quem sofre com esta indefinição é a escola que cada ano tem menos alunos e parece estar a morrer aos poucos.
"Fica mais fácil andar de braço estendido a quem está aqui perto, do que a quem está a milhares de quilómetros de distância." - E por fim, é isto que me provoca profunda tristeza. Porque é que a nossa comunidade tem de andar constantemente a pedir esmola por todo o lado, de braço estendido sempre na esperança que nos acudam??
Mas alguma outra comunidade local, sejam os americanos, ingleses, filipinos, indonesios, tailandeses, sei lá, o que quer que seja anda como nós sempre a pedir apoios para tudo e mais alguma coisa? Seja ao Governo, às fundações (locais e de Lisboa), ao tio Stanley, ao pai Natal...
É triste que nunca consigamos resolver os nossos problemas sem andar nesta "pedinchice".
Sou a favor da escola internacional, não porque é uma solução ideal, mas porque parece-me ser a única alternativa a um futuro de mendigo subsidio-dependente.
HEHE o anónimo nem parece que é português.
Então mas você não sabe que a seguir ao futebol, o desporto rei dos portugueses é a pedinchice e a caça ao subsídio??
É realmente confrangedor que quase tudo o que seja organizado pelos portugueses em Macau tenha de ser sempre apoiado, ajudado, subsidiado, facilitado, directa ou indirectamente pelo Governo de Macau. Sejam elas escolas, instituições, associações, festas, eventos culturais ou o que quer que seja.
Contam-se pelos dedos as iniciativas de matriz portuguesa que conseguem ser realmente auto-suficientes em Macau. Claro que a comunidade é pequena, mas também não há muito esforço no sentido de resolver os problemas por si só, sem o recurso sistemático aos apoios do Governo.
Um dia que a torneira deixe de pingar e isto vem tudo abaixo.
Vamos lá analisar os pontos um por um.
Anónimo das 13:16 - Ai sim? Não dei por nada...
Anónimo das 16:10 - Falo, falo e não sou o único. Aliás, a respeito da questão da EPM toda a gente bota faladura há anos e ninguém arregaça as mangas. Incluindo os seus responsáveis, alguns deles mais embrenhados nos seus próprios negócios do que em resolver o problema que se arrasta há vários anos.
Uma escola internacional não se faz assim de um dia para o outro, e se a ideia era essa devia ter sido pensada no início. Aliás, agora pergunto eu: uma escola internacional implica que o ensino seja em inglês, correcto? E o alvo principal? Outros expatriados e residentes locais que queiram que os seus filhos estudem inglês, certo? Então quem é que estes vão preferir? Uma escola que ensina em inglês administrada por portugueses, ou as escolas internacionais já existentes administradas por ingleses, americanos e canadianos? Think again.
Tenho amigos e amigas chineses e macaenses que estudaram no ensino em português, sabem falar e escrever chinês, e estão tão integrados na sociedade e no mercado de emprego como qualquer outro residente que estudou nas escolas em chinês. Até têm a vantagem de dominar a outra língua oficial. Esta é a mensagem que tem que passar: que a EPM tem qualidade e que aprender português não é nenhum estorvo para a possibilidade futura de conseguir emprego. Até pode ser uma vantagem.
Se olhar para a lista de alunos da EPM vai verificar que todos os naos entram quatro ou cinco alunos 100% chineses. O ideal era atrair mais, em vez de 3 ou 5, uns 40 ou 50, mais os tais que saem do Jardim de Infância ou chegam de Portugal. Assim era meio caminho andado para garantir a manutenção da escola e ao mesmo tempo mantê-la fiel ao seu propósito e à sua matriz.
Se não gostou da expressão "de braço estendido" sugiro então "bater à porta". Não foi minha intenção dar a entender que a comunidade anda à esmola. Mas que é completamente independente, lá isso não é, pois não? O que eu quis dizer foi que até hoje temos dois polos: a FO e o Governo da RAEM. O primeiro está-se nas tintas, e o segundo tem cumprido com as suas obrigações, por mínimas que sejam. Isto leva-me a pensar que se o Governo da RAEM tiver um papel mais activo, vai continuar a cumprir e ficamos a saber com o que contar.
Anónimo das 20:37 - É assim a vida. Não há dinheiro, não há palhaços.
Cumprimentos.
Se o atento Leocardo acha que o Grand Lisboa ainda não abriu como hotel, então espreite aqui:
http://www.asiarooms.com/macau/macau/grand_lisboa_hotel-hotel-room.html
O Asia Rooms deve estar a aceitar reservas para esta semana só para o contrariar, não?
Nisso da caça aos subsídios, os macaenses são absolutos campeões em toda a linha.
Até um jantar de confraternização na casa de Macau da California tem de ter uns apoiozinhos do governo ou de uma qualquer fundaçãozeca para se poder realizar.
Dispender dinheiro do próprio bolso?? Tão a gozar, não?
Pronto, anónimo das 6:04. O mais importante disto tudo para si é que os quartos do Grand Lisboa já abriram. Parabéns.
Lá está o Leocardo amuado outra vez. Ó Leocardo, o anónimo das 6:04 (isto qualquer um percebe) só voltou a insistir porque aquela sua resposta ("Ai sim? Não dei por nada...") deu-nos a entender (suponho que a todos) que o Leocardo não tinha acreditado muito no que ele tinha dito. Então, limitou-se a guiá-lo até à fonte. É preciso ficar amuado por causa disso?
