Passaram dez anos na passada Quinta-Feira que foi detido Wan Kuok Koi, mais conhecido por Pan Nga Koi, ou em português, "dente partido". O sr. Dente, chamemos-lhe assim, era o alegado líder da seita 14K, uma das mais temidas do mundo, com várias ramificações na Ásia e até nos Estados Unidos da América.
Em 1998 vivia-se em Macau um clima de medo e angústia; a guerra entre associações de malfeitores era uma realidade, as execuções sumárias sucediam-se em plena luz do dia, e as autoridades eram acusadas de incompetência e até de cumplicidade. O secretário para a segurança Manuel Monge tentava colocar água na fervura, chegando a afirmar que a população nada tinha a temer, pois as balas "tinham nome". Em vão.
Na manhã do 1 de Maio de 1998, o director da Polícia Judiciária Marques Baptista deixava o carro no circuito de manutenção da Guia, onde se iria exercitar. Passados instantes de sair do carro, a viatura explodia. Sem se perceber muito bem a relação, o director da PJ prendia nesse mesmo dia Dente, quando este almoçava com amigos numa sala do Hotel Lisboa, de que era habitual frequentador.
A notícia teria um impacto tremendo. O cidadão médio passava finalmente a conhecer os meandros das seitas, as faces, os nomes, os factos. Marques Baptista passou a viver nas instalações da PJ na Rua Central, por razões de segurança. Viviam-se os últimos tempos da Administração Portuguesa e urgia que se julgasse o caso com a maior celeridade possível. Os arguidos eram Dente, o seu irmão e mais sete elementos ligados à seita.
O juíz Alberto Mendes, que presidia inicialmente ao colectivo, foi afastado e substituído por Fernando Estrela, que chegou de Portugal especialmente para este caso. A defesa dos arguídos daquilo que ficou conhecido por "mega processo das seitas" queixavam-se de falta de provas. Quem assistiu ao julgamento de Dente não ficou convencido da solidez dos argumentos da acusação. Dava a entender que o alegado líder da 14K tinha que ser condenado.
Quando foi detido, Wan Kuok Koi assistia a um filme que ele próprio produziu em que glorificava os seus feitos. A filmagem chegou a obrigar ao fecho da Ponte Nobre de carvalho, o principal acesso às Ilhas naquele tempo. Em Novembro de 1999 foi condenado a 15 anos de prisão. Ao ouvir a sentença, Dente proferiu vários insultos e obscenidades, acusando inclusivamente a polícia de corrupção.
O tempo passou e mais ninguém ouviu falar de Dente. As seitas voltavam ao submundo e vive-se actualmente um clima de tranquilidade e ordem pública. Dente acabou de cumprir dois terços da pena, e vai pedir a liberdade condicional. Resta agora saber que espaço vai ocupar o Dente Partido e os seus amigos na RAEM, que é para eles uma autêntica novidade.
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