sábado, 18 de abril de 2015

Genesis 19 (versão light)


Boa tarrde. Hoje parra serr orriginal e cumprrirr com a verrtente ecléctica e diverrsificada do blogue, decidi que ia anunciarr o arrtigo de quinta-feirra do Hoje Macau (ainda em verrsão .pdf) com prronúncia setubalense, prrestando assim homenagem aos leitorres e amigos sadinos em gerral. O arrtigo é o referrente ao dia 9, e amanhã esperro publicarr o desta semana que passou com prronúncia micaelense dos Açorres. Esperro que tenham a continuação de um bom fim-de-semanarr (eu sei, não tem "erre", mas tinha que acabarr assim).

Ainda no espírito da quadra que agora terminou, na qual se assinalou a paixão, morte e ressurreição de Cristo, e a salvação dos feriados e tolerâncias de ponto, venho hoje brindar-vos com uma adaptação de um dos capítulos mais inspiradores de um dos livros mais apaixonantes do Antigo Testamento, que trata exactamente da criacção: o livro de Génesis. Este livro, que muitos acusam de “desfasado”, contém mensagens de enorme valor espiritual e moral, com que todos podíamos aprender mais, e deles retirar algo que podiamos usar no nosso dia-a-dia, nas nossas vidas. Infelizmente a linguagem pouco acessível e sobretudo o conteúdo de pendor marcadamente perverso, pornográfico e incestuoso da Génesis tornam a sua assimilação ligeiramente … impossível. Sim, uhm, só um bocadinho impossível, não muito. É com isto em mente que eu, Leocardo, serei a proverbial água das pedras que ajudará a digerir um dos capítulos mais incompreendidos deste livro, o capítulo 19. Para o efeito, vou adaptá-lo a uma perspectiva mais de acordo com a modernidade. É preciso não esquecer que os factos datam de há cinco mil anos, logo após Deus ter criado a Terra e tudo o que há sobre ela e que hoje se encontra exactamente como Ele deixou – mas com televisão e saneamento básico. Detalhes. Espero que gostem!

GENESIS: 19

Naquele tempo havia uma cidade chamada Sodoma, que mais tarde seria conotada com uma modalidade dolorosa e pouco consensual do acto físico do amor. Deus reprovava esta conduta, por “não ser natural”, pois não foi para esse efeito que dotara as Suas criaturas dessas valências, mesmo que compatíveis em termos de “design”. À porta de Sodoma estava um homem, de seu nome Ló, que vendo chegar à cidade dois viajantes, prontamente se ofereceu para os hospedar na sua casa. Estes inicialmente recusaram, mas cederam perante a insistência de Ló, que para os convencer preparou um banquete que incluía um tipo de pastelaria que mais tarde viria a ter o seu nome: pão de Ló.

A meio do ágape, batem à porta: eram os homens de Sodoma, todos eles, sem excepção, dos 8 aos 88, e que vinham demonstrar aos forasteiros a hospitalidade que tornou Sodoma uma referência mundial, que se mantém até aos nossos dias. - “Traz-nos cá para fora esses dois, que os vi ao longe e são loirinhos com o cabelo em cachinhos. Não é todos os dias que aparece petisco tão exótico” – bradou um deles. Ló veio até à porta e implorou aos sodomitas (habitantes de Sodoma, portanto) que deixassem aqueles homens em paz, oferecendo como alternativa as suas filhas: “Estão ainda por estrear, novinhas em folha e com as ancas estreitinhas. Fazei com elas as badalhoquices que entederes, pois que dirão os meus hóspedes das vossas agrestes boas-vindas, dadas assim, por trás e à bruta?” – Ló era um homem muito à frente do seu tempo, e em mente tinha as apreciações ao seu estabelecimento a publicar na página do Bookings.com.

Os homens não aceitaram a troca, e de tão irados que ficaram prometeram a Ló que lhe “fariam pior que aos dois homens”, quando tivessem terminado com estes – eram muitos viris, os homens de Sodoma. Antes que pudessem derrubar a porta e dar início ao chavascal, os dois hóspedes de Ló puxaram-no para dentro de casa e de mãos estendidas soltaram um raio que cegou os sodomitas, que mesmo assim ainda iam tentando dar com a porta, numa demonstração cabal de irredutibilidade.

