domingo, 9 de junho de 2013

O desnorte da Sara


A actriz Sara Norte, filha do actor Vítor Norte e da actriz Carla Lupi, recentemente falecida, cumpriu recentemente uma pena de prisão em Espanha por tráfico de droga, e foi ontem entrevistada pela jornalista Fátima Campos Ferreira. A entrevista decorria numa toada morna, com Sara Norte a explicar o seu “background” de depressão, até à altura que começou a contar os detalhes que a levaram ao consumo e tráfico de estupefacientes e à detenção que teve impacto mediático. Admiro a coragem de Sara em contar a sua história, não se inibindo de descrever os detalhes mais sórdidos, mas fico sem perceber o que a levou a este ponto. Aquela jovem de 28 anos que vi ontem na televisão não corresponde à experiência que viveu e que a levou a passar 16 meses numa prisão espanhola. Bonita, elegante, bem tratada, educada, custa a acreditar que esta menina a que nunca faltou nada foi uma “mula” do tráfico que chegava a engolir cem pacotes de haxixe que depois evacuava por meio de laxantes, e por cada serviço recebia 1000 euros. Quando foi detida em Fevereiro de 2012 em Algeciras tinha 800 gramas de haxixe no estômago. É realmente triste, e nem a dificuldade em aceitar a separação dos pais ou a doença que levou a sua mãe explicam a expiral de vício que a levaram a bater no fundo. Vendo bem até teve alguma sorte, uma vez que a rota do tráfico que a instrumentalizou passava por Marrocos. Fosse apanhada aí ou noutro país menos tolerante e dificilmente se livraria do calvário do cárcere em menos de ano e meio. Acredito quando diz que se quer reabilitar , e espero que consiga retomar a sua carreira de actriz. Está visivelmente arrependida, e espero que não se fechem as portas por culpa do seu passado. No fundo toda a gente tem o direito de errar, e é por isso que os lápis vêm com uma borrachina na outra extremidade. A entrevista – que me deixou boquiaberto – chega mesmo a ter um carácter educativo. Olhem para a Sara, jovens irreverentes desta vida e restantes rebeldes sem causa. A linha entre a decência e o amor próprio e a mais reles da chungaria é ténue. Protejam-se dos predadores que se aproveitam da fragilidade de pessoas como a Sara. Quando acham que não têm nada a perder e a marginalidade disfarçada de redenção e prazer parece ser a única saída, parem e pensem um pouco. Não há valor mais precioso que a liberdade.

1 comentário:

Anónimo disse...

Mas liberdade sem responsabilidade é a treta que se vê. Agora que já cumpriu o castigo, que tenha mais juízo. A Sara Norte, claro, para que não volte a ficar desnorteada.

Abraço.