terça-feira, 12 de julho de 2011

Céu (o tal)


O Paraíso das Testemunhas de Jeová, a versão mais kitsch do Céu.

No sentido de preencher as quotas de ataques aos amigos religiosos e divertir-me um pouco, hoje resolvi falar do Céu. Isso mesmo, do Céu, não do céu. Do Céu como ponto que a humanidade assinala para morada de Deus e dos justos. Não do céu como atmosfera, ou firmamento.

Quando era pequeno ouvia a minha avó e tias, tudo senhoras assaz religiosas, a falarem-me do Céu, a nossa última morada. Ensinaram-me que "se fosse bom, ia para o Céu", que era assim como uma grande recompensa de fim de vida. Foi aí que me apercebi pela primeira vez que quando se falava em "morrer", isto fazia sentido nas pessoas mais velhas - a minha avó e as minhas tias, por exemplo - e que por enquanto não me preocupava muito com o tal Céu. Mesmo assim nunca deixei de reparar como as pessoas olhavam para cima quando queriam "falar aos Céus", mesmo que por cima deles existisse um tecto ou um esquilo em cima de uma árvore. Muito estranho.

Contudo isto moldou muito a minha personalidade. Nunca mais deixei de pensar que o resultado de fazer o bem seria, pelo menos, uma consciência tranquila, e quem sabe uma afterlife jeitosa, uma espécie de recompensa. (E porque não fazer o Bem de qualquer jeito? Afinal é muito mais fácil e dá menos chatices que fazer o Mal). Contudo o que mais me perturbava era a questão mais óbvia: onde fica o tal Céu? Acredito que os mais antigos pensavam que ficava "lá em cima, depois das núvens", algo que mais tarde os eventos da aviação e da meteorologia desmentiram: lá em cima não havia nada, e não era Deus que mandava trovoada quando estava Zangado (Deus fica Zangado com letra maiúscula). Para que não se caísse no ridículo, estabeleceu-se que o Céu seria "num outro mundo", algures no Universo, penso eu, uma qualquer "Twilight Zone", mas com harpas e anjos em vez daquela musiquinha perturbante.

Todas as religiões têm a sua versão do Céu, ou do "Paraíso", nome comum dado ao local para onde vão as "almas" (estes temas dão todos para uma catrefada de posts). Os católicos ainda não estabeleceram muito bem o que há no Céu, enquanto os muçulmanos são mais específicos com a história das no-sei-quantas virgens. Mas a minha versão preferida é o das Testemunhas de Jeová, cuja visão retórica do paraíso passa por gente de todas as raças impecavelmente bem vestida a fazer festinhas em animais selvagens num jardim fecundo e florido. É mais reconfortante saber que pelo menos no paraíso - que segundo as Testemunhas de Jeová, será aqui na Terra - não existe o risco de ser devorado por um leão ou por um crocodilo, mas por outro lado seremos todos vegetarianos.

Tudo o que tem a ver com o Céu, ou na sua versão inglesa "heaven", tem uma conotação positiva. O Toucinho do Céu, por exemplo, é um bolo divinal e extremamente delicioso, e cujas calorias e açucar, no fundo, aproximam-nos um pouco mais do tal Céu. Ninguém ameaça uma pessoa de morte dizendo-lhe "olha que te encho de balázios e mando-te para o Céu". Isso é demasiado maricas. O Céu é marcado por tons claros e música celestial (Enya, Secret Garden, Madredeus, etc), enquanto o seu contrário, o Inferno (tema de outro post futuro) é escuro, vermelho (más notícias para os benfiquistas, que ainda por cima se auto-intitulam de "diabos") e os pecadores sofrem horrores e são constantemente pingados com cera a ferver nas partes mais tenras, como fazem aquelas miúdas nos bares de Bangkok. Sem dúvida que o Céu é a opção mais acertada para passar a eternidade, por muito que se torne aborrecido ao fim de alguns milhões de anos.

É curioso como as pessoas religiosas acreditam piamente que os seus entes queridos já partidos estão no imenso Céu, onde dizem "caber toda a gente". É gratificante pensar assim, e eu próprio às vezes também penso, que as pessoas de quem gostamos estão num sítio qualquer melhor que este. É uma forma como outra qualquer de encarar uma fatalidade. Só continuo sem perceber muito bem porque é que pessoas que acreditam plenamente no Céu e na vida eterna choram e entram em prantos quando morre alguém Não deviam antes ficar felizes? A realidade é que pode ser uma coisa completamente diferente, mas a única maneira de saber não é lá muito atraente. Vão vocês primeiro lá saber, desculpem a sinceridade.

4 comentários:

Anónimo disse...

Isso também pode ser matéria da Física Quântica, toda essa cena dos submundos atómicos, dimensões paralelas, protoconsciências, regressões da alma, etc. Afinal, o que é metafísico não é cientificamente tolerado.
Obviamente que no caso dos católicos o Céu não é de facto o céu físico nem plataforma material e concreta alguma do universo sideral e dos cosmos. Não esquecer também, no entanto, o lugar oposto.
Acreditar ou não é como cada qual. Blaise Pascal escreveu algo muito interessante acerca disso.

Abraço.

Anónimo disse...

Leocardo, comeca a ser evidente, que com tanta interrogacao sobre a religiao, mais adiante na sua vida, voce vai-se tornar num devoto religioso. E o percurso normal.
Como diz o ditado, quem desdenha quer comprar.

Anónimo disse...

Lá estão vocês a contribuir para o número de visitas ao blogue que está baixinho..

Anónimo disse...

Ou a fomentar as vendas d'O Clarim.


AA