Acreditei, mas ou não foi suficientemente publicitado para eu dar por isso, ou simplesmente não interessa para o caso. Mas que importância tem isso afinal? Muda alguma coisa?
Cumprimentos (desamuados).
Tantos comentários e ninguém se debruça sobre:
- a razão porque depois de falhada a tentativa de instalar no D. José da Costa Nunes os canadianos, tudo passou a ser feito para que aquela escola com educadoras de excelência passasse a perder alunos todos os anos;
- a razão pela qual se chegou ao ponto do director da escola desaconselhar os pais de colocarem lá os filhos, porque "não vale a pena", como aconteceu no último ano lectivo!
- a razão porque nem sequer se pediam os subsídios normais postos à disposição daquele tipo de escolas pelos Serviços de Educação, e se cortava qualquer iniciativa de educadoras ou da Associação de Pais com o argumento de falta de verba;
- a razão porque de repente a APIM passou a estar tão interessada na dinamização do Jardim Escola que celebrou um protocolo com o Instituto Inter Universitário para a reactivação do mesmo;
- a razão porque de repente o Presidente da APIM aproveita uma entrevista num jornal diário para fazer uma escandalosa lavagem do passado relacionado com a Escola Portuguesa de Macau, vestindo a pele de cordeiro para afirmar que a APIM nunca quis a EPM naquele local e que só a intransigência do governo português e a invocação de desígnio nacional tinham obrigado a aceitar....., só depois aparecendo um interesse de alguém no terreno, passando por cima do assunto como gato por cima de brasas...
Cont. - a razão porque está aquele senhor a tentar fazer passar por tontos, mal informados ou mal intencionados todos aqueles que sempre se opuseram ãquela escolha e defenderam o Liceu de Macau como a escolha adequada e, todos, quer dizer pais, cidadãos interessados no futuro de Macau e da presença portuguesa, o próprio governador Rocha Vieira, o Presidente da República depois de lhe ter sido explicado o assunto claramente...ao contrário dos argumentos que lhe andavam a vender...
- a razão porque o anúncio da escolha foi feito repentina e apressadamente quando perceberam que o Presidente já tinha entendido e, antes que o mesmo tivesse tempo para actuar;
- a razão porque, exactamente a APIM clamava que o liceu seria um elefante branco, de tamanho excessivo, difícil de gerir e manter, e que a Escola Comercial era o sítio adequado, que até já estavam habituados a gerir....
- a razão porque o presidente da APIM afirmava com voz grossa há tempos não muito longínquos, também em jornal diário, que as condições da eventual transferência da EPM eram como ele queria ou então não era...... e agora vem de balde de lixívia tentar branquear toda a história... como se toda a gente que acompanhou ou sofreu ou lutou pelos interesses da EPM e da comunidade de língua portuguesa a quem a Escola tem servido de forma exemplar pela dedicação e trabalho dos seus professores e da extraordinária firmeza e amor à causa da sua directora Dra. Edite Silva, dizia, como se todos tivessem perdido a memória, morrido ou emigrado e já não restasse alma viva para dar testemunho da história, para dar testemunho da tentativa de destruição, paulatina e perseverante, da escola, do caminho de acesso à mesma, para se conseguirem realizar interesses materiais de todo estranhos à EPM;
Cont.- Ninguém comenta nem se interroga que relação terá este branqueamento da história com a aproximação do fim do mandato do actual governo,
com a perda da esperança de conseguir resolver o assunto como arrogantemente afirmara, ter de ser como ele queria, mas que afinal não foi, nem sobra tempo para ser....
- Uma nova estratégia, para uma situação nova que se avizinha, um novo xadrez com pedras desconhecidas, ou tão conhecidas que há que começar já a desencadear uma nova táctica?
Afinal o tal comodato das instalações do D. José da Costa Nunes tem lá aquela espinha - de ser destinado ao ensino pré-primário em língua veicular portuguesa - que é preciso arranjar maneira de remover!!!
E, quando se fala do reforço da componente linguística, o que está escondido atrás desta expressão?
Nada impede que o ensino em língua veicular portuguesa integre diferentes componentes linguísticas, que só podem valorizar o ensino e enriquecer a formação das crianças!!
Porquê então a associação dessa eventual reforma à necessidade de renegociação do contrato?
Será que o Presidente da APIM pensa que num momento em que tantas coisas acontecem em Macau, andamos todos distraídos??
E já agora uma última interrogação: qual a bondade da participação do Instituto Interuniversitário neste "passe" ? Qual o seu interesse neste protocolo?
Já vimos o suficiente, mesmo os mais novos se estiveram atentos, para . não acreditarmos nem em anjos nem em contos de fada!!!
Pois é isto vai longo, mas muito mais havia para reflectir... Pode ser que outros que não sofram de amnésia ajudem a desmistificar as declarações seráficas do Sr. Presidente da APIM
Parabéns pelas últimas três mensagens (ou melhor, pela última, dividida em três partes). São mensagens como estas que fazem valer a pena ler este blogue.
Faltou acrescentar que o senhor que deu essa entrevista ao JTM lá estava hoje ao lado dos candidatos da "Voz Plural", quando apresentaram formalmente a lista. Eles e os seus compinchas do costume.
Espero que as pessoas comecem a perceber depressa o que está por trás desta lista.
Independente das politiquices do costume, era interessante lembrar a Fundação que o ensino sempre foi um bom negócio, sobretudo o bom ensino.
Em Macau nem sequer é dificil fazer melhor que a concorrência.
Claro que é necessário algum investimento, mas a alternativa é fechar a porta daqui a algum tempo, o que será uma vergonha.
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