Realizaram-se este fim-de-semana das partidas da nona e última ronda da divisão principal do futebol de Macau, que começa a "separar as águas" quanto às pretensões da maior parte das dez equipas que a compõem. Na sexta-feira a jornada abriu com a partida entre o Ka I e a Polícia, com os primeiros a confirmar o favoritismo que lhes era atribuído, vencendo por 4-1, mas não com tanta facilidade como o resultado parece sugerir. A equipa de Josecler adiantou-se no marcador por Ronieli aos 24 minutos, mas a formação composta por agentes do corpo PSP empataria por Sio Meng Chon quinze minutos depois, com o intervalo a chegar pouco depois e o marcador a acusar a igualdade a uma bola. A Polícia deu mais vez mostras de ser um conjunto equilibrado, mas sem as mesmas ambições do seu adversário, cujo plantel contém vários jogadores profissionais com experiência em campeonatos muito mais competitivos. O que lhes falta em técnica e em formação os policiais compensam com resistência física, disciplina táctica, mesmo que limitada, e quando mais nada dá certo, entra alguma dureza - mas sempre sem violência, entenda-se. Quando assim é, as coisas podem correr muito bem quando não correm mal, mas se correm mal não há mais argumentos que lhes valham e dá-se uma quebra que pode ter uma amplitude bastante variável, e desta vez o preço foi algo elevado: aos 50 minutos Ho Kin Tong viu um dos cinco cartões com que a sua equipa foi admoestada, mas no seu caso era o segundo, e viu por isso ordem de expulsão, tornando a tarefa que era já de si difícil ainda mais complicada. Com o adversário reduzido a dez elementos e numa postura assumidamente defensiva, Josecler fez aos 55 aquilo que se chamaria "jogada de mestre", caso estivéssemos aqui a falar de futebol de alto nível ao fazer entrar Samuel Thabo para o lugar de Marco Rodriguez. Com nove minutos em campo o avançado sul-africano desempatou a partida, e dois minutos depois fez o terceiro de grande penalidade. Com o vencedor encontrado, o Ka I baixou o ritmo, mas as incidências da partida se não resumiram a isto; aos 84 minutos Yap Keng Pak, que havia entrado no onze da PSP para compensar a expulsão do seu colega, foi ele próprio expulso com vermelho directo, o que tem sido bastante raro nesta edição do campeonato. A jogar contra nove, o Ka I aproveitou para fazer mais um golo, e Ronieli para bisar, dividindo as despesas dos golos com Samuel Thabo. O Ka I terminava assim a primeira volta com sete vitórias, um empate (c/Monte Carlo) e uma derrota com o actual líder Benfica, mas ficaria em igualdade pontual com os encarnados à condição, com mais um encontro realizado. Os policiais, que tiveram um início de campeonato regular, somaram a terceira derrota consecutiva, e ocupam um 7º lugar que após feitas as contas da jornada lhes valia ficar dois pontos acima da zona de descida.
No Sábado jogaram mais três equipas da primeira metade da tabela, e o primeiro desafio colocou frente a frente Monte Carlo e Chao Pak Kei, terceiro e quartos classificados, e que à conta desse equilíbrio iriam disputar o encontro considerado mais importante da ronda. O Monte Carlo via-se obrigado a vencer para não deixar fugir ainda mais o Ka I, e o CPK tinha a possibilidade de chegar a um lugar do pódio por troca com o seu adversário desse fim de tarde, princípio de noite na Taipa. Como seria de esperar, o equilíbrio foi a nota dominante, e a vitória do Monte Carlo por 2-1 não deixou ninguém de boca aberta de espanto, nem pela vitória em si, nem pelos seus números. Depois de uns primeiros 45 minutos sem o sal dos golos, coube aos "canarinhos" inaugurar o marcador e "temperar" um pouco o jogo, com Chao Wai Hou a fazer de "cozinheiro" de ocasião. Seis minutos mais tarde chegou o golo do empate por Diego Patriota, a maior referência do CPK, e de todos aquele que os seus adversários nunca podem deixar pôr o pé em ramo verde. Com o final do encontro a chegar, o empate parecia um resultado lisonjeiro para o CPK, mas Chung Wai Kin fez questão de trazer ao marcador algum pragmatismo, fazendo o golo da vitória a oito minutos do fim. O Monte Carlo somou a segunda vitória consecutiva, reforçando o 3º lugar e mantendo a distância para o Ka I em três pontos. O CPK viria a pagar a derrota com mais do que apenas a oportunidade perdida de chegar ao pódio, pois a vitória do Sporting no dia seguinte atirou-os para a quinta posição, e uma conclusão de primeira volta morna; após mais um arranque prometedor, o CPK obteve apenas uma vitória nas últimas cinco jornadas.