Foi aí que os homens lhe explicaram que eram na realidade anjos, e que Deus os mandara para anunciar o fim de Sodoma e da sua cidade vizinha de Gomorra, e que Ló devia levar dali a sua família para onde pudesse ficar em segurança enquanto Deus obliterava os pecadores com fogo, lava e brasa, que choveriam dos céus. Ló devia ainda estar bastante atordoado com tudo o que se tinha passado antes, ou teria questionado os anjos sobre a razão da demora em lhe comunicar o plano divino, que subitamente adquiriu carácter de urgência. Ou expressaria a sua surpresa pela escolha do arsenal usado pelo Criador para o efeito, uma vez que “fogo” e os seus derivados são do departamento de um antípoda seu, igualmente célebre mas estranhamente mais comedido, e menos vindicativo – não sou eu que o diz, os números falam por si.

Ló acabou por sair da transe de estupor em que toda esta sequência de eventos o havia deixadp, mas antes de tomar providências no sentido de se pôr a mexer dali para fora deixaram-lhe saber de mais um detalhe a ter em conta. Deus, que criou todas as coisas e como tal os "game shows" não foram excepção, acrescentara mais uma regra ao desafio: quem estiver a sair de Sodoma no momento em que Ele se encontra a disciplinar aqueles seus filhos desnaturados, como qualquer bom pai faria, e ouse olhar para trás, será transformado em sal. Porquê? Porque sim, e das garantias que daí vai obter, uma delas é que o infractor não reincide. E assim Ló e a família partiram para Zoar, um lugar nas montanhas, a cobro da ira divina, que passava por garantir que no lugar onde ficavam Sodoma e Gomorra "mais nada nascia da terra". Para garantir a eficácia de mais esta prova da Sua infinita misericórdia, Deus usou enxofre como anti-fertilizante – com toda a certeza mais um produto adquirido numa das lojas da concorrência. Tudo isto para ter a certeza que os pecadores aprendiam o uso correcto a dar às ferramentas com que o Senhor lhes dotara, e lhes tivesse sido dada uma oportunidade, possivelmente repensariam o seu estilo de vida.

Mesmo sabendo das consequências que daí adviriam, a mulher de Ló olhou para trás enquanto deixava Sodoma com destino a Zoar, e fazendo uso da sua omnipresença, Deus transformou-a numa estátua de sal, em mais uma demonstração da coerência a que já nos habituou – uma coisa é mandar emissários para resgatar Ló e o seu clã, outra coisa é transformar a sua mulher em sal, caso ela não cumpra as regras. A resposta à pergunta "o que levou a mulher de Ló a cometer tamanha falta", encontra-se nessa mesma pergunta, na palavra que antecede a "…de Ló". Quanto ao pobre Ló, agora viúvo, havia aprendido há muito a entender os caminhos estranhos pelos quais se movia Deus, de quem era adepto “desde pequenino”, e o que parecia inicialmente uma tragédia, era na verdade uma benção: não mais lhe faltaria tempero para a sopa, tendo esse sido o último gesto em vida da sua fiel companheira.

Contudo colocava-se agora um problema maior: Ló não havia produzido um filho varão, mas apenas duas filhas – estaria a guardar-se para o que vinha a seguir, suponho. É que as filhas, cientes desta realidade aterradora que seria não poder perpetuar a descendência de seu pai, e com a mãe ocupada a apurar o gosto às sardinhas do almoço do dia seguinte, caberia às duas o sacrifício – não, a honra! – de conceber um filho varão de seu pai, que seria também seu filho, e ao mesmo tempo irmão – detalhes, foi por uma razão nobre. Para evitar invejas e para aumentar as probabilidades de sucesso, as duas lhe dariam um filho cada – mas uma de cada vez, alto lá, pensam o quê??? Assim, numa bela noite, uma delas “deu de beber a seu pai”, e de seguida “concebeu”, ficando a outra de fazer a mesma coisa no dia seguinte. E como “conceberam”, ali, cheias de afinco, “concebendo” a noite toda, por cima, por baixo, pela frente e por trás, garantindo que o trabalho ficava bem feito, e recebiam do pai um “creampie” em condições.

E assim foi, pois passados alguns meses nasceram-lhes dois lindos filhos espúrios, a que deram os nomes de Moabé e Ben-Ami. E tudo isto sem sombra de pecado, pois cuidaram de que seu pai estaria ébrio no momento do suplício, ao contrário dos sodomitas, esses, que além de nunca e de modo algum se colocar a possibilidade de “conceber” seja o que for dos seus actos vis e contra-natura, ainda o faziam por prazer! E isto, meus irmãos é que Deus NUNCA aceitaria, depois de nos ter mandado o seu próprio filho, tendo o cuidado de lhe reservar uma morte horrível, e por tudo isso e mais Lhe ficamos eternamente em dívida. Salvo seja: ficam vocês, que eu não pactuo com sádicos. Amen.


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