segunda-feira, 14 de julho de 2014

Alemanha-1 Argentina-0


Caíu o pano sobre o mundial do Brasil 2014, com a Alemanha a bater a Argentina por uma bola a zero com um golo marcado já no prolongamento por Mario Götze, faltavam sete minutos para o relógio do Maracanã marcar os 120. O mítico Estádio do Rio de Janeiro vestiu-se de gala para a 20ª final da prova maior do futebol mundial, que pela terceira vez colocava frente-a-frente alemães e argentinos, que através de percursos distintos e uma gestão diferente por parte dos seus responsáveis, acabam por ser as duas melhores equipas do torneio. A Alemanha deu mostras da sua férrea persistência, nunca virando a cara à luta, demonstrando sempre um enorme profissionalismo desde o primeiro ao último minuto de cada encontro. Quem substima a "mannschafft" e não se prepara aficandamente para contrariar o seu futebol rápido, aliando a componente técnica à física, e desta feita com uma cultura táctica superior, arrisca-se a pagar caro, como aconteceu com Portugal e com o Brasil. Mas de entre as muitas coisas em que Joachim Löw acertou, uma delas foi que a Argentina não era o Brasil, nem a mesma que a sua equipa havia eliminado do mundial de 2010 nos quartos-de-final, com expressivos quatro golos sem resposta - curiosamente a última derrota dos alvicelestes na competição. Os argentinos podem não ter cuidado a nota artística, e chegavam a dar a impressão que era uma equipa composta por Messi e mais dez. Só que estes dez eram um conjunto compacto, organizado, com bons índices físicos, e capaz de fazer tão bem as transições como os alemães, e dando a entender que eram ligeiramente superiores no aspecto técnico. Notava-se que Alejandro Sabella tinha trabalhado bem a equipa, ele que apesar de não ser um nome muito conhecido, trabalha há vários anos com a selecção argentino, tendo sido adjunto de Daniel Passarella.

Depois da bola começar a rolar no Maracanã, os primeiros minutos davam a entender que este seria um belíssimo jogo de futebol, entre duas equipas à procura do golo, arriscando mais do que tem sido normal nas últimas finais - as últimas três renderam apenas 2 golos no tempo útil de jogo, e um golo no prolongamento. Alemães e argentinos dividiam os lances de ataque, mas eram os sul-americanos os mais perigosos, e sempre que Messi aparecia perto da área germânica, Löw ficava com o coração ao pé da boca, e nem com três ou quatro defesas a marcá-lo o nº 10 se intimidava. Só alguma falta de pontaria evitou que o "pulga" marcasse, e foram duas as ocasiões em que a bola passou a centimetros do poste da baliza de Manuel Neuer. À passagem da meia-hora a Argentina marcou por Gonzalo Higuaín, mas o golo foi anulado por fora-do-jogo. O lance levantou dúvidas no início, muito devido à forma como o avançado do Nápoles festejou, mas na repetição vê-se que está claramente adiantado em relação à defesa adversária no momento em que recebe o passe de Ezequiel Lavezzi. Higuaín estava apenas a ser velhaco e iludir o árbitro italiano Nicola Rozzetti, pois uma imagem do banco da Argentina mostrava Sabella a dar conta da posição irregular do seu jogador, e nem chegou a festejar. A seguir os alemães tinham tido uma contrariedade inesperada. quando Christoph Kramer é obrigado a sair, depois de se lesionar num choque com o defesa Eequiel Garay. O médio do Borussia Mönchengladbach já tinha sido chamado ao onze para substituír o também indisponível Samir Khedira, a única baixa de vulto da "mannschafft". Löw lançava então Andre Schürrle, e quase que lhe ia saíndo a sorte grande, quando o médio do Chelsea atira de cabeça ao poste no último lance da primeira parte; só por milagre a Alemanha não ia para o descanso em vantagem.