A seguir entraram em campo as águias e os passarinhos - e nunca esta analogia fez tanto sentido, pois o Benfica de Macau não teve no Chuac Lun, literalmente "união dos pássaros" um adversário que lhe fizesse frente. Os encarnados seriam campeões da primeira volta mesmo que perdessem, mas obviamente que manter os três pontos de vantagem sobre o Ka I seria o ideal, e outra coisa que não a vitória contra o sexto classificado e recém-promovido Chuac Lun seria considerado quase um desastre. O desastre foi contudo parar ao outro lado do campo, pois se a vitória era quase uma certeza, e a goleada não surpreenderia ninguém, já poucos apostariam num resultado com o desnível que o marcador acusou no final dos 90 minutos: 12-1 (doze-um). Sem querer fazer disto a elegia fúnebre do futebol do território, que mesmo assim vai evoluindo para tons menos carregados de "mau", parece estar longe o dia em que teremos um campeonato competitivo quando o líder da classificação geral vence o líder da segunda metade da tabela por números desta natureza. A juntar a isto está ainda o facto do Chuac Lun vir de três vitórias consecutivas, que apesar de obtidas frente a formações do "seu" campeonato, demonstravam algumas melhorias em relação à fase inicial da prova, quando perderam por goleada os três primeiros encontros. Parece que no Sábado se deu como que um regresso à estaca zero, e com as contas feitas, a equipa que veio da II divisão na época passada na companhia da Casa de Portugal conta com 40 (quarenta) golos sofridos em nove jogos - média de mais de quatro por jogo, e um honroso sexto lugar na tabela. Também não vale a pena apontar o dedo ao guarda-redes Chong Kai Kong, que logo aos 34 segundos foi a prova que de um lado estava uma equipa profissional, e do outro onze amadores, que se calhar até não tinham grandes razões para "deixar a pele em campo", que seria a única maneira de poder ambicionar levar deste encontro qualquer coisa que não uma pesada derrota. Mas o guardião do Chuac Lun estava de facto em dia não, e seria substituído ao intervalo pelo seu colega Mak Ka Chon. Se o primeiro esteve mal, e o resultado ao intervalo demonstrava isso mesmo com um 5-0 para o Benfica, o último conseguiu ser ainda menos feliz, ao ir buscar a bola ao fundo das redes por sete vezes. E o que mais podiam eles fazer, quando a sua defesa insistia em passar a bola aos jogadores adversários quando tentavam retirá-la da sua grande área, ou insistiam em posicionamentos deficientes nas marcações dos livres e pontapés de canto? O Benfica, esse, percebeu cedo que não seria difícil construir o resultado que bem entendesse, e instalou-se por completo no meio-campo do Chuac Lun, com os golos a ficarem a cargo de 7 jogadores diferentes, com destaque para o avançado madeirense Carlos Leonel, que marcou 4, e o brasileiro William Gomes que assinou um "hat-trick", apesar de só ter jogado a segunda metade do encontro.
