Uma das ideias que se tirou destas eleições europeias foi o descontentamento dos eleitores com os Governos dos seus países. É perfeitamente legítimo que assim seja, especialmente em tempos de crise económica. Não há governo que tenha a fórmula mágica para resolver a crise, mas é natural que por isso sejam penalizados nas urnas. Outra coisa não seria de esperar. Outro efeito foi a subida dos partidos ditos de extrema-direita e de extrema-esquerda, os tais para quem tudo “é fácil”, e a quem fica mais fácil chegar ao coração do eleitor mais desprevenido. Ainda me faz um pouco de confusão como alguns senhores que são anti-europeistas e querem a saída do seu país da UE, vão agora sentar o rabinho no Parlamento Europeu. A culpa é da malta da banca, a culpa é do Governo, a culpa é da imigração.
Em relação a este último ponto, a imigração, é com bastante pena que assisto cada vez mais à responsabilização dos imigrantes pelo actual estado de coisas. É ainda mais triste ver isso acontecer em Portugal, um país, ele próprio, de emigrantes. Segundo os dados da Direcção Geral de Assuntos Consulares, são agora pelo menos 5 milhões. Isto sem contar sem aqueles que deixaram um dia a casa dos pais e nunca mais foram vistos. Conheço uns dois ou três casos desses. A má vontade demonstrada pelos nossos compatriotas pela malta que vem de fora tem laivos de falso novo-riquismo e hipocrisia. Falso porque não somos ricos. Hipocrisia porque também não gostamos de ser mal tratados quando trabalhamos lá fora, ou se temos pelo menos um familiar a residir e a trabalhar no estrangeiro. Nem falo dos holandeses e dos franceses, que esses já não me surpreendem; têm o pézinho a atirar para o chinelo nazi. Deve ser da sua própria natureza.
Já sei que é um lugar comum, e que se calhar nem vale a pena estar aqui a repetir que os estrangeiros fazem falta, e que daqui a uma geração, graças ao envelhecimento da população, não vai haver dinheirinho para pagar as pensões. Se nos países ditos desenvolvidos os casais optam por ter um ou no máximo dois filhos, a culpa não é dos ucranianos, turcos, brasileiros ou africanos, que por acaso são uns tipos que adoram procriar. E a maioria desses imigrantes são gente educada, inteligente e trabalhadora, que tem muito para dar. Ninguém pensa em mudar de país para se tornar num marginal. Além disso, os imigrantes vêm sobretudo fazer trabalhos que mais ninguém quer. Os pseudo-intelectuais da extrema-direita e os seus mui iludidos apoiantes gostam é do trabalhinho sentado sem fazer muita força. Estão-se nas tintas para os trolhas e para os operários da construção civil.
O mais importante para resolver o problema da imigração passava por: 1) Criar condições para receber apenas os imigrantes que venha trabalhar e sejam úteis; 2) Garantir que estão em situação legal e 3) Assegurar a sua fácil adaptação ao país de acolhimento. Sim, porque a segunda geração desses imigrantes já terá a cidadania desse país. Um filho de portugueses que nasce na China é tão português como um filho de brasileiros, congoleses ou chineses que nasça em Portugal. Já agora ajudava também, e muito, se existisse uma maior cooperação entre países de origem e de acolhimento no sentido de identificar imigrantes que tenham sido condenados no seu país por crimes como furto, violação ou lenocínio. No presente, um país sem imigrantes é um país que não interessa a ninguém. No futuro um país sem imigrantes, ou com poucos imigrantes, é um país deprimente, cinzentão, sem a cor, o sabor e o ritmo que as culturas dos quatro cantos do mundo vêm sempre trazer. Temos como melhor exemplo os Estados Unidos, o
melting pot original. Mesmo os povos nórdicos, os suecos, os noruegueses e finlandeses, pelam-se pela malta de tez escura, pela genica dos latinos, pela cultura asiática. Para eles os imigrantes são o “missing ingredient” que torna o seu país “mais especial”.
