terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Viver e deixar viver


Ouvi hoje durante a hora de almoço dois pais a conversar numa conhecida tertúlia do território, sobre a educação dos filhos. A certo ponto, um deles falava do recente e crescente desinteresse do seu rapaz pelas actividades desportivas, chegando mesmo a afirmar que das duas que o petiz praticava "tinha que optar por uma", e que desistir de ambas "está fora de questão". Sem a mínima soberba ou intenção de me querer imiscuír nos assuntos privados de outrém, penso que isto é uma inquetante forma de pressão para o jovem. Algumas das vantagens de viver em Macau é a proximidade, o tempo livre e o relativo desafogo económico da nossa comunidade, e porque não tentar dar às crianças as oportunidades que em Portugal provavelmente não teriam?

Outra vantagem em relação a Portugal é o facto de bastar inscrever os miúdos nas actividades, mesmo que não tenham a mínima apetência ou talento para as mesmas. No futebol ou na ginástica, por exemplo, não existem quaisquer métodos de selecção. Basta o menino ou a menina gostarem. Isto leva ao excesso de zelo por parte de alguns pais, que os leva a inscrever os jovens no maior número de actividades possível, que lhes dê para preencher "todo o tempo livre". Das duas uma: ou os paizinhos delegam nos professores/treinadores/formadores a responsabilidade de aturar os miúdos (como se não bastassem as empregadas), ou querem fazer deles uns super-homens e mulheres, ou ainda consideram que demasiado tempo livre "é prejudicial".

É claro que os meus filhos interessam-se pelas actividades oferecidas pela Escola Portuguesa e não só. Mas na idade deles (11 e 8 anos, respectivamente), é preciso não levá-los muito a sério. O meu mais novo, por exemplo, já esteve inscrito em mais actividades e desportos do que modalidades há no decatlo olímpico. O que acontece é que hoje apetece-lhes o rancho folclórico ou a natação, amanhã o futebol ou o kendo, e para a semana o basquetebol ou o xadrez. São uns diletantes em ponto pequeno. Ainda bem que não lhes deu a queda para a olaria ou para a pintura, ou ia ser um caso sério no chão e nas paredes cá de casa.

Não devemos obrigar as crianças ao que quer que seja. Claro que lhes devemos estimular o gosto por uma actividade pós-escolar, mas e se não lhes apetecer ter nenhuma? E se preferirem ler, ver filmes, ou dedicarem-se à filatelia? Não sei da situação dos pais que têm problemas com Playstations e afins, uma vez que aqui em casa não entram essas porcarias (o barulho dá-me cabo dos nervos), mas tenho a sorte dos meus filhos se fartarem depressa das consolas, jogos de computador e outros audiovisuais da treta. E depois, que tal não tentarmos viver nós próprios através da vida dos nossos filhos?

PS: Ainda não percebi bem porque na disciplina de Música existe uma cadeira de "flauta orff" ou lá como isso se chama que conta para nota. As flautas irritam-me, principalmente aquelas de plástico, e sinceramente não estou interessado que os meus filhos sejam flautistas. Alguém explica a importância da flauta nos currículos?

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