Uma curiosidade interessante neste Benfica- Chuac Luen (além do resultado, mas quem sabe até mais) foi a estreia do segundo guardião dos encarnados, um tal Ramy Ameen, egípcio de sua graça, 27 (ou 28?) anos de idade. Tal como o seu adversário, o Benfica substituiu o guarda-redes ao intervalo, mas se do lado Chuac Lun foi para estancar uma sangria desatada (e mesmo assim não deu resultado), o treinador encarnado deu oportunidade a Ameen e deixou Rui Nibra descansar, porque o jogo dava para isso - dava até para jogar sem guarda-redes. A estreia não se pode considerar a mais feliz, pois o Chuac Lun marcou o seu ponto de honra na pesada derrota por 1-12 no único remate que fez à baliza, o que não sendo nada de determinante quanto à sua capacidade, é pelo menos muito azar. Fui saber mais sobre este atleta, que se apresenta como profissional, e encontrei pouca coisa a não que terá representado em 2010 o FC Gera 03, na altura a disputar um dos grupos do sexto escalão do futebol alemão, e entretanto extinto. Como já disse, não vou fazer qualquer julgamento precipitado, mas repito, pouca coisa encontrei de "profissional" - a não ser do jogador é um grande fã do guardião italiano Gianluigi Buffon conte, mas nesse caso teríamos que considerar a possibilidade do poder da sugestão se incluir como uma das qualidades. Contudo espero que este vídeo não tenha sido o critério que levou o Benfica de Macau, esse sim, que aposta na profissionalização a contratar a jogador. A ver vamos.
Finalmente no Domingo tivemos os restantes dois encontros da última ronda da primeira volta, e ambos envolvendo formações de matriz portuguesa, que viriam a sair ambas vencedoras. O Sporting tinha a obrigação de vencer o lanterna-vermelha, os Sub-23, e cumpriu, mesmo sem grande alarido, com um resultado de 3-1 que vale à equipa de João Maria Pegado subir ao 4º lugar por troca com o Chao Pak Kei. Apesar de terem somado a terceira vitória consecutiva, os leões encontram-se a nove pontos do líder Benfica, sendo as possibilidades de os alcançarem puramente matemáticas. Contudo têm o mérito de ter sido a única equipa a roubar pontos ao líder, aquando do empate a uma bola na 2ª jornada da prova. A Casa de Portugal, por seu turno, tinha a oportunidade rara de somar três pontos, pois do outro lado estava o Lai Chi, equipa imediatamente acima da equipa de Pelé na classificação, que em caso de vitória ficaria em igualdade pontual. E assim foi, e apesar de arrancada a ferros, a vitória por 3-2 vale à formação de matriz portuguesa terminar a primeira metade do campeonato a olhar para cima, com o lanterna-vermelha Sub-23 cinco pontos a trás e a Polícia a dois pontos. Os irmãos Jean e Eric Peres voltaram a ser fulcrais na equipa da CPM, apontando um golo cada, que valem à sua equipa manter na esperança na manutenção, que mesmo assim será difícil, e é preciso aproveitar todos os jogos pontuáveis, como foi caso deste. O Lai Chi não começou mal o campeonato com um empate seguido de uma vitória logo no arranque, mas a partir daí só conseguiram dois pontos em sete jogos. Curiosamente o empate obtido na primeira jornada foi frente aos Sub-23, e foi até agora o único ponto conseguido pelos jovens patrocinados pela AF Macau. As duas equipas voltam-se a encontrar na jornada 10, a primeira da segunda volta, que inclui ainda as partidas Monte Carlo-Casa de Portugal, Sporting-Polícia, Chao Pak Kei-Chuac Lun, e o jogo grande entre o primeiro e o segundo classificado, o Benfica-Ka I, que em caso de vitória das águias pode já significar o voo planado para o bi-campeonato.
Classificação:
Benfica-25 (41-4)
Ka I-22 (36-6)
Monte Carlo-19 (19-5)
Sporting-16 (22-12)
Chao Pak Kei-14 (27-17)
Chuac Lun-10 (14-40)
Polícia-8 (10-19)
Lai Chi-6 (11-28)
Casa de Portugal-6 (13-40)
Sub-23-1 (5-26)
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