No segundo tempo a Argentina foi progressivamente tomando conta das operações; Javier Mascherano estava imperial a meio-campo, os alas subiam a um ritmo vertiginoso, quer Enzo Pérez pela direita, quer Sergio Agüero - que entrou para o lugar de Lavezzi ao intervalo - pela esquerda, e cada vez que a bola chegava aos pés de Messi, a Alemanha tremia. A certo os alemães pareciam encostados "à rede", e aos 59 minutos dá-se mais um lance polémico, quando Neuer sai da baliza interceptar um lance de ataque conduzido por Higuaín. O guardião germânico toca primeiro na bola, mandonda-a para lançamento de linha lateral, mas "atropela" completamente o argentino, que se fica a queixar. Bem aplicado o critério por parte do juíz italiano, pois de facto a intenção de Neuer era de jogar a bola, e não de matar Higuaín. Higuaín esse que acabaria por dar o seu lugar a Rodrigo Palacio, numa altura em que as pernas começavam a faltar aos argentinos, que já recorriam a uma toada mais agressiva, tentando provocar os alemães, que começavam a subir no terreno com mais perigo. Tudo indicava que o jogo fosse para prolongamento, e Sabella resolve esgotar as substituições fazendo entrar Fernando Gago para o lugar de Enzo Pérez, refrescando o meio-campo. Löw respondia com a entrada de Götze para o lugar do único avançado de raíz, Miroslav Klose, que esteve bastante discreto, e isto viria a revelar-se um autêntico golpe de génio.

Nos 30 minutos extra a Argentina prosseguia a sua batalha campal, indicando que o fôlego só daria para tentar resolver o título mundial nos "penalties", apostando noutro eventual momento de inspiração do guardião Sergio Romero. Só que Löw leu o jogo e resolveu-o como se de xadrez se tratasse; com a saída de Klose para dar lugar a Götze, este passa para a direita, e Schürrle subia para o apoio ao homem mais adiantado, que passaria a ser Müller. Schweinsteiger, completamente esgotado, um verdadeiro cavalo de batalha, passaria a um lugar mais recuado e teria a companhia de Kroos, menos inspirado que no jogo do Brasil, e Hummels, que é um defesa cheio de garra e um corredor incansável apoiava as iniciativas ofensivas, enquanto Mesut Özil mantinha-se na esquerda. No sector recuado mantinham-se Lahm, Boateng e Höwedes, fechando o caminho para a baliza de Neuer, mas a intenção era claramente de encontrar uma via para o golo, e resolver a contenda antes da lotaria das grandes penalidades. E quase como que de repente, eis que aparece o golo aos 112 minutos, e por Götze, que recebe de peito um passe de Schürrle, e remata sem hipóteses para Romero, que ainda deve estar a perguntar de onde apareceu o extremo alemão. Estava tudo praticamente resolvido, mas aos 120 minutos, no último lance do encontro, a Argentina dispõe de um livre próximo da área alemã, e Messi estava encarregado de marcar. Suspense, bate coração, mas o astro argentino enganou-se na modalidade, pensando que era râguebi, e atirou bem por cima do poste - teria valido 3 pontos, mas infelizmente para Messi, isto era futebol.


Depois do apito final foi a vez da Alemanha fazer finalmente a festa, depois de 24 anos desde o último título. A Federação Alemã, que deve ser a mais pragmática e a que mais apoia incondicionalmente os seus profissionais em todos os aspectos, colhe os resultados de dez anos de trabalho, iniciados em 2004 por Jürgen Klinsmann e Joachim Löw, depois de alguns anos em que a "mansschafft" tinha passado por períodos muito difíceis. Valeu a pena investir e esperar, pois com jogadores do calibre de Müller, Özil, Höwedes, Hummels, Schürrle, Boateng ou Götze, que terão 30 anos ou menos em 2018, a Alemanha pode olhar com confiança para o futuro, e ambicionar ao domínio do futebol mundial. E atenção a este nome, Julian Draxler, um jovem de 20 anos que entrou apenas no jogo contra o Brasil, quando o resultado estava já em 7-0. Pena que outros países não pensem ao nível da formação como fazem os alemães, e exijam resultados imediatos. Eles podem ser rudes, frios e tesos, mas agora a festa é deles, e tornam-se na primeira selecção europeia a conquistar as Américas. Glückwünsche, Kristopher Kolombüs!




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