segunda-feira, 1 de abril de 2013

Mentira não paga imposto


Hoje é dia 1 de Abril, vulgo “Dia das Mentiras”. Em Macau é feriado, pois desde o ano passado o Governo dá tolerância de ponto no dia seguinte a um feriado, que no caso de ontem foi Domingo de Páscoa. É pena que mais uma vez este dia tenha caído num Domingo ou num feriado, pois é adorável detectar as mentiras na imprensa local. Para o ano não falha, que temos o 1º de Abril a uma terça-feira, e não há feriado que sirva de desculpa aos “mentirosos”. Vamos lá a começar a engendrar uma mentirinha para animar as hostes. Tanta verdade às vezes enjoa.

Quando era pequeno ensinaram-me que “mentir é feio”, e que devemos sempre dizer a verdade, ser honestos, sinceros, bons meninos e etcetera. Ora que conceito tão fascista e datado. Não há nada tão delicioso como uma mentira bem contada, e a satisfação de fazer alguém acreditar numa mentira bem contada não tem ímpar. Toda a gente mente, mentiu e há mesmo quem faça disso carreira. O povo diz que “mais depressa se apanha um mentiroso do que um coxo”. Isto é por si uma mentira. Duvido que um mentiroso com ambas as pernas perfeitamente funcionais se deixe apanhar mais depressa que um aleijado. Prefiro antes o provérbio “a verdade é como o azeite: vem sempre ao de cima”. É fisicamente mais credível. E infelizmente é quase sempre assim. É preciso ser um bom mentiroso para não ser apanhado.

Existem dois tipos de mentira: a mentira branca, e a mentira negra, ou maldosa. Por volta dos meus oito ou nove anos tinha um casal de piriquitos. Um dia ao acordar reparei que um deles estava em falta, e a minha avó disse que a ave ausente “fugiu”. Seria traumatizante dizer-me a verdade, que o pássaro tinha morrido durante a noite e que o tinha encontrado frio e teso no chão da gaiola, com os olhos ainda abertos deixando transparecer o semblante da morte. É uma mentiinha que se perdoa. As mentiras maldosas todos conhecemos, e estamos fartos delas e dos seus intérpretes. Ora são os políticos, os empresários, os adúlteros, enfim, os que mentem a qualquer hora e sem olhar a quem, indiferentes a quem magoam ou às consequências dos seus actos.

E no fundo o que é a mentira? Podiamos conjecturar sobre o acto de mentir, o que realmente significa. Os actores de um filme ou de uma peça de teatro mentem-nos descaradamente e ainda entendemos isso como “arte”, e ainda dando mérito a quem “mente” melhor. A própria História está repleta de mentiras ou meias-verdades, e não sendo uma ciência exacta, está aberta a interpretações diversas. Tudo depende dos pontos de vista. Um meteoroligista, um analista político ou um comentador desportivo arriscam-se a mentir antecipadamente quando fazem previsões. Andam constantemente na corda bamba da mentira, e ainda são pagos para isso. Há mentiras que são ditas quase insitintivamente, às vezes em forma de verdades voláteis, ou como meio de não ferir os sentimentos de outrem: “Amo-te”, “És bonita”, “Estás mais magra”, “Essa roupa fica-te bem”, “A comida está óptima”, ou por vezes em forma de paradoxo: “Nunca mais te minto”.

Neste dia há dois filmes que deviam ser obrigatórios. O primeiro é “Liar. Liar” (1997), uma comédia com Jim Carrey, que interpreta um advogado que fica impedido de mentir durante um dia, e “The Invention of Lying” (2009), com Ricky Gervais, uma deliciosa fantasia sobre um homem que mente num mundo onde toda a gente diz a verdade. E assim celebremos a mentira, esse dom de que todos somos dotados, e que tantas vezes, alguns de nós diariamente, faz uso. Mesmo que sem querer. E não se preocupem, que mentir muito não nos vai fazer “parar ao Inferno”, como dizia a minha saudosa avózinha. Na realidade o Inferno não existe. Ou será isso também uma mentira?

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