domingo, 19 de abril de 2015

A idade dos "porque sim"


Regozijei-me quando me disseram: Vamos à casa do Senhor.

Salmos 122:1

Escolhi para abrir o artigo esta passagem bíblica do Antigo Testamento, do livro de Salmos, porque me faz lembrar uma história engraçada, que passarei a contar após este pequeno parêntesis: este livro de Salmos é bastante curioso, pois se o lerem em qualquer parte dos seus 150 capítulos, e cantarem-no ao som de um ritmo mais ou menos pesado, vão descobrir de onde vem o "rock" cristão! Senão vejam:

In the morning, Lord, you hear my voice;
in the morning I lay my requests before you
and wait expectantly.
For you are not a God who is pleased with wickedness;
with you, evil people are not welcome.
The arrogant cannot stand
in your presence.
You hate all who do wrong;
you destroy those who tell lies.
The bloodthirsty and deceitful
you, Lord, detest.
But I, by your great love,
can come into your house;
in reverence I bow down
toward your holy temple.

E então, o que acharam? Manafest? Panamore? Black Sabbath? Não, Salmos 5! Viva. Quem tiver um orgão musical - e reparem que eu digo "musical" que é para não confundirem com um rim ou com pulmão - pode programá-lo para uma daquelas melodias minimais repetitivas e assim cantarolar os Salmos! Ou não, é Domingo, faça outra coisa qualquer que amanhã é dia de trabalho. Se quiser cumprir o ministério divino, vá à missa. Eu fui! Mas já lá vamos. Ah, é verdade, o Salmo do início do artigo.

Teria eu uns 8 ou 9 anos, e já tinha algum contacto com a religião, nomeadamente com a Igreja Católica, e já tinha dedilhado a Bíblia, que na escola se dizia ser "o livro mais vendido do mundo" - o "best seller". Achei aquilo tudo muito estranho, mas deu para começar a ter umas noções de certos eufemismos que adoptámos para o nossos dia-a-dia. Por exemplo: "estar com Deus" não é, ao contrário do que se possa dar a entender, uma coisa boa, ou se quiserem ser rigorosos "ir ter com Deus" - há quem diga que com Deus "se está sempre". Isto é tudo muito interessante, mas permitam-me abrir as hostilidades. Um dia fui com a minha avó ao cemitério, uma actividade que as avós costumam fazer com frequência, pois têm lá muitos amigos e alguns familiares, quando vejo numa lápide gravada esta frase dos Salmos, que vos deixei em cima: "Regozijei-me quando me disseram: Vamos à casa do Senhor", assim, ali, no mármore, preto no branco. Arrepiei-me, e pensei: "como é possível se regozijar de uma coisa destas?" - assumindo que esta frase tinha esse sentido, o de falecer. Imaginei logo um moribundo a quem lhe dizem: "estás mais para lá do que para cá", e ele, sorrindo de orelha a orelha, começa a preparar-se para se mudar para a eterna moradia. Lendo mais do que um simples versículo deste capítulo 122 do livro de Salmos, temos logo no segundo versículo a chave de todo o mistério: "Os nossos pés estão dentro das tuas portas, ó Jerusalém". Ah! Ir a Jerusalém, está bem, assim é melhor. Pena foram os anos que passei traumatizado a pensar na gravação na lápide, cuidando que alguém tinha encarado a morte com regozijo, tal era a sua convicção que Deus já tinha posto mais um prato na mesa do jantar celestial.

Esta história é quase como uma metáfora para a própria Igreja Católica, e em geral para a religião: meias palavras, meias ideias, desencorajar a que se procure explicações, ameaçar com um ente divino invisível que "nos ama" mas se for preciso "limpa-nos o sarampo" - e nem faz mais que a Sua obrigação, pois para os crentes o sarampo é uma das muitas benesses de Deus. E a papeira, também. Mistérios que uns procuram desvendar, para melhor entender os caminhos impérvios da fé, onde por vezes nos deparamos ou outra esfinge que nos pede a senha, ou que nos manda à merda, porque a fé é como o Benfica: só lá vai quem acredita.

