quarta-feira, 3 de abril de 2013

O peso do apelido


Recentemente no Facebook deparei com esta curiosa estatística sobre os apelidos (“sobrenomes” segundo a norma brasilieira) mais comuns nos diferentes países da Europa. Ali vemos que “Almeida” será o apelido mais comum em Portugal, mas basta consultar qualquer lista telefónica para perceber que ainda são os “Silva” que ganham aos pontos, provavelmente seguidos dos “Santos”. Mesmo os “Ferreira” ou os “Fernandes” serão em maior número que os “Almeida”. Já aqui falei dos apelidos macaenses, alguns bastante comuns em Macau mas raros em Portugal, e hoje gostava de falar dos apelidos portugueses propriamente ditos. E há tanto que dizer a este respeito. É um chão que dá muita uva.

Não é habitual relacionarmos o apelido de alguém com o seu significado. Um Almeida é, como muitos devem saber, aquele indivíduo que recolhe o lixo. Quando estamos cara a cara com um sr. Almeida ou um dr. Almeida, não o imaginamos imundo, de macacão azul, boné e cigarro no canto da boca a virar latões de lixo ou a varrer as ruas. Não deixa de ser um nome propício a uma ou outra chalaça (que rica peida, sr. Almeida), mas dificilmente se associa o apelido à profissão. O almeida com “a” pequeno fica para os lixeiros, o Almeida com maiúscula fica para o clã dos Almeida. É assim com quase todos os apelidos, no fundo.

Os apelidos com nomes de árvores, flores e frutos (Pereira, Carvalho, Castanheira, Rosa e até os próprios Silvas) têm uma origem curiosa. Diz-se que foram adoptados por cristãos novos, judeus convertidos, que assim trocaram os Cohen ou os Schlonberg (e outros “berg”) por apelidos mais politicamente correcto. Ferreira, e isto é um facto comprovado, foi outro dos apelidos adoptados por estes neo-cristãos que assim foram escapando à fúria inquisitorial. Sendo que temos um país onde praticamente todos temos algum “Silva” ou “Ferreira” na família, temos pelo menos uma costela judaica. Os anti-semitas que me desculpem, mas é mesmo assim.

Existem apelidos que são derivados de nomes próprios: “Fernandes” é filho de Fernando, “Antunes” é filho de António, “Rodrigues” filho de “Rodrigo”, “Nunes” filho de Nuno, e por aí fora. Por vezes dá-se o acaso de nomear os filhos com o nome próprio de onde derivou o apelido. Assim temos os Fernando Fernandes, os António Antunes ou os Nuno Nunes, o que, diga-se de passagem, não fica a dever muito à imaginação. Em Macau temos mesmo a Avenida Rodrigo Rodrigues, baptizada com o nome do Governador de Macau entre 1923 e 1925. Há ainda apelidos que são também nomes próprios: “António” ou “Jorge” são provavelmente os mais comuns. Há alguns anos tinhamos na selecção de andebol um jogador que dava pelo nome de “António António”. Este é um daqueles casos em os miúdos ficam a odiar para sempre os pais. E com alguma razão, diga-se em abono da verdade.

O apelido é uma daquelas coisas que por muito que o detestemos, temos que viver com ele. Ninguém dá muita importância ao assunto, mas á apelidos verdadeiramente hilariantes, que nos levam a pensar que o seu portador terá considerado por mais que uma vez que teve o azar de nascer na família errada. Existem alguns que nos levam mesmo a visualizar o animal ou coisa homónima do apelido. Não penso numa barata quando sou apresentado a um senhor “Barata”, mas não consigo deixar de pensar numa barriga quando conheço um senhor “Barriga” (ou pior ainda, um “Barrigana”), ou num frasco quando estou em frente ao sr. “Frasco”. É impossível não fazer esta associação. A imagem vem completa com umbigo e tampa, respectivamente.

Eu próprio tenho um apelido que se situa mais ou menos no meio da tabela do pitoresco. “Crespo” quer dizer, de acordo com o dicionário “cuja superfície é desigual, cheia de altos e baixos como a da carapinha”. Não estou assim tão mal, considerando que existe também o apelido “Carapinha”. Temos que concordar que entre o apelido que me caíu em sorte e “Carapinha”, fui um privilegiado. Tinha um amigo com o apelido de “Pequerrucho”. Aqui está um exemplo acabado de mau apelido. Deve ser complicado apresentar-se a uma moça dizendo: “Olá, sou o Pequerrucho”. “És mesmo?” – dirá ela – “deixa lá…o tamanho não é o mais importante”.

Conheci ainda indivíduos com outros apelidos curiosos: “Alvo”, “Lampreia”, “Farinha”, “Caralinda”, “Patego” ou “Mocho”, e apesar de serem razão suficiente para criar uma lei que permita a mudança de apelido, não são dos piores. Em Portugal temos casos mais graves, como “Brochado”, “Camelo” ou “Maricas”. Qual é a mulher que na hora de casar opta por pertencer à família dos “Maricas”? Curiosamente nunca conheci ninguém que se importasse com o seu apelido, por mais bizarro (existe um apelido “Bizarro”) ou estranho (este não sei) que fosse. É uma daquelas coisas que não faz muita diferença, desde que se adquira logo à nascença. É mais ou menos como ser cego. A propósito, já conheceram algum sr. Cego?

1 comentário:

Anónimo disse...

conheci no exercito um senhor chamado .. bagina de apelido e outro banha.