sábado, 19 de outubro de 2013

Grande cabra (uma história de desamor)


Não sei porque raio fomos dotados de um líbido. A sério. Se foi a mãe natureza que nos fez assim, com esta qualidade comum a todos os animais mas que para nós significa muito mais que a continuação da espécie, merda para a mãe natureza. Porque é que não nos deu antes a capacidade de voar? Eu preferia voar, bolas. Se foi Deus, então o criador tem um sentido de humor lixado. Seja quem foi que nos fez andar atrás das mulheres em função de “automático” (a função de “manual” sabem qual é, não preciso de explicar), tramou-nos bem. O sucesso da conquista é saboroso, mas pode ser cansativo. O pior é quando nos deixa exausto e com os nervos em franja, e nem uma acobanhadela da cobra entra em caixa. Foi o que aconteceu nesta história que vou passar a contar.

Conheci uma tipa no outro dia – tudo normal, gosto de mulheres e não sou tímido, e vivo sozinho – e gostei da qualidade do produto. Engraçada, simpática, alta, esguia, asiática, na casa dos 20 anos, uma ou outra borbulha no rosto, nada de desencorajador, e com ar de que aprecia um bom arraial de piçada. Tivemos dois encontros: um primeiro mais em jeito de apresentação, e um segundo bastante divertido, daqueles em que se começa a fazer tarde mas nem damos por isso? Pensando bem se calhar aquele era o momento certo para lançar a rede. Depois parece que o peixe foi todo levado por uma traineira. Mas sei lá, respeitei o momento, achei mal convidá-la para me ajudar a pendurar a roupa da máquina (um truque que resulta sempre), e preferi levá-la a casa nesse dia. Pelas aparências ela até gostou do meu cavalheirismo. Pelo menos não dei a entender que só lhe queria saltar para a cueca – e como já perceberam, a ideia era mesmo essa.

Passou-se algum tempo, e os nossos afazeres – o meu de agente público ao serviço da RAEM e o dela de faxineira – deixaram-nos desencontrados. Um Sábado à tardinha liguei-lhe, para me inteirar da sua disponibilidade, e disse-me que estava “perto da CTM na Av. Horta e Costa”, a um bom esticão daqui de casa, mas pedi-lhe que esperasse e em vinte minutos estava lá. Acabei por encontrá-la para os lados do mercado vermelho, na companhia de uma amiga, e dava para perceber que tinha ficado surpreendida com o meu esforço, e que eu estava mesmo interessado em vê-la. Perguntei-lhe se queria jantar comigo (depois de descartar a amiga, lógico), e ambas trocaram umas palavras no seu dialecto. A outra, uma baixota sem ponta por onde se pegue, a milhas de se poder considerar uma partida a três naquela noite, disse-me que “iam visitar outra amiga, que estava doente”. Achei isto uma bela bosta de programa para um Sábado à noite, mas amigas são amigas, e pesava-me a consciência se ela preferisse sair comigo e a tal amiga morresse. Sabe-se lá. Despedi-me com amizade e fui arranjar outro programa.

Na manhã seguinte acordei pelas 11 e picos, com a boca a saber a vodka e a pecado, fiz um café e sentei-me em frente ao PC, para me inteirar dos resultados fa bola. Liguei-me ao Facebook, e não é que para meu espanto a mensagem do topo era da tipa, toda contente, a contar como se tinha divertido em Hac-Sá na noite passada? Isto deixou-me meio atordoado. Não tinhamos intimidade suficiente para precisar de mentir no caso de precisar de desmarcar um compromisso, ou alegar motivos de agenda para não nos encontrarmos. Se me tivesse dito que ia a Hac-Sá com os amigos, que não lhe apetecia sair comigo, ou que tinha uma sessão de “gangbang” marcada com os traficantes africanos que costumam andar pelo Largo do Senado, eu entendia, na boa. Senti-me mais baralhado do que propriamente enganado, ou ofendido.