Bom, este exemplo é um pouco rebuscado, mas serve para ilustrar mais ou menos a atitude do meu colega, companheiro, camarada, compincha e condiscípulo Hugo Gaspar, autor do celebérrimo blogue a que deu o título "Blogue do Firehead" - "Firehead" é o seu nom-de-guerre. Esta semana o Hugo voltou a apelar aos meus serviços de imprecação, para assim poder apostrofar os demónios que azucrinam a sua mente de cristão, que pristina seria ainda, não tivesse sido conspurcada pela contra-informação dos lobos com pele do cordeiro que ostentam com ardiloso despeito a sina do seu Messias: a cruz.

Bom, sou mais do presuntão do que propriamente da presunção, e prefiro a pé à benta quando se trata de água, mas posso TENTAR, e isto é tudo apenas sobre tentar juntar uma das peças desse puzzle infinito que nunca nos poderia ser dado a revelar no curto espaço de tempo que nos é dado neste veículo que é a carne. Mais uma vez serei a luz (não a Luz, atenção) que guiará o Hugo na saída desta sua tormenta sem fim.

Num artigo do seu blogue a que dá o título "A Igreja, durante muito tempo, gastou demasiado dinheiro? E depois?" - comprido, este título - o Hugo tece considerações sobre uma série de eventos que tiveram lugar na passada semana, e que sinceramente me surpreende que tenha pensado que causaram "celeuma". Eu tomo por "celeuma" qualquer coisa que implique gente aos gritos, algazarra, e possivelmente um ou outro estalo aqui e ali. Esta celeuma, segundo ele, deve-se a um comentário, ou comentários, vindos da minha parte a propósito do lançamento de um livro sobre a vida de D. José da Costa Nunes, apresentado na quarta-feira na Fundação Rui Cunha, e de que tive conhecimento apenas no dia seguinte devido a uma afirmação curiosa, sem dúvida, da autora do livro, Maria Guiomar Lima:
"A Igreja Católica, durante muito tempo, gastou demasiado dinheiro. Os grandes monumentos que conhecemos custaram imenso dinheiro. Mas quem sou eu para criticar as estátuas do Miguel Ângelo?"

Aqui penso que a questão essencial é: "quem sou eu", pois de facto nunca tinha ouvido falar da senhora autora do livro, a quem faço quer a devida vénia, como ainda assumo um mea culpa por não estar a par do seu trabalho de investigadora, falta grave da minha parte, uma vez que tudo o que tem a ver com Macau me deveria dizer respeito, mesmo que não esteja a receber um tostão por isso, e nem me tenha sido sequer endereçado um convite - eu sei que não era necessário convite, mas sinto-me...qual é a palavra? "Excomungado", isso, uma daquelas palavras fortes que a Igreja usa para nos sentirmos mais sujos, e feios e porcos e maus, como "fornicação", "deboche", "pagãos", etc. Isso mesmo: fui  excomungado de onde nunca comunguei - da Fundação Rui Cunha. E da Igreja Católica também, mas posso garantir que tenho dois braços, duas pernas e um Miguel Ângelo no sítio, a transpirar de saúde.

Quanto à frase em questão, veio publicada no dia  seguinte no Hoje Macau, o diário em língua portuguesa que não só não me boicota (típico, fazerem coisas com "boi-") como ainda me publica, e mesmo que a minha excomunhão no escuro não tenha permitido apanhar o contexto, não parece ser tão ambíguo quanto o primeiro versículo do capítulo 122 do livro de Salmos - é o que está ali: igreja gasta dinheiro, lá lá lá, Miguel Ângelo. Peço desculpa se prefiro chamara Michelangelo ao artista renascentista italiano, apenas por ser essa a norma internacional do seu nome, bem como o nome que os seus paizinhos lhe deram. Fiz uma pequena brincadeira com o vocalista dos Delfins, também ele Miguel Ângelo, e olhe que a confusão não é assim tão pouco comum: em Portugal há quem precise de especificar quando diz simplesmente "Miguel Ângelo". Não penso que fazer um trocadilho estes nomes seja "gozar com a igreja", ou "blasfémia", uma vez que se tratando de um pintor das luzes, a Igreja das Trevas andava sempre de olho na "lâmpada", mas vamos lá então falar das "estátuas" de Michelangelo. Mamma Mia!


