segunda-feira, 16 de junho de 2008

O concreto e os Donuts


Enquanto tomo um Sidecar e usufruio ainda da lindíssima vista da janela da sala do meu humilde lar, de onde vejo, grades abertas, de frente a Penha, de um lado a Ilha da Montanha e do outro a Taipa, sempre com o deleitante azul do mar e a pitoresca Torre de Macau como referência, interrogo-me como será o futuro. Macau foi e ainda é uma cidade baixa, cinzenta e branca, como num filme antigo, ruas estreitas e misteriosas, cheiros estranhos, gente boa e simples. Não é uma correria como a sua irmã mais nova, Hong Kong, que com tanta pressa de crescer e ser melhor que sábia irmã se esqueceu do fundamental: as suas gentes.

Macau hoje cresce a olhos vistos, qual lebre que consciente da enorme vantagem da tartaruga se apressou a chegar à meta, quando antes dormia um letárgico sono. Cresce muito e despeitosamente, atropelando o que tem de bom e de típico. Desde que cheguei, há 16 anos, foram duas pontes e um sem número de loucas empreitadas que enriqueceram aos milhões. Desde que o metro quadrado (ou o pé, como queiram) vale ouro, é vê-los a querer empurrar, construír, continuar a empurrar. Por vezes esbarram num obstáculo qualquer, como os cidadãos moradores da Guia, ou agora na Taipa pequena, no que parece querer tornar-se uma novela com contornos de court drama, bem à maneira Americana.

O que fazia mesmo falta em Macau em termos de modernidade não era propriamente estas injecções de concreto que por aqui vão aparecendo. Apartamentos luxuosos, uns por cima dos outros, e que nem estão ao alcance do cidadão médio, que vão enriquecendo poucos e desfigurando Macau. Vale mesmo a pena? Se no fim nada se leva para o outro mundo? E quem sabe - e dizem as más línguas - vão depois usufruír o lucro em qualquer outra parte do planeta. Macau é mais que nunca uma máquina de fazer dinheiro e pouco importa quem não ajuda. No futuro os apartamentos que hoje custam milhões vão ter outros a tapar-lhes a vista, e lá continua o ciclo vicioso do apego desregrado ao capital na forma de propriedade privada.

O que fazia mesmo falta eram áreas de lazer, onde os cidadãos tivessem oportunidade de usufruír dos maravilhosos resultados da nossa economia, parques para os jovens e para os velhos. Não lhes chega atirar com a escolaridade gratuita ou com autocarros a 30 avos (agora andam os velhos a guardar avos…), pois nem só de pão vive o homem. É preciso sobretudo mais multiculturalidade. Já chega de empacotados americanos trazidos pelo Venetian. Uma cidade onde há um Starbucks, há McDonald’s a dar com um pau e nem um único Burger King, e nem uma única casa de Donuts. E eu que sempre medi a modernidade pelos Donuts…

2 comentários:

Anónimo disse...

Construir e usufruir não levam acento. Aliás, duvido que haja algum verbo com acento no "ir" final.
Macau tam mais do que um Starbuck's. Só no centro, tem dois (um no Largo do Senado e outro na AIA Tower).

Anónimo disse...

"Macau tem", quis dizer.