quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Um monte de sarilhos


O cardeal patriarca de Lisboa D. José Policarpo lançou ontem uma farpa no campeonato inter-religiões, ao considerar os "irmãos muçulmanos" umas pessoas "muito difíceis de dialogar", e apelou às mulheres portuguesas que "pensem duas vezes" antes de contrair matrimónio com um muçulmano, o que pode levar a "um monte de sarilhos que nem Alá sabe como acabam" (humor conventual, ah, ah). O Islão é a segunda religião mais seguida em todo o mundo, com um quinto da população mundial, sendo que nos últimos anos se tem alargado um pouco por toda a Europa.

Todos sabemos a imagem que os media pintam do Islão. A violência contra mulheres, os atropelos aos direitos humanos, o fanatismo, o terrorismo (que não é exclusivo do Islão), uma série de violações das mais básicas liberdades fundamentais que conheceram o seu apogeu durante o reinado de terror dos talibãs no Afeganistão. Não que a própria igreja católica que o sr. cardeal-patriarca representa esteja isenta da sua cota de crimes ao longo da História, e é apenas relevante que tenham sido cometidos, independentemente da sua gravidade ou "intensidade".

Se é verdade que ser muçulmano pode ser "complicado", principalmente para as mulheres, também não é menos verdade que existem exemplos de sucesso e tolerância. Conheço vários muçulmanos que não exibem quaisquer sinais de intolerância ou ódio para com outras religiões, bem como já visitei alguns países islâmicos onde não tive qualquer tipo de problema em ser de uma confissão religiosa diferente. No fundo o Islão passa a mesma mensagem que a maioria das religiões: a mensagem da paz.

Todos conhecemos exemplos de cristãos que se converteram ao Islão, por uma razão ou outra. O cantor Cat Stevens, o rapper Ice Cube, o futebolista Frank Ribery, a estrela da NBA Kareem Abdul-Jabar (n. Lew Alcindor), o boxeur Cassius Clay (mais conhecido pelo seu nome muçulmanos Mohammed Ali), ou vocalista dos Bauhaus Peter Murphy (quem diria...), entre muitos outros. Alguns bons exemplos de que uma leitura mais atenta do Corão pode mudar a perspectiva das coisas são David Myatt, um ex-neonazi britânico, ou o célebre espião russo Alexander Litvinenko, que se converteu pouco antes de morrer.

Daí que ache que o sr. cardeal tenha pisado na bola. Talvez seja um facto de que os muçulmanos pensem que "a verdade deles é única e é toda", mas não estão sozinhos. A igreja católica não é famosa por dar o braço a torcer em muitos aspectos, como sejam a contracepção, a homossexualidade ou mais recentemente a manipulação genética, o que tem impedido em grande medida que sejam feitos avanços na medicina que poderiam levar à descoberta da cura para muitos flagelos que afligem a humanidade. Além disso não me apetece mesmo nada pertencer a uma religião que me acena com o inferno caso eu me porte mal, ou que me força a acreditar que a humanidade foi criada por Deus há 6000 anos e que tudo é como sempre foi e sempre será. Deve ser complicado casar com um católico.

9 comentários:

Anónimo disse...

Oh meu caro Leocardo,

Já que perorou sobre os referidos comentários, polémicos é certo, podia igualmente ter referido outros comentários que, decerto, não passariam a ideia de que o Cardeal se limitou ao ataque a outra religião.

Ora, por exemplo, temos o acto de contrição do Cardeal Patriarca ao referir que "Um dos principais entraves ao diálogo entre cristãos e muçulmanos é a ignorância relativamente a aspectos fundamentais da religião e que determinam posicionamentos de vida."

ou,

“Nós somos muito ignorantes. Queremos dialogar com muçulmanos e não gastámos uma hora da nossa vida a perceber o que é que eles são. Quem é que, em Portugal, já leu o Alcorão?”.

ou,

“Se queremos dialogar com muçulmanos temos de saber o bê-a-bá da sua compreensão da vida, da sua fé. Portanto, a primeira coisa é conhecer melhor, respeitar”.

Portanto, reduzir a entrevista às partes transcritas e não passar estes comentários é intelectualmente desonesto. Já que exemplificou tão bem as conversões, dê exemplos de um representante de outra religião tenha, recentemente, chegado e divulgado conclusões de teor semelhante.

Que a Igreja Católica tenha culpas no cartório quanto aos seus actos há centenas de anos ninguém o nega. Mas entender o Catolicismo e a sua mensagem como sendo as da Inquisição e as suas acções de ajuda às da tortura é redutor.

Culpar a Igreja Católica do atraso das curas (que pelos vistos estão ao virar da esquina e só não são divulgadas por causa de uns quantos padres) é também desonesto. Que se saiba não cabe à Igreja legislar ou proibir tais investigações mas aos Estados e aos Governos de cada país. Tirando o Estado do Vaticano em que outro país governa um membro do clero?