Aqui estão as duas "estátuas", com "s", de Michelangelo, apenas uma delas com uma temática marcadamente religiosa. Agora o meu caro Hugo Gaspar, rapaz culto (mesmo que confuso) sabe que a da esquerda é a escultura de David, rei de Israel, mas o que acha que se sabe da peça da direita, a "Pietá" (recuso-me a chamá-la de "Piedade", nome de mulher-a-dias)? Provavelmente a senhora autora do livro referia-se a essa, apenas, mas aposto consigo o que quiser que se apresentar esta imagem a um grupo de pessoas e lhes perguntar "qual destas esculturas é da autoria de Michelangelo" (uma pequena rasteira), poucos ou mesmo ninguém lhe vai responder "as duas". A inclinação será para que apontem para a de David, não por causa da "pilinha", mas porque foi contribuição do artista para o mundo. A sra. Maria Guiomar Lima não questiona mas devia questionar, e talvez seja a exposição à radiação inquisitorial que a inibe de fazê-lo, porque senão ia saber que a "Pietá" foi encomendada a Michelangelo por um cardeal francês residente em Roma para servir de tampa do seu túmulo. E assim foi, pelo menos durante quase 300 anos, altura em que a estátua foi movida para a Basílica de S. Pedro, no Vaticano. Como é que se chama isso de violar o túmulo alheio? Profanação? Ah, não ligue, estou a ser desonesto, e "quem sou eu para substituir a Igreja Católica em termos de desonestidade"?

Mas pronto, não sei se durante a apresentação do tal livro alguém falou do dinheiro que a Igreja Católica gastou ou gasta para ser preciso a senhora proceder à já referida tentativa frustrada de branqueamento desse facto que, e sabe o que mais? Nunca me passou pela cabeça. A sério, achei apenas inoportuno, como se a polícia me batesse à porta, eu abrisse e dissesse logo em voz alta "Eu não matei o Júlio!", e nessa tarde tinha morrido o Júlio, mas a polícia vinha antes avisar-me de que o vizinho se tinha queixado dos pingos de ar-condicionado. Está a ver, não está? Para quê falar do "dinheiro da Igreja Católica", ou justificar onde ela o gasta? Ora, em caridade, por exemplo. Segundo o Hugo Gaspar, "os não-católicos não dão dinheiro à Igreja Católica, que é a maior instituição de caridade do mundo". Upa, upa. E no que gastam os "não-católicos" o dinheiro, então?


A pagar os seus impostos, por exemplo, coisa que a "maior instituição de caridade do mundo" não faz, e como se isso não fosse suficiente, está isenta de praticamente toda a espécie de tributação, incluindo no uso das comodidades que são pagas com dinheiro dos contribuintes, onde se encontram os...isso mesmo: não católicos. Quem fica mais a "arder" com isto tudo ainda são os católicos, coitaditos, que pagam para o Pai, para o filho e para a fazenda nacional. Mas epá, ajudem, meu irmãos, ai ai que Cristo pediu muito. Apesar de TODO o dinheiro que entra ficar na Igreja, de ter adquirido um património ENORME e INCALCULÁVEL (se quiser isso pode ficar para outro artigo, mas duvido que "queira"), que se chegava ao ponto de em qualquer pequena localidade, qualquer terreno anexo a um privado ou nas imediações das igrejas que não fosse registado em nomes de privados era dado como pertencendo à Igreja - afinal "foi Deus" que o pôs ali não foi? 


E referindo-me à alínea b) do nº 1 do artº 26 da famigerada Nova Concordata (a velha conseguia ser muito pior), os "donativos" de que ali se falam são uma almôndega bem picante. Portanto, deixe-me dar-lhe apenas dois exemplos de crápulas facínoras que compraram a benção da Igreja: Pinochet e Ferdinand Marcos. Isso mesmo, e com dinheiro sujo de sangue de católicos e não católicos. Mas também, que mal tem, quando a própria Madre Teresa de Calcutá, essa $anta, afirmou uma vez que "até de Lucifer aceitaria donativos para os SEUS pobres"? Sim, os seus, os outros que fossem procurar para eles, e que não faltassem pobrezinhos para Deus encher o Céu de alminhas e o Vaticano os cofres dos bancos suíços. E aí...


