De dar a volta ao omaso

É em dias como este que dá gosto ler o Jornal Tribuna de Macau, querido leitor. A publicação da Calçada do Tronco Velho publicou nas últimas páginas da edição de hoje a Notificaço nº 359/2011 do Departamento da Propriedade Intelectual dos Serviços de Alfândega da Regiäo Administrativa Especial de Macau. Isto assim parece uma parvoíce, mas dito em trocos é simplesmente a lista das multas aplicadas à malta que passa nos serviços fronteiriços da RAEM com produtos comprados na R.P. China e levados para Macau para depois serem revendidos.

Ouvem-se histórias muito engraçadas, como de senhoras que levam quilos de carne de porco dentro da roupa interior (!). Isto em termos de saúde pública é um pouco menos engraçados, mas enfim, vale a pena olhar para a lista das infracções e encontrar algumas bem engraçadas.

Por exemplo temos o caso de um indivíduo que passou na fronteira do Porto Interior com 178 kg de Antimínio e 199 kg de “white steel” (sic). Antimónio é, segundo a Wikipedia, “um metal empregado principalmente em ligas metálicas e alguns de seus compostos para dar resistência contra o fogo, em pinturas, cerâmicas, esmaltes, vulcanização da borracha e fogos de artifício”, e “white steel” será “aço branco”. Uma apreensão “heavy-metal”, portanto.

Mas o que não faltam mesmo na lista são apreensões de produtos de carne de porco, vaca, aves, peixes, mariscos, cigarros, bebidas alcoolicas e medicamentos, o que nos leva a questionar se há gente que compra isto e depois consome. Caso haja, é deveras preocupante. Por exemplo, em Julho de 2008 um indivíduo passou na fronteira das Portas do Cerco com 16 kgs de carne e 11 kg de peixe. Quer dizer, como é que ele levava aquilo tudo? Num talho/peixaria ambulante? Nos bolsos não seria, certamente.

Encontram-se imensos casos de pessoas que levam vísceras (blargh...) de porco e de aves, “cruas ou cozidas”, patas de ganso, aves vivas e ossos de porco. Um indivíduo foi apanhado em Dezembro de 2007 a passar na fronteira das Portas com 6,7 kg de “omaso”. Confesso que precisei de consultar um dicionário para saber o que era “omaso”, que na verdade não passa de simples estômago de vaca. Já outro tentou passar para o território 3,5 kg de “borracho”. Isso não consegui descobrir o que é.

É curioso como verificar que estas pessoas que passam com carne, vísceras e cadáveres de animais não inspecionados são multados em 500 ou 1000 patacas. A sério? Um indivíduo foi apanhado em 2006 no aeroporto com 8,25 litros de “vinho de uvas” e foi multado em 5000 patacas. Se calhar o problema é o vinho ser de uvas, e não de vísceras de porco.

A maior de todas as multas foi de 20 mil patacas, aplicada a uma senhora que levava consigo 12 kgs de “caraça de galinha”, em Março de 2009. Acho mal que agora na altura do Carnaval não seja possível trazer da China caraças de galinha. Se calhar caraças de panda já serão permitidas.

Quanto à propriedade intelectual propriamente dita, vejo que os DVDs piratas têm sido pouco castigados. Temos o caso de uma senhora que foi multada em 5000 patacas por 484 DVDs, o que não parece assim um castigo tão severo que não valha a pena levar meia dúzia no saco de vez quando.

Deixei os dois melhores para o fim. Em Janeiro de 2009 um indivíduo tentou entrar em Macau com 20 caixas de pistache (ou pistachios) com um peso de 600 libras. Não achei nada de especial o apetite por pistache, que também adoro, mas como é que se levam 600 libras (272 kg) de pistache para este lado? Num camião?

O outro passou-se em Março de 2007, quando um indivíduo passou também nas Portas do Cerco com “dois barris de lubrificante”. Não se especifica o tipo de lubrificante, mas vem-me à ideia o K-Y Jelly. Se calhar era destinado às saunas e aos clubes nocturnos de Macau, que por causa da apreensão precisam de trabalhar “a seco” durante algum tempo.

Olhando para esta fabulosa lista do que foi apreendido, imagino aquilo que entra. Isso dava para outra discussão de dar a volta ao omaso. Pode ver a lista completa aqui, ao fundo da página.