domingo, 18 de janeiro de 2009

A malta da minha rua (e não só)


É com grande nostalgia que recordo o mês de Janeiro de 1989, em que tanta coisa louca aconteceu que mudou pra sempre a minha vida. Passam agora 20 anos, e ainda parece que foi ontem. Não vou aqui entrar em detalhes daquilo que só a mim me diz respeito, mas gostava de partilhar a recordação daqueles que passaram esse tempo tão importante da vida de um jovem que é a adolescência. O mais engraçado mesmo eram as alcunhas pelas quais a malta se tratava, um exemplo de imaginação e criatividade que por alguma razão a passagem para a vida adulta deixa morrer.

Assim tinha o meu vizinho do lado, o Sérgio. Quando era ainda chavaleco perguntei-lhe "como te chamas?" e ele retorquiu "com a boca", armado em espertalhão. Ficou assim conhecido por "kaboka" pela malta toda da rua. O ano passado quando fui a Portugal encontrei-me com os seus pais, o sr. Pedro e a sra. Joana, e perguntei-lhes "como vai o kaboka?". Olharam um para o outro e responderam "O Sérgio? Vai bem, obrigado".

Mais abaixo na rua morava o "baíga", assim conhecido devido à sua pronúncia de "barriga" quando era pequeno. No mesmo prédio vivia o João Paulo, que teve o azar de um dia a professora de Francês lhe ter traduzido o nome para "Jean Paul". Assim nasceu o "champô", alcunha pela qual era conhecido. Depois tinhamos o Paulo Bufa, assim conhecido por carregar nos 's' no fim das palavras. O irmão do Paulo Bufa era o Ricardo "skinhead", assim conhecido por ter tido a peregrina ideia de raspar a cabeça no Verão de 88, numa altura em que muito se falava do MAN, e dos cabeças rapadas.

Na rua de trás vivia a malta da pesada. Destaque para o Paulo Porco, que era assim chamado pelo facto de andar sempre com as mãos sujas de terra, e o seu irmão Fernando, o "banana", um rapaz inteligente mas que tinha sérias dificuldades nos trabalhos da lavoura, de que a sua família tanto dependia. Vivia ali o Alfredo, o "chinês", que inexplicavelmente tinha os olhos em bico.

A crueldade típica da juventude era uma imagem de marca da rapaziada. Assim tinhamos o João, o "cachorro", que durante uns tempos precisou de usar uma coleira ortopédica, o Diamantino "camões", porque usou uma pala de descanso numa das lentes dos óculos, e o pobre Zé, apelidado de "zarolho", por ter um olho mais pequeno que o outro. Moravam ainda no bairro o "maneta", o "orelhas", o "xarope", o "diabo" e o "fanchona", cada um com a sua história.

Na escola não era muito diferente. Da equipa que alinhou no torneio da escola nessa gloriosa época de 88/89 (escusado será dizer que venceu...) destacava-se o "Piranha", assim chamado devido à sua preferência por roupas da marca Ocean Pacific, que ostentavam o desenho de uma piranha. Tinha-mos ainda o Nuno "molengão", alcunha dada pelo professor de Educação Física, e o meu grande amigo "burro" (também ele Nuno), o nosso guarda-redes, que gostava de se referir ao seu orgão sexual como "o meu burro".

Eram belos tempos esses. Dizem que na tropa as alcunhas também eram o máximo, mas nunca vou saber uma vez que não cumpri o serviço. Agora que somos crescidos nem nos passa pela cabeça atribuir uma designação destas a quem quer que seja, por causa da porcaria do "respeito" (conversa fiada), e bem nos podia valer um processo judicial ou qualquer coisa que valha, tais são as sensibilidades. Que saudades tenho eu daquela malta. Que Deus os proteja.

1 comentário:

Anónimo disse...

E qual era a sua alcunha?