A vida continua, os dias vão passando, trocamos SMS de quando em vez, até um dia destes, quando me liga toda triste e diz que “tem saudades minhas”, e quer combinar um encontro. Bestial, pensei, aqui está a oportunidade pela qual tanto esperei. Perguntei-lhe se queria jantar nesse dia na minha casa, uma proposta ousada que mesmo neste caso tinha uma probalidade 50/50 dela dizer que sim. Mas assim foi, agradeceu, e combinou ligar-me quando acabasse de limpar a porcaria da casa dos chineses para quem trabalha. Preparei qualquer coisa leve, nada que interferisse com o que viria com toda a certeza a seguir. Uma vez dentro desta porta e rodeada destas quatro paredes, o jantar seria apenas um pretexto para a sobremesa: vulva no churrasco com molho de clitoris.

Disse-me que viria por volta das sete e meia, oito o mais tardar. Esperei, passaram-se as oito, e resolvi ligar-lhe. Não atendeu. Insisti, e nada. Estranhei, e como jogo sempre pelo seguro, deixei o jantar pré-cozinhado, e no evento dela não aparecer podia guardá-lo para o dia seguinte. Ligou-me já passavam das nove e meia, e disse que estava em casa. Perguntei-lhe que bicho lhe mordeu, mas foi evasiva, alegou indisposição, e prometeu-me que viria no dia seguinte. Tudo bem, encolhi os ombros, porque não? Podia era ter dito qualquer coisa antes, mandar uma mensagem, sei lá. No dia seguinte, mais do mesmo, mas muito pior. Cancelei um outro compromisso para “encaixar” sua majestade, esperei até depois das oito, mas desta vez liguei-lhe persistentemente.

Quando finalmente atendeu eram quase nove horas, e estava novamente em casa. Foi então que lhe perguntei “olha lá sua grande puta, quem é tu pensas que és para me deixar pendurada? O Fort Knox das conas?” – mas de um jeito muito mais diplomático, sem a maior parte dessas palavras. Pediu desculpa, e disse que desejava muito encotrar-se comigo, mas “blá blá blá”, enfim, não se conseguiu explicar muito bem. Aí dei-lhe um ultimato: ou levava com ele em bruto e sem dó, ou deixava-me em paz, e ia cada um à sua vida. Hesitou, e precisei de repetir umas três vezes este convite à badalhoquice, ou em altenativa, que não me moesse mais os cornos. Por incrível que pareça, optou pela primeira! E confessou mesmo que só não tinha manifestado a tremenda comichão no grelo que a afectava “porque é tímida”. Pronto, tudo bem, não faz mal, já passou. Resolvemos isso agora mesmo ou quê? Disse-me que sim, que nos podiamos encontrar. Aleluia!

Combinei um ponto de encontro a meio caminho da casa de ambos – a dez minutos da minha, e a cinco da dela, mais precisamente. Fiz-me à estrada, qual salteador da rata perdida, e a meio do caminho mandei-lhe uma mensagem que estaria lá em menos de cinco minutos. Quando lá cheguei e não a vi, senti um intenso cheiro a esturro, e não era da padaria ali perto. Resolvi telefonar-lhe, para dar conta que tinha chegado, e para meu espanto o seu telemóvel estava...desligado! Foi então que tive um momento de claridade, igual àqueles que os alcoólicos têm durante cinco minutos no espaço de meses: a puta está a gozar com a minha cara. Liguei mais umas três ou quatro vezes, esperei mais dez minutos, e quando me apercebi que as alminhas já se riam a bandeiras despregadas da minha triste figura, fiz o mesmo caminho, mas de volta, derrotado, desiludido, a arrastar o peso do saco.

Voltei para casa tão abananado que parecia que me tinham batido com uma pá das obras no meio do focinho. Como é possível? Seria uma partida, uma chalaça elaborada bolada por ela e por um terceiro ou terceiros? Não temos amigos em comum, não há ninguém para achar piada à brincadeira, portanto acho que não. Psicose? Possivelmente. Se fiquei fodido? Com toda a certeza. Se a visse mais tarde naquela noite noutro local onde ela não imaginava encontrar-me, partia-lhe os dentes todos da boca. Juro que o fazia, e nunca bati em mulheres. Deixei-lhe uma mensagem no Facebook e mandei-lha outra por SMS. Não disse muita coisa, nem vale a pena estar aqui em entrar em detalhes, mas posso resumir numa curta frase a ideia que lhe quis transmitir: “se te cruzares comigo na rua, foge”. E é melhor que corra a sete pés. Que grande cabra...o que não faz um homem pelo amor ao pito.

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