Isto não é nenhum truque do demo, mas uma DEMOnstração (eh, eh) do que qualquer um pode fazer com um motor de busca da Google. Pois é, engraçado como ninguém nem nada fica de fora. Se alguém quiser afirmar que "os cristãos não perseguiram pinguins", estes podem muito bem englobar-se na categoria de "outros". Acho graça é como o Hugo Gaspar nega a evidência que foi o estrangulamento do progresso científico durante a Idade Média, e até muito para além disso e com reflexos ainda hoje, mas um dos inimigos recorrentes é exactamente...a ciência. Mas reparem que logo à cabeça em ambas listas temos quem? Os judeus, pois então. E aqui é a única situação em que o Hugo Gaspar tem razão ao dizer que "os únicos cristãos são os católicos", mas porque perseguiam os judeus, estes católicos cristãos? Seria pelos narizes compridos, que estes grandes amigos do Hugo Gaspar na "guerra santa" contra o Islão eram feitos em papa pelo Papa? Devia ser por isso que o Papa Pio XII, e na sala não se conseguia respirar (extra-credit para quem percebeu esta piada). Ah pois, e porque "mataram Jesus", também, que por acaso era judeu como eles, mas depois passou-lhe. Se acham que isto "não quer dizer nada", convido-vos a entrar e aprender mais. Mas cuidado, pois se tiverem um sacerdote católico por aí ele excomunga, ou esconjura, ou faz macumba ou lá o que é  que fazem quando se põem todos tesos de cruz em riste e a balbuciar inanidades, como se estivessem a evocar o poder de Greyskull, como fazia o He-Man. Quem quiser fazer o mesmo teste com "atheists" (ateus) vai ver que sai "cristãos" e "religiões" - sempre é melhor que ciência. Se forem fazer o mesmo com "agnósticos", não aparece nada. Ah, e isto para falar do meu "ódio" pela Igreja Católica, e da possibilidade de eu "colocar uma bomba na Igreja de S. Lourenço" - sempre é mais possível do que me converter, isso pode crer.


Reparem como neste artigo  do seu blogue o Hugo Gaspar faz sobre uma apreciação...epá, eu vou dizer "esquisita", porque duvido que alguém se sinta ofendido com aquilo, de festivais pagãos no Nepal, na India e no Iraque. Assim em 1) diz-nos que parece uma "praxe académica", em 2) "os homens são pregados para dedicar o seu corpo ao ídolo", que giro, em 3) "a idolatria hindu no seu estado puro e duro", diz ele, e finalmente em 4) crianças "pisadas", diz ele, eu digo que estão a ser tocadas com os pés, e se aquele está a chorar é porque está com a cabeça no chão, e é relativamente pequeno, ainda.  Se quiserem dizer que está a ser pisado com botas Doc Martens e está com as tripas de fora dou-vos isso. Apliquemos então este fabuloso e mui tolerante entendimento de religiões "pagãs e por isso erradas" a outra mais..."certa". Nada ali nos vai chocar, pois não? Claro que não, vemos aquilo tudo desde pequeninos, é a nossa "fé" e por isso a nossa "cultura". Falem por vocês, mas primeiro vejam, e reparem como faço o mesmo que o Hugo Gaspar fez nestas imagens.


Praxe académica? Dança caribenha? Variante do jogo do "curling"? Ou será que estão à procura de um brinco que a senhora perdeu? Nada disso: estão a pagar uma promessa! Como assim? Simples: vão a um sítio onde alegadamente apareceu a mãe de Jesus e posteriormente se construiu um santuário enorme e caríssimo mas não tem importância que a Igreja trabalhou nas obras mais duas horas por dia e aos Domingos para comprá-lo, e depois retribuem um favor que pediram a Deus/Jesus/Maria dando voltas de joelhos num suplício tremendo a uma parte desse santuário que tem o nome de "joelhódromo" - "kartódomo" para os "kart", "autódromo" para os automóveis, e "joelhódromo" para os joelhos, get it? Joelho Hamilton é actualmente pagador de promessas nº 1 do mundo


Voltámos à India, foi? Nada disso, esses são pagãos e não sabem ser pregados como deve ser, como Deus quis. Aqui é San Fernando, Pampanga, Filipinas, onde os fiéis católicos reencenam a morte bestial que o Deus reservou para o Seu filho. A Igreja diz que condena isto mas é mentira - isto ainda é o que vai  sobrando dos belos tempos em que eram todos ovelhinhas para entrar no guisado do senhor. Se condenassem mesmo já os tinham excomungado, excococado, cola cao, ou que é. Estes pagões são parvos, desconhecem o Deus único e depois começam a imitá-lo...mil anos antes dos cristãos. 


