sábado, 26 de março de 2011

Os blogues dos outros


Imagino o ar de cão sem dono, de coitadinho, com que este animal anda hoje em Bruxelas. Todos a passarem-lhe a mão no pêlo, ele a dizer que quis jogar à bola com os outros meninos e ninguém quis brincar com ele. Já vais tarde, muito tarde, para mal deste país.

Francis, O Dono da Loja

Anda p’raí um gajo chamado Jel (!) que me tem trazido abismado. Ora bem, a ver se a gente se entende. Inicialmente pensei que o boneco criado pelo tipo visava o óbvio: ridicularizar os sebosos saídos da revolução de Abril e o seu seguidismo cego a ideologias em extinção. Mas eis que não! Aproveitando a fase de demagogia e sensacionalismo que se vive na pátria Lusa, guindou-se à condição de líder contestatário, usando e abusando de lugares-comuns gastos e apatetados, mas aplaudido freneticamente pela turba cosmopolita, indolente e acrítica - cujo slogan maior, à boa maneira abrilista, é o "quero que me dêem" em detrimento do "vou fazer". Se o sujeito em causa é de uma asnalidade estrondosa, pobre o povo que se revê numa figura destas e que lhe dá tempo de antena. Em parte, explica o porquê de Portugal estar na posição periclitante em que se encontra. Isto já não é coisa que se resolva com o FMI. Há anos e anos de irresponsabilidade e de défice intelectual que já são mais do que um mero problema conjuntural.

VICI, MACA(U)quices

Adorava saber onde Futre foi buscar aquela ideia dos charters com 400 a 500 chineses rumarem todas as semanas a Lisboa para ver o suposto melhor jogador chinês da actualidade. Sabendo que existem pessoas ligadas a Macau na candidatura de Dias Ferreira, ainda se torna mais estranha tal ideia, pois eles deveriam saber que tal apenas seria possível se construíssem um mega casino e centro comercial nas imediações de Alvalade.

Hugo, Hotel Macau

Não fosse ter sido eu a vítima e acharia, como outros, que sim, os jornalistas têm a mania da perseguição aqui. Mas o meu email também deixou de funcionar seguindo a tendência. Agora, aproveitando o momento, é tudo culpa do sismo no Japão e no Sábado alguém fora do mundo jornalístico me diz - desde o sismo que o meu gmail não funciona. Por regra tento não teimar e acedi que sim, "ouvi dizer que houve um cabo que se danificou", o que é verdade mas dizia era respeito a Taiwan. As queixas têm chegado de todos os sítios e pessoas, desde as amadoras como eu, aos mais profissionais que percebem que, de facto, algo se passa com o gmail aqui deste lado. E agora a resposta na notícia da BBC que remete para o blogue da Google. É que a Google também já deve estar farta de receber queixas vindas sempre do mesmo local e 1+1 não é só na China que há engenheiros a trabalhar na internet...

Maria João Belchior, China em Reportagem

Como sabem eu escrevi aqui que preferia que o Governo só caísse após a cimeira europeia que aprovaria as medidas para financiar Portugal. Mas não confundamos as coisas. Não é a demissão de Sócrates e a chamada "crise política" que nos pôs nos juros da dívida pública a 8%, Não foi a crise política que degradou o nosso rating e que nos arrastou para a iminência da falência. FOI O ENDIVIDAMENTO EXCESSIVO que o Governo do PS, em meia dúzia de anos, provocou. Foi o ENDIVIDAMENTO ACIMA dos 80% do PIB que nos pôs na crise de dívida soberana em que estamos. Portanto a partir daqui, qualquer coisa que seja resolver o problema é melhor. E Sócrates que provocou o problema, a par com os seus Ministros, não tem credibilidade para o resolver.

Maria Teixeira Alves, Corta-Fitas

Na TVI, desde que José Eduardo Moniz saiu, que a informação mais parece um rebanho sem pastor e sem mestre. Ontem, assisti a um facto inacreditável. O enviado-especial da estação à Libia apareceu a realizar uma reportagem sobre os confrontos entre as tropas de Kadhafi e as dos rebeldes. O jovem jornalista viu-se mesmo que foi atirado aos bichos sem o mínimo de experiência e de conhecimento das regras básicas. Foi escandaloso e quase fatal o que se viu: o repórter a falar sobre os acontecimentos em cima de uma carrinha dos rebeldes equipada com metralhadora. E o repórter estava convencido que efectuava um acto heróico, nem lhe passava pela cabeça que não ficou desfeito por mero milagre. Se as forças de Kadhafi tivessem acertado em cheio naquela carrinha militarizada, lá se ia o repórter e o operador de imagem da TVI para o outro mundo. Como é possível que não haja um rei ou um roque que antes de enviar os repórteres para cenários de guerra não lhes ensinem as regras básicas do que devem e não devem fazer? Como é possível que um repórter se coloque de uma forma suicida no seio (tomando partido) de uma das partes em confronto? O espectáculo doeu-me o coração, porque ser-se jovem jornalista não significa ser kamikase.

João Severino, Pau Para Toda a Obra

Proponho então que admiremos um bocadinho menos os japoneses, sobretudo se isso nos ajudar a reaproximar mais deles. Tanto quanto sei, são tão individualistas como qualquer um de nós. Os jovens gostam de fazer a sua vida, há conflitos de gerações e, nos últimos anos, a tal relação de casamento fiel entre assalariado e empresa tem esfriado. O Japão tem também escândalos políticos e, no metro, as pessoas vão sossegadas, não por serem “todas iguais”, apenas porque vai cada um na sua. E usam transportes públicos porque são mais confortáveis que o individual. Os que conheço são ciosos da sua privacidade e gostam de pensar que pensam pela própria cabecinha. O que os japoneses são, a serem alguma coisa, é bastante práticos. É prático e sensato, em sociedade, ter respeito pelos outros. É sensato, numa crise, não pilhar, gritar, espezinhar. Ter sentido de comunidade, sobretudo num momento difícil para o país, faz um certo sentido. E, quem pede sacrifícios deve estar disposto a fazê-los.

Rui Zink, Rui Zink versos livro

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