quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Sinais de abertura


1) Está aí o primeiro estudo LGBT realizado no território, uma ideia pioneira que revela os anseios da comunidade homossexual de Macau, durante tantos anos uma mera massa anónima. O estudo foi realizado no enfiamento da primeira manifestação “gay” da história da RAEM, realizada no passado dia 20 de Dezembro, por ocasião do 13º aniversário da mesma – só peca por tardia, esta “saída do armário”. Não me surpreende que 88% dos “gays” locais sejam a favor do casamento. Seria interessante tentar perceber porque é que esta orientação sexual é tão favorável ao matrimónio, uma instituição que parece ter cada vez menos adeptos entre os heterossexuais. É normal que muitos já se tenham sentido discriminados ou isolados, ou que tenham receio do contacto social, mas um aspecto deste estudo merece uma reflexão profunda: a maioria sente a pressão da família para se casar. São muitos os casos de homens homossexuais que reprimem a sua natureza, casam com uma mulher e têm filhos, vivendo uma mentira rendidos à pressão da sociedade. É de salutar que tão poucos temam represálias no local de trabalho ou sintam que o acesso ao emprego está em risco, o que significa que em Macau ainda existe uma certa tolerância e respeito pela vida privada do indivíduo. Se um quinto deles “já se pensou em suicidar”, como revela este estudo, este é um caso do foro psiquiátrico. Quanto à questão do casamento entre pessoas do mesmo sexo, é um sinal dos tempos que já seja uma realidade noutras instâncias, mas no caso de Macau duvido que se tome esta iniciativa sem que a China dê o primeiro passo nesse sentido. Não se prevê que a conservatória o faça a curto ou médio prazo, portanto.

2) Da China sopram ventos de mudança, para o bem e para o mal. O regime anunciou que vai extinguir os campos de reeducação pelo trabalho, uma espécie de sistema de “gulag” que vigora desde 1950 e que permite que dissidentes e outros constestatários sejam detidos sem acusação formada durante quatro anos em campos de trabalhos forçados. O fim de uma medida que não tem cabimento na China dos dias de hoje, e que se saúda, naturalmente. Por outro lado um jornal de Cantão, o Nanfang Zhoumo, tem estado no centro das atenções, devido a um editorial de fim de ano que apelava ao regime que cumprisse a constituição e permitisse mais abertura no que toca a direitos consagrados, como sejam a liberdade de expressão, reunião e manifestação. Sentindo o perigo, a tentacular censura chinesa reviu o texto, subvertendo a sua essência para um elogio ao partido único, numa manobra nada discreta e insultuosa à inteligência de qualquer pessoa minimante consciente. Os últimos três dias têm sido marcados por protestos e até confrontos entre manifestantes e elementos de grupos apoiantes do regime, e até recebeu em Macau o apoio da imprensa e de estudantes de jornalismo – se bem que em alguns casos de forma tímida. Um país como a China, onde a abertura ao exterior é cada vez mais uma realidade, terá que se adaptar à velocidade da informação. Não chega elogiar o regime, pois os chineses já estão fartos de saber que “é o maior”. Os chineses querem cada vez mais ter acesso à verdade, e a censura, apesar do seu papel essencial na manutenção de um certo tipo de equilíbrio, terá que se reformar de modo a responder a estas necessidades. Como disse Bob Marley: “podemos enganar algumas pessoas algumas vezes, mas não podemos enganar toda a gente todas as vezes”.

3) O líder norte-coreano Kim Jong-Un dá sinais de abertura que o seu pai e o seu avô teimavam em não dar. A Coreia do Norte continua a ser o país mais isolado do mundo, e todas as notícias que dali chegam são uma verdadeira incognita em termos de intenções. A visita do presidente da Google a Pyongyang reveste-se de grande importância, mas como disse o meu colega José Rocha Dinis, “é preciso tartar tudo o que que chega da Coreia do Norte com cuidado”. O discurso belicista algo desadequado à realidade actual é uma boa prova disso. Vamos ficar a torcer que este passo seja bem intencionado, e que o regime dos Kim saia finalmente das trevas em direcção à luz. Tinhamos todos a ganhar com isso, e podiamos dormir mais descansados.

1 comentário:

Anónimo disse...

encontrei este site sobre os filomac e a comunidade homossexual de Macau:
http://nadieninguem.tumblr.com
o conhece?