Epá, o que é isto? Volta pró Inferno, serva de Satanás! Feia como um bode mal parido! Então, então, calma lá, o que é isto? Não se vê logo pelo boneco que ostenta o filho de Deus na plenitude da sua agonia e sofrimento que esta é uma escrava do Senhor? Ai ai que assim vão ser excomungados, esmacacados e esbardalhados. Maria das Dolores - nome mais que apropriado - cumpriu o desígnio divino à risca. Assim (e cito a "lenda") teve febre tifóide aos 12 anos, ficou paralisada aos 14 numa queda durante um assalto à sua casa, e ficou acamada até morrer aos 51, depois de quase 40 anos de extremo sofrimento, que incluiu 13 anos de jejum e hemorragias na cabeça, "na zona onde Cristo tinha a coroa de espinhos". Durante três anos e meio arrastava-se pelo quarto todas as sextas-feiras recriando as estações da cruz enquanto agonizava, revirando os olhos e murmurando numa língua estranha. Teve sorte de ter nascido no século XX, ou azar, não sei, pois com um diagnóstico destes alguns séculos antes era queimada na fogueira por estar possuída pelo demónio, assim "partilhou misticamente o  sofrimento com Cristo, sacrificando-se pelos pecadores". Realmente, ó Hugo Gaspar, você tem razão: ali na "idolatria hindu extrema" a tipa tira aquelas merdas da cara e passa alguma água e fica como nova, e na "verdadeira religião do Deus único" (ou lá o que é) dão-se estes autênticos "milagres".


Agora é que é! Vodu! Não? É na Baía? Candomblé, portanto. Adoram vários deuses, como Itapucaca, Makakamonga ou Chupanatola. Podia ser, se não fossem eles católicos, não sei se apostólicos romanos, mas é bem possível que a versão de catolicismo que praticam seja adaptada à região onde vivem, e às suas tradições. É que ao contrário do que o Hugo Gaspar pensa, já existia mundo, religiões, pessoas, adorações, festivais e tudo isso antes da vinda de Cristo, e posteriormente da vinda de Hugo Gaspar para nos dizer que ele é que tem razão e o resto do mundo são primatas mongolóides. Portanto, aqui estes católicos baianos celebram todos os anos a 4 de Dezembro as festas em honra de Santa Bárbara, padroeira dos bombeiros. Apesar de se dizerem "monoteístas", os católicos, tais como todas as confissões e claro está as tais "pagãs" também, têm amor para dar e vender, e têm um santo protector para todos os dias do ano. Acho que ainda são mais do que os deuses celtas, gauleses, romanos, germanos e egípcios todos juntos. No Vaticano existiu até finais do século XX a figura do "advogado do Diabo", normalmente um clérigo com elevada formação em Direito canónico que procurava faltas nos candidatos a santos. Quando João Paulo II eliminou essa figura em 1983 existiam 98 santos, depois disso foram canonizados mais de 500, alguns por razões, ahem, que "só Deus sabe".


Abstive-me de fazer uma analogia entre as crianças "pisadas" do paganismo e as crianças na Igreja Católica - vocês devem saber muito bem porquê. É que para o Hugo Gaspar, isso não tem importância, pois "não são só os padres católicos que são pedófilos". A Inquisição matou? Os comunas também, e mataram "mais". Sim, quando existia o dobro da população mundial e pelo menos "mataram" logo, não andaram com eles à roda e a esticá-los como se fossem trapos, com requintes de malvadez. Sem argumentos para contrariar as faltas da sua igreja, que foram todas perdoadas, desde a inquisição, e mais recentemente a pedofilia, e muita "porcaria", como ele diz pelo meio, compara-a com todos os males do mundo, apresentando-a assim como um mal menor - que não paga impostos, ao contrário dos outros males, que em alternativa cobram impostos, como aliás a igreja também já fez. Se a Igreja Católica faz tudo o que fazem grupos malignos, questioná-la ainda significa "desrespeitá-la? Sei que ficou impressionado com os meus conhecimentos do evangelho e da própria história da Igreja, e o resultado é este: quanto mais se sabe, maior é a tendência para se afastar da Igreja. E de quem é a culpa? Da própria igreja, que em vez de adaptar os seus rígidos canônes ao que a ciência vai dando a saber, ou tentar explicar o sentido de alguns dos mistérios, vai insistindo numa táctica que não resulta. Acha que se a humanidade os perdoou de faltas tão graves, não o ia fazer por admitir que estavam errados num ou noutro aspecto? Não é o mesmo que admitir que mentiram, atenção, e é esta arrogância que não querem perder. Enquanto se mantiverem firmes aos valores que as pessoas que querem saber mais já consideram ultrapassados, estão condenados a baixar de nível. E isso leva-me ao meu último ponto.