Em Macau temos sobretudo imigrantes da China continental, filipinos e, ultimamente, indonésios. Realizam normalmente trabalhos na construção, nos hotéis, nos casinos ou nos restaurantes, ou como empregadas domésticas, nos dois últimos casos. Não fossem estes imigrantes e Macau sofreria de complicadíssimos problemas estruturais. Não consigo imaginar como seria se Macau não tivesse os trabalhadores da construção da China continental a construír as suas magníficas obras a tempo e horas, ou a simpatia e a limpeza dos empregados e empregadas filipinas nos nossos restaurantes e nas nossas casas. Sejamos realistas: os residentes de Macau, mesmo os com uma educação média, não estão dispostos a trabalhar na construção ou a servir à mesa dos restaurantes. O pouco que tem sido (mal) feito para diminuir o trabalho não-residente passa por restringir cotas desses trabalhadores, e em alguns casos as pequenas e médias empresas são obrigadas a fechar as portas por falta de mãos para trabalhar. Dos residentes de Macau que aceitam fazer esse tipo de trabalho (aliás pouco atraente em termos de pagamento), a maioria desiste ao fim de uma semana, ou revela uma inaptidão para a função.
Existe um conceito errado que o Novo Macau Democrático, por exemplo, é contra os imigrantes. Isso é apenas uma meia-verdade. O NMD não teve, não tem nem nunca terá a capacidade de resolver o problema dos trabalhadores ilegais. Isso cabe ao Governo, e o NMD só funciona aqui como um grupo de pressão, e mesmo que cometa alguns excessos no seu discurso, isso só pode ser entendido como uma forma de populismo. Os tais trabalhadores não-residentes não votam, e dizem aquilo que a malta de cá quer ouvir. É o dever do Governo fiscalizar o trabalho ilegal, e é a responsabilidade das empresas assegurar que não contratam trabalhadores em situação ilegal. Uma maior penalização destas seria talvez meio caminho andado para resolver o problema dos trabalhadores residentes, os tais que nos últimos anos têm mostrado não sei quantos "cartões amarelos" ao Executivo. E depois que tal pagarem um bocadinho mais que os habituais amendoins que os tais trabalhadores não-residentes aceitam de bom grado? O recente caso dos recém-licenciados do Instituto de Formação Turística (IFT) é exemplo disso. Empregos até há, mas será que eles querem? Toda a gente sabe que pagando vencimentos idênticos a residentes e não-residentes, as empresas vão dar preferência aos trabalhadores locais. Enquanto isto não se resolve, mais imigrantes. Please.
9 comentários:
Caro Leocardo para se resolver o problema da imigração há que 1.o Garantir que só entram os que estão em situação legal; 2.o Que apenas sejam autorizados os imigrantes úteis e que estes sejam recebidos em condições; 3.o Assegurar a sua fácil adaptação ao país de acolhimento.
Há por aí muito bom hipócrita que defende que se receba tudo, que se criem condições, que se legalize e se subsidie a torto e a direito.
A confusão que é ver ucranianos, russos ou brasileiros com licenciaturas e doutoramentos em física, medicina e outras profissões onde nós temos gente aos pontapés trabalhar numa obra.
Ah, os holandeses têm o pezinho a atirar para o chinelo nazi? Esquece-se que séculos antes de existir o nazismo de Hitler, eram os portugueses e os espanhóis que perseguiam os judeus. Um dos maiores artistas plásticos holandeses do século XX chamava-se Joseph Mendes da Costa. Por que será? Porque sempre foram os holandeses que mais receberam todos aqueles que eram perseguidos noutros países. Não há ninguém na Europa que tenha uma história de tolerância como os holandeses. Durante o nazismo, também foi na Holanda que mais cidadãos não-judeus se puseram do lado dos judeus, defendendo-os contra tudo e contra todos.
Só não percebe quem não quer (ou quem não conhece a actual realidade europeia) por que é que a Holanda agora deu tantos votos à extrema-direita e por que é que esta está a subir em praticamente todos os países europeus.
Não se lembra da crise dos "cartoons", em que um numerosíssimo grupo de muçulmanos empunhava em Londres cartazes em que ameaçavam destruir a Europa? Não se lembra de Theo Van Gogh, o cineasta holandês que foi assassinado no seu próprio país (a Holanda) por ter realizado um filme em que denunciava aspectos menos "claros" do islão?
