domingo, 27 de junho de 2010

Oficiais e gatos pretos


Os oficiais na China estão cada vez mais supersticiosos, e isso começa a afectar o seu trabalho. Alguns aceitam subornos ou desviam fundos depois de geomantes e adivinhos lhes garantirem que "não seriam apanhados". A opinião pública começa a ter consciência do problema. Como exemplo recente, oficiais supersticiosos de Jiangsu mudaram o nome do lago Luoma, porque em chinês este nome soa a "recusar".

O professor Li Xiangping, director do centro de religião e sociedade da Universidade Oriental Normal da China, diz que a superstição entre os agentes da autoridade não deve ser vista apenas como um fenómeno religioso, pois reflecte uma falta de normas, e deve ser encarado com um assunto sério. O prof. Li começou a estudar o fenómeno depois de ter assistido a um grupo de polícias a realizar uma cerimónia religiosa depois de um acidente, na província de Hunan.

Li descobriu que a superstição entre as autoridades tornou-se evidente nos anos 80, na altura do início do desenvolvimento económico do país, e tornou-se mais evidente nas últimas décadas. Os últimos anos do século passado revelaram muitos agentes supersticiosos, muitos deles corruptos. Hu Jianxe, antigo chefe do Partido Comunista de Tai'an, em Shandong, entretanto condenado à pena capital, mandou uma vez construír uma ponte porque um adivinho lhe garantiu que dessa forma poderia candidatar-se a vice-primeiro-ministro.

Em 1999, Jia Yongxiang, um oficial corrupto de um tribunal em Liaoning, contratou os serviços de um "mestre" para determinar a data exacta em que se devia mudar para o seu novo escritório. Além destes, existem outros casos de desvios de fundos públicos para satisfazer crenças supersticiosas, normalmente obras em edifícios públicos, recomendadas por mestres de feng-shui.

Os agentes e oficiais não são especialmente religiosos, mas visitam templos com um único propósito - pedir aos deuses da fortuna e do poder. Durante a monarquia na China, quando os imperadores diziam receber a sua autoridade directamente dos céus, "pedir" aos deuses tornava-se uma espécie de escape para os oficiais que procuravam posições superiores. É possível que isto ainda venha a acontecer hoje na estrutura do PC chinês.

Poderá sugerir um certo vazio. A superstição, diz o prof. Li, é essencialmente uma expressão cega da perseguição pelo poder e pela fortuna. "Só aqueles que não conseguem encontrar a resposta em valores morais, como a honra por exemplo, recorre à superstição", diz Li. Uma mentalidade destas é preocupante, uma vez que a população confia nos seus agentes para resolver os problemas.

Depois de anos a estudar casos de oficiais que foram longe demais, o prof. Li estabelece uma ligação entre a superstição e o poder, e apresenta uma solução: É necessário construir uma crença social. Só as normas socialmente aprovadas podem transmitir ao indivíduo a sensação de satisfação. Isto aplica-se não só aos oficiais, mas a qualquer indivíduo.

2 comentários:

Anónimo disse...

Isso já se sabe. Quem põe religião e superstição à frente de qualquer outra coisa não pode exercer bem as suas funções.

Anónimo disse...

Crença social??? e quem vai determinar e criar esta crença social??? o Partido Comunista (da outra vez q criou a sua crença igualitária, revolucionária e comunista e a impôs à China toda, se bem me lembro, deu uma grande barraca e instabilidade social....)?? Deviam é abandonar estas supersticoes e acreditarem em algo mais superior ou, pelo menos, seguirem e praticarem os valores tradicionais chineses, como a virtude da humanidade e a piedade filial!!! Como Confúcio faz falta...