terça-feira, 13 de julho de 2010

O cheiro da papaia verde


A minha sogra tem há cerca de dois anos uma empregada vietnamita, e apesar de não conseguir comunicar com ela, acho-a o máximo. Ainda no outro dia a pequena, que fala cantonense, perguntou à minha mulher se já tinha estado "na América", ao que a minha mulher retorquiu "por acaso sim". Daí vai de lhe fazer um monte de perguntas, de como é, como se tratam dos vistos, todo o tipo de perguntas passando pela alimentação ao clima. A sua curiosidade prendia-se com o facto do marido, um chinês da China continental, estar a considerar uma proposta de trabalho de um irmão que tem um restaurante em San Francisco.

A minha mulher respondeu-lhe que só lá tinha ido de férias, pelo que não podia saciar a sua imensa curiosidade. Daí que a empregada pergunta-lhe: "mas o teu marido não é americano?". A minhamulher respondeu-lhe que não, que "é português". A empregada perguntou-lhe "onde era Portugal", mas a explicação pouco adiantaria, uma vez que a moça nem sabe onde fica a Europa (juro). Para ela basta ser "branco" para ser "americano". Provavelmente nem sabe - nem quer saber - que comunico em português com os meus filhos, que agora durante as férias passam o dia lá em casa. Qualquer língua "estrangeira" só pode ser "inglês", para ela. Não sei exactamente como se chama a rapariga, mas os meus filhos chamam-lhe "a-ying", e é assim que a vamos chamar a partir daqui.

A a-ying chegou a Macau em 2008, veio com o marido que é trabalhador da construção civil, e a minha sogra é a sua "sponsor". Chega lá a casa mais ou menos à hora de almoço e sai à hora do jantar. Como almoça e janta lá todos os dias menos ao Domingo, a despesa com alimentação é o que a preocupa menos. Vi o marido dela uma ou duas vezes, um senhor assim com um ar muito chinês, muito torrado do sol, que só fala mandarim, língua que usam para comunicar. A a-ying diz conseguir juntar perto de dez mil patacas por mês, e já comprou cinco (!) casas no Vietname. Eu próprio começo a pensar que é uma boa ideia comprar ali uma ou duas casas, nunca se sabe.

Não sei se a a-ying é forreta, mas segundo a minha sogra, a menina tem muito bom gosto, só que acha tudo "muito caro". Diz que ficou "embaraçada" algumas vezes que foi com ela ao mercado no Manduco fazer compras, uma vez que a a-ying chegou a comprar peixe, já escamado, estripado e ensacado, e depois recusá-lo por não conseguir chegar a um acordo quanto ao preço. Ao Domingo, dia de folga, junta-se com as outras vietnamitas, e consigo imaginá-las a comprar um peixe para todas comerem com arroz. É o retrato de outra "genti di Macau", da terra onde paira o cheiro a papaia verde.

1 comentário:

Anónimo disse...

5 casas no vietname???a gaja é rica então,ou serão barracas?