Muito poucos europeus são racistas ao ponto de acharem que não devia haver imigrantes na Europa. Agora, o que também não são é burros, e sabem que se fossem viver para um país estrangeiro teriam de se acomodar às leis desse país, coisa que não vêem acontecer com muitos imigrantes no seu próprio país, que querem impor a sua forma de vida até nos países dos outros. E qualquer europeu que denuncie isso é logo chamado de racista.
Muito ingénuo é o Leocardo se acha que todos os imigrantes da Europa o que querem é só trabalhar. Esses sempre foram bem acolhidos. O problema é que cada vez há mais dos outros, e alguma coisa tem de ser feita em relação a isso.
Vá lá viver para o meio daqueles bairros portugueses que se chamam todos "Quinta não-sei-das-quantas", que depois percebe logo do que é que estou a falar.
Porquê? É num dos bairros "não-sei-das-quantas" que vive? Se não, fala sem conhecimento de causa. Os seus argumentos são tipicamente anti-imigrante, os tais que referi aqui.
Isto não é nada contra os holandeses, mas muitos que conheço estão contra a islamização do seu país, por exemplo. Uma questão puramente cultural. Se os holandeses acham que têm turcos a mais, mandam-nos embora e façam mais holandesezinhos. A principal razão dos fluxos imigracionais na Holanda foi esse: a falta de mão-de-obra.
Quanto aos tais imigrantes que não querem trabalhar ou ser úteis, penso que deixei bem claro que não fazem falta nenhuma.
Cumprimentos.
Holanda e o pais das aparencias,como pode 1 pais cuja tradiçao natalicia e gozar com os negros(o zwart pete,ou preto pedro),onde o pai natal tem escravos ,o tal dito pete,q serve para carregar os sacos do dito cujo,e atormentar as crianças,caso nao s portem bem.como e q 1 pais assim tem moral para falar d tolerancia?nao m entendam mal,a holanda tem coisas boas,mas tbm tem coisas muiiiito mas,sei pq vivi la,e mais facilmente 1 holandes ajuda 1 cao do q 1 emigrante....ps-sobre os judeus,Ann frank foi entregue aos nazis,por 1 holandes d gema...por isso nada d falsos moralismos...
"Um filho de portugueses que nasce na China é tão português como um filho de brasileiros, congoleses ou chineses que nasça em Portugal"
Mas que argumentação esquisita!
A avaliar pela sua frase, o filho de brasileiros devia ser brasileiro, o filho de congoleses congolês e o filho de chineses chinês; ou entao, o filho de portugueses, chinês.
Quer dizer que não vivendo no sítio, fala-se dele sem conhecimento de causa. Então não fale da Europa, porque não vive lá e, portanto, não tem conhecimento de causa.
Em primeiro lugar, falo do que eu quiser. Em segundo lugar, o que eu disse foi que um PORTUGUÊS que nasça na China é tão PORTUGUÊS como um filho de congoleses, brasileiros, etc. que nasça em Portugal. Estava aqui a falar de PORTUGUESES, não de brasileiros, ucranianos e congoleses. Se não percebeu, pena. Se estava a tentar baralhar, não conseguiu.
Cumprimentos.
O Leocardo quando fica irritado não dá uma para a caixa. Não fui eu que falei daquela confusão de comparar um português que nasce na China com um de outra etnia que nasce em Portugal. Mas quem falou disso tem toda a razão: a comparação não tem ponta por onde se lhe pegue.
Quanto à resposta que me dá ("falo do que eu quiser"), é exactamente como eu. E por isso estou-me a cagar para o politicamente correcto e digo e reafirmo que grande parte dos estrangeiros que estão hoje em Portugal são uns criminosos que já deveriam ter sido deportados há muito.
Aliás, se há coisa que os hiper-adorados EUA, país da liberdade sem limites, fazem bem é isso: enviar criminosos estrangeiros de volta à procedência. Se for aos Açores, vai ver muitos desses. Mas vá lá primeiro, caso contrário estará a falar outra vez sem conhecimento de causa.
Não procurei aqui nenhuma onfrontação consigo, não fiquei zangado. Eu falo do que quiser, vc fala do que quiser, falamos todos do que quisermos. Estava a responder a ambos, não preciso de um comentário separado para cada um. E tem razão quanto ao último ponto, e é por isso que defendo que os países de acolhimento e origem devem estreitar a cooperação no sentido de detectar criminosos que resolvam emigrar.
Cumprimentos.
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