O que se estranha, caro Leocardo, é que nos dias que correm todos podem ter a sua opinião menos a Igrega Católica. Porquê? Porque razão são as suas opiniões imediatamente analizadas ao pormenor, tiradas do contexto e omitidas outras afirmações reveladoras de tolerância e disposição para o diálogo e para o entendimento?

A meu ver, sem menosprezo por outras religiões e crenças, ainda continuo a achar que a mensagem cristã e os princípios que promove são algo de intrinsicamente bom e de amor pelo próximo.

Um pouco de respeito e equilíbrio é de esperar e de exigir. E acho que finalmente chegou a hora de deixarmos de aceitar calados críticas injustas. Que alguém queira crescer sem acreditar em nada, ou acreditar em algo diferente, nada a opor. Cada um sabe de si.

Espero que aceite estas críticas, não como uma tentativa de conversão mas, como uma reacção de alguém que, conhecendo o Cardeal Patriarca, ficou preocupado com a entrevista que transcreveu selectivamente, para depois descobrir que afinal a extensa e predominante mensagem de abertura e procura de um entendimento foi omitida.

Leocardo disse...

Meu caro anónimo:

Li também a reportagem do Expresso (de onde aliás tirei a imagem). Dizer que casar com um muçulmano é uma espécie de terror e depois dizer que afinal eles até são uns gajos porreiros e nós é que não os compreendemos é que me parece ser intelectualmente desonesto. Claro que "é preciso respeitar". É o mesmo que dizer "são uns facínoras e uns fanáticos, mas epá eu respeito-os, que se matem, que se esfolem mas não me aleijem".

Nada tenho contra a Igreja católica em geral, e as minhas críticas têm a ver com o facto da igreja cristã (que se sente ameaçada pelo Islão em termos de representação, e isso não há que negar) venha apresentar o Islão como uma loja dos horrores, simplesmente porque algumas facções combatem hoje numa guerra que também já foi da Igreja Católica. Basta lembrar a cristianização missionária, feita à força, e cujo conteúdo não se afasta assim tanto do islamismo mais radical. Se os tempos e o contexto histórico são outros, penso que isso não serve de desculpa.

Quando diz que são os governos que decidem, isso é uma meia-verdade. Como sabe a igreja católica (e cristã em geral) ainda exerce um lobby fortíssimo em alguns países, ao ponto de influenciar decisões políticas. Penso que não será necessário dar exemplos. Claro que já não exercem a mesma influência dos 'gloriosos' tempos da inquisição, mas têm uma palavra a dizer, e uma legião de crentes para ouvir.

Talvez um dia o Islão traga também "uma mensagem com princípios que promovem algo de intrinsicamente bom e de amor pelo próximo". Não me cabe a mim (nem a si, suponho) dizer qual a religião que está certa ou errada. Só que não compreendo porqueo sr. cardeal tentou quase sublinarmente mandar esta mensagem (que mereceu honras de abertura nos serviços noticiosos, ao contrário de todo o resto que acrescentou) de intolerância e cisão entre as duas religiões.

Voltarei ao assunto se necessário, agora so quase duas da manhã e se não for obter as horas de sono necessárias, amanhã nem Alá me ajuda, parafraseando o sr. cardeal.

Cumprimentos

umquarentao disse...

A origem do TABÚ-SEXO

Nos tempos mais remotos da existência humana, o ser humano viveria duma forma em tudo semelhante à de outros animais mamíferos do planeta Terra. Consequentemente, podemos dizer que, nesses tempos mais remotos, as fêmeas humanas teriam possuído toda a Liberdade e Independência.

Depois, mais tarde, pela necessidade de luta pela sobrevivência, ou pela ambição de ocupar e dominar novos territórios, alguém fez uma descoberta extraordinária (um truque que permite alcançar uma vantagem competitiva demográfica): A REPRESSÃO DOS DIREITOS DAS MULHERES!
A Repressão dos Direitos das Mulheres tinha como objectivo tratar as mulheres como uns meros 'úteros ambulantes'... para que as sociedades ficassem dotadas duma Vantagem Competitiva Demográfica!!!
De facto, quando as guerras eram lutas 'corpo-a-corpo' o factor numérico (número de combatentes disponíveis) era de uma importância decisiva... visto que esse factor era (frequentemente) determinante na decisão das Batalhas (e das Guerras).

