segunda-feira, 11 de julho de 2011

O inquérito, a viga e o campeão


1) Um estudo do IPM divulgado na edição de hoje do Hoje Macau diz que “59% dos cidadãos de Macau têm orgulho de ser chineses”, ou que “49% têm orgulho de pertencer ao território”. Um estudo interessante, se bem que realizado apenas pouco mais de mil pessoas, e no caso de Macau é preciso sublinhar que mil andorinhas não fazem a Primavera. O mais importante a reter, mais uma vez, e a bem da harmonia, é que mais de 90% dos entrevistados está “satisfeito” ou “neutro” com a RAEM e a política de “um país, dois sistemas”. Quer dizer, conheço muitos chineses, uns estão ogulhosos de ser chineses, outros nem por isso, e outros ainda estão-se nas tintas. Os primeiros pelam-se cada vez que um chinês vai ao espaço ou quando a China colecciona medalhas na ginástica nos JO, os segundos continuam a aceitar mal influências da China continental, e os terceiros querem é o salário no fim do mês. Mas estes são todos de origens, perspectivas ou estilos de vida diferentes. O tal "orgulho" parece esbater-se entre a terceira ou quarta geração de chineses da classe média/alta nascidos no território. Depois há a velha discussão quase metafísica: o que é Macau? Quem é realmente de Macau? Que importância tem a China moderna na história recente do território? Que impacto tem o que acontece na China junto da população da RAEM? Tudo questões que deviam ser debatidas, mas abertamente, e não com a intenção de engraxar ninguém. Não quero dizer com isto que este tipo de inquéritos são irrelevantes – e se calhar até são – mas a verdade é que requerem um estudo muito mais aprofundado do que entrevistas a mil e tal pessoas. E quais são os critérios utilizados para escolher os tipos? Sou residente permanente se calhar com mais anos de Macau que alguns dos entrevistados e a mim nunca me perguntam nada.

2) Um cidadão português residente no território teve um encontro imediato com a morte, quando passeava de bicicleta pela ilha de Coloane, noticia o Hoje Macau. O cidadão Mário Pestana foi quase atingido por uma viga (confesso que quando li no jornal “português ferido com barra de aço em Coloane” pensei que se tratava de mais um episódio da tal “perseguição aos estrangeiros”; aquilo é uma viga, pelo que dá para entender da fotografia do jornal) caída de uma obra ali próxima, e chegou mesmo a ser atingido de raspão, ficando ferido na zona lombar das costas. Ouvi hoje uma opinião muito estúpida a respeito deste caso: “Ali não é para andar de bicicleta, devia ir para o trilho”. Não sei se o Mário Pestana já ouviu a mesma coisa também, mas é mesmo uma opinião muito estúpida, desculpem lá. A viga caía na mesma, estivesse ali alguém de bicicleta, de carro, de mota ou a pé. Penso que o mínimo que se pode pedir destas merdas de obras que andam em toda a parte é que não sejamos atingidos por nenhuma viga, pedra, barra de ferro ou tijolo enquanto circulamos na via pública. Qualquer dia por causa das obras e do amor à vida não é possível circular em lado nenhum. Depois um responsável daquela obra tentou corromper Mário Pestana para não apresentar queixa, oferecendo-lhe dinheiro para esquecer o sucedido. Mário Pestana não aceitou, e o que mais posso dizer disto é que é assunto para o CCAC dar uma vista de olhos. Quer dizer, quantas vezes pode isto acontecer, e quantas pessoas eventualmente aceitam, colocando em risco a vida de quem acha que a segurança pode ser ignorada e que tudo se resolva com dinheiro? Já se sabe que estes construtores são uns gajos cheios de nota, mas eu por exemplo não estou interessado em ficar morto ou aleijado em troca de dinheiro nenhum. Do que vai servir depois? Que existam trabalhadores da construção civil da China que não se importe de arriscar a vida por meia dúzia de patacos, mas não se pode esperar que toda a gente aceite pactuar com isto.

3) Uma palavra final para o técnico português Rui Cardoso, um verdadeiro caso de sucesso no futebol do território. O seu Ka I juntou a Taça de Macau ao campeonato, repetindo a “dobradinha” do ano passado, e ao mesmo tempo levou o Benfica à I Divisão. Em mais nenhum país ou território afiliado na FIFA isto tem par, penso seu (talvez na Ilha da Páscoa?), e se não é matéria para um prémio de reconhecimeto internacional qualquer, então o que é?

7 comentários:

Anónimo disse...

a) O estudo do IPIM é uma justificação para os subsidios que recebem. Ponto final. É mais uma daqueles estudos que servem só para preencher página de jornal. Pouca parra.



b) os acidentes acontecem e parece-me exagerado dizer que não existe segurança no local quando não houve um inquérito dirigido por entidades competentes. Acho muito bem que o empresário da obra tenha tentado resolver o problema mais fácil em vez de ir entupir os tribunais com mais um processo. Não me parece um caso para o CCAC pois tratou-se de uma abordagem honesta para indemnizar o lesado. Claro que ha quem veja isto maior do que o que é. Uma viga é uma viga.


c) O Rui Cardoso já merecia o convite para treinar a vergonha selecção de Macau. Alguém geneticamente capaz de tomar conta daquele deboche é ele. Força Mourinho de Macau!


AA

Leocardo disse...

Em relação ao segundo ponto, caro AA, o que propõe que se faça para aliviar os coitadinhos dos tribunais que têm "mais que fazer" do que resolver problemas destes?

Que tal criar uma pequena tabela de indemnizações instantâneas para estes casos? Assim um ferimento deste tipo, sem necessidade de internamento ou incapacidade temporária ou permanente, cinco mil patacas parece bem? Caso haja um braço ou perna partida, dez mil patacas. Pronto, dez mil por cada perna ou braço partidos.

No caso de morte ou incapacidade permanente, podemos fazer assim um apanhado de quanto o tipo ganha em 12 meses, multiplicar pelo número do agregado familiar, pronto, problema resolvido. Claro que neste caso a vida de um operário ou de um criança vale menos que a vida de um director de serviços ou de um agiota. Paciência.

Agora falando a sério, se os tribunais estão "entupidos", isso é um problema dos tribunais. Não podemos regressar à lei da selva só para "resolver depressa os problemas". Ainda bem que o cidadão não se deixou corromper e ficámos todos a saber da notícia.

E sim, uma viga é uma viga, e até uma moeda atirada de uma altura certa que caia em cima da cabeça de alguém pode matar. Quanto mais uma viga.

Cumprimentos.

Anónimo disse...

Ah pois é,o Rui Cardozo realmente está de parabéns.È caso único do mundo,ser treinador de duas equipas ao mesmo tempo.Na proxima epoca como vai ser??Quando o benfica jogar com o Ka I ele senta no banco de quem??Só mesmo em Macau

Anónimo disse...

Para o ano não vai treinar o Ka I. Já o disse ele próprio.

Elias disse...

Viga ou barra de aço, não importa... o que importa é que podia ter morto alguém e, tão grave, tentar resolver o sucedido com um punhado de patacas em troca de silêncio... aparentemente a obra é pública...

Anónimo disse...

Se acham que o facto do Rui Cardoso treinar duas equipas é único em Macau, desconhecem por completo o futebol aqui na terrinha.

Anónimo disse...

Também há 1 presidente de dois clubes ao mesmo tempo.Depois quando jogam os 2 clubes entre si,uma das suas equipas que é mais fraca apresenta misteriosamente apenas 8 ou 7 jogadores em campo e depois acaba o jogo aos 20 e tal minutos por não ter jogadores suficientes.