Uma estátua

Um leitor escreveu ontem um comentário, em que alertava para a situação da estátua do governador de Macau Ferreira do Amaral, abandonada num jardim em Lisboa. O blogue Macau Passado, de João Severino, já tinha dado a notícia em Março, e em cima podemos ver a etátua quando estava implantada em Macau, do espólio fotográfico do jornalista, e em baixo a actual localização da estátua, num jardim qualquer, virada para um edifício. (Link aqui no Google Maps, fornecido por Pedro Pinto, que penso ser o anónimo que publicou o comentário).

Nunca dei muita importância ao assunto da estátua do governador Ferreira do Amaral, que foi removida no ano anterior à minha chegada ao território, mas aprendi a importância e o significado da demoção depois de aprender mais sobre Ferreira do Amaral. Terá sido um dos governadores menos diplomáticos dos que passaram por Macau, e certamente o mais musculado, isto apesar de ter apenas um braço. A comunidade chinesa nunca aceitou bem a estátua localizada na rotunda do Hotel Lisboa, e os patriotas consideravam-na mesmo um insulto. Há quem diga que na estátua Ferreira do Amaral "está a matar uma cobra" (não dá para perceber muito bem), e essa cobra "simbolizava os chineses". Há quem diga também que a demoção da estátua marcou o início do fim do domínio português em Macau. Há quem diga muita coisa.

Nada a apontar se quiseram tirar dali a estátua, mas o que é realmente escandaloso é a forma como o governo português veta ao abandono uma parte importante da sua história, e de como sempre ignora Macau. A estátua do Governador Ferreira do Amaral devia estar num local onde as pessoas tivessem facilmente acesso, que fosse publicitado, e já agora que incluísse a sua História. Não sei quem é que pensam que estão a ofender se derem algum destaque à estátua, que afinal é espólio do antigo império ultramarino. E que se saiba Ferreira do Amaral deverá ter alguns descendentes (aquele ex-ministro e ex-candidato à Presidência da República do PSD com o mesmo apelido, por exemplo), e devem ser todos pessoas de bem, e poderiam pensar em dar um pouco de dignidade a um familiar seu.