Depois, pela necessidade de luta pela sobrevivência, ou pela ambição de ocupar e dominar novos territórios, alguém fez uma nova descoberta extraordinária: O TABÚ-SEXO!
O Tabú-Sexo tinha como objectivo proporcionar uma melhor Rentabilização dos Recursos Humanos da Sociedade!!! De facto, o Ser Humano não é nenhum Extraterrestre: tal como acontece com muitos outros animais mamíferos, duma maneira geral, as fêmeas humanas são 'particularmente sensíveis' para com os machos mais fortes...
Analisemos o Tabú-Sexo:
- a sociedade dificultava o acesso das mulheres à independência económica;
- as mulheres que não casassem eram alvo de crítica social;
[portanto, como é óbvio, as mulheres eram pressionadas no sentido do Casamento];
- não devia haver sexo antes do Casamento;
- as mulheres não deviam procurar obter prazer no sexo;
- as mulheres que se sentissem sexualmente insatisfeitas, não podiam falar nesse assunto a ninguém, pois o desempenho sexual dos machos não podia ser questionado;
- era proibido o divórcio.
Conclusão óbvia: o Verdadeiro Objectivo do Tabú-Sexo eram montar uma autêntica armadilha às fêmeas... de forma a que estas fossem conduzidas a aceitar os machos sexualmente mais fracos!!! Dito de outra forma, o verdadeiro objectivo do Tabú-Sexo era proceder à integração social dos machos mais fracos!!!


P.S.
Os Islâmicos reprimem os Direitos das mulheres - elas são tratadas como uns 'úteros ambulantes' - com o objectivo de obterem uma vantagem competitiva demográfica. Se eles não tivessem sido derrotados em 732 D.C. (em Poitiers), hoje em dia todas as mulheres na Europa andavam com burkas enfiadas na cabeça.

Anónimo disse...

todas as religioes sao uma merda, sao feitas por homems e basta isso

Anónimo disse...

Ilustre Leocardo,

É um facto que você apenas retirou as partes que lhe interessavam às suas conclusões e à fundamentação da sua decisão de não querer pertencer a esta religião (que se aceita e respeita).

Essa do "é o mesmo que dizer" é uma conclusão sua, sem qualquer suporte nas declarações proferidas pelo Cardeal. Não tente colocar na boca dos outros palavras que não foram proferidas para justificar as suas conclusões. De igual forma, ao apelidar de "gloriosa" Inquisição, quando nenhum católico o faz, não passa de uma mera tentativa sua de fazer passar uma imagem que não corresponde à realidade.

Quanto ao lobby de que fala, aprecia-se a tentativa de desvio da pergunta colocada sobre quem de facto decide e proíbe. O lobby da Igreja Católica não passa disso mesmo, um lobby ao lado de outros, tão ou mais influentes até, mas sem decisão directa.

Aceita-se que você não queira ser católico, que critique a Igreja pela Inquisição, pela evangelização à força, etc, etc, etc.

O que não se aceita são meias transcrições que desvirtuam todo o sentido e a mensagem passada pelo Cardeal AOS católicos para que estudem e compreendam os muçulmanos por forma a facilitar o diálogo e entendimento.

Ao anónimo das 21:43,

A linguagem que usa demonstra que não teve educação em criança, que não respeita as crenças dos outros e demonstra a sua intolerância.

Ficou também patente a sua falta de conhecimentos de português pois "homems" é uma palavra que não existe.

Em conclusão, o caro anónimo é intolerante, mal educado e burro.

Anónimo disse...

caro leocardo
lembrei de repente do vitinho e estou com saudades dele...sera que ele esta bem?

Anónimo disse...

Se alguém quiser entender o fenómeno religioso em Porugal, aqui fica a sugestão:

. Espírito Santo, Moisés (1995), Os Mouros Fatimidas e as Aparições de Fátima, Lisboa, Instituto de Sociologia e Etnologia das Religiões - UNL

. Espírito Santo, Moisés (1993), Origens do Cristianismo Português, Precedido de a Deusa Síria de Luciano, Lisboa, Instituto de Sociologia e Etnologia das Religiões - UNL

. Espírito Santo, Moisés (1988), Origens Orientais da Religião Popular Portuguesa, Lisboa, Assírio & Alvim

. Espírito Santo, Moisés (1984), Religião Popular Portuguesa, 2ª Ed., Lisboa, Assírio & Alvim

Anónimo disse...

As religiões são todas iguais? Não me faça rir. Eu não tenho religião nenhuma, mas respeito-as na medida em que elas me respeitam. Por isso é que o islão não me merece respeito nenhum. Nunca respeitei assassinos.

Paulo39 disse...

Boas

Só para dizer que apoio o Anónimo das 12:51 e 22:41 de 14/Jan. Acho que ele falou muito bem e justificou a sua opinião.
Penso que por vezes se deve ter a humildade de reconhecer que não se tem a razão do nosso lado. Umas vezes temos nós, outras vezes não, o mérito está em reconhecer quando temos ou não razão. Até porque o Leocardo diz muita coisa com imensa razão e eu gosto muito deste blog.

Cumprimentos