Aqui, vou ser curto, grosso e directo, não se aprende nada. O Hugo Gaspar disse "saber de fonte segura" que eu assisto à Eucaristia Dominical em directo da Sé pelo canal 1 do TDM. Sim, pelo menos para mim essa fonte é segura, pois fui eu que afirmei isso - mas atenção, nem sempre, e eu explico. Estou sentado em frente ao PC e a cerca de metro e meio tenho a TV, normalmente sempre ligada quando estou em casa, e quando estou a escrever não estou a ver mas oiço. No Domingo passado um dos sacerdotes de serviço fala da paixão de Cristo de uma forma que você considera "ofensiva" quando eu a transmito, mas não quando ele, autor da afirmação, a diz. Portanto, só há aqui duas possibilidades: ou eu estava a mentir e a deturpar as palavras do cavalheiro, ou um disparate dito por mim e verbu divinu dito por ele, é isso? O problema aqui é que a Igreja está habituada a um certo tipo de Macau que vai existindo cada vez menos, que pertence ao passado. Hoje por exemplo, um outro sacerdote, o timorense, falava da Páscoa e da ressurreição, enfim, e isto até antes do Natal e depois e outra vez até à Páscoa. A certa altura pede aos fiéis que completem uma oração, e perante o silêncio destes completa ele, e com ar agravado repreende-os dizendo: "Então! É a oração de Cristo na Páscoa! Que nós dizemos para agradecer ele se ter sacrificado para salvar a humanidade". A semana passada foi a constipação de Jesus, e semana vai semana vem VOCÊS são recordados como precisam de estar gratos por causa de um acto horrendo que eu, pertencendo à humanidade citada nessa frase, rejeito liminarmente. O Hugo Gaspar, sendo um rapaz inteligente, concorda comigo, mesmo que diga que não concorda: isto não serve. É pouco, é mau, e eu se fosse católico praticante pedia para ser atendido por pessoas que não me tratassem como uma criança ou um atrasadinho mental.


E sabe porque é que as pessoas vão lá na mesma? Pela mesma razão que baptizam os filhos, em alguns casos sem saberem o que quer que seja do sacramento baptismal, do seu significado, etc. - vão porque os pais os levaram, e os pais destes também, e quanto mais recuamos mais era obrigatório lá ir e proibido abrir a boca para perguntar seja o que for. Durante séculos convenceram as pessoas de que "lá em cima há um Deus que vê tudo, ouve tudo e castiga se se portarem mal". Os mais fiéis e tradicionais não perguntam, e até são comedidos nas suas acções, mas pecam, e quando não pecam de uma maneira ou outra, pecam por pensamento. Eu não aceito isto, posso deixar cada um fazer o que bem entender, mas não admito ver alguém a ser enganado, coagido, intimidado e ameaçado. Não entro pela igreja para salvar ninguém, cada um sabe de si, mas só respeito o clero católico como pessoas, e eventualmente como académicos, se for o caso, e se forem inteligentes. Claro que o primeiro a que me referi no parágrafo anterior não se enquadra em nenhuma destas valências. Fui amigo de padres, sempre na instância da irreligiosidade, e aprendi com alguns, e ainda vi outros mentirem deliberadamente, ora por maldade, ora por laxismo, subestimando o seu rebanho. Quando eu era criança fazia aquelas perguntas incómodas, que todas as crianças na sua inocência fazem, e respondiam-me que eu era "muito novo para entender certas coisas". Em adulto fiz as mesmas perguntas e levei com um "essas são as perguntas que as crianças fazem". Fui saber sozinho, tirei as minhas conclusões.

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