domingo, 24 de janeiro de 2010

Os caras de morango


Mais um Domingo em família (mas que carga de água), mais discussões entre os miúdos e os primos. A miúda é bem mais fácil de se relacionar, porque do que falam as meninas? Aí está, parvoíces. Já com os pequenotes do sexo masculino existe algum tipo de rivalidade, salutar mas mesmo assim rivalidade, em termos de honra, hábitos e toda essa confusão derivada do tal convívio entre as culturas europeia e oriental, e tudo isso que torna Macau tão fascinante, mas chega de chavões, que o dia foi mesmo longo e cansativo.

O meu filho tem um primo que está a passar pela adolescência, e como tal sofre de um ligeiro problema de acne – para ser simpático. Acontece que como são tantos os primos, as primas, os tios e as tias, refiro-me ao bom do Weng como “cara de morango”, ou “strawberry face”, no seu título original. O raio do miúdo, hoje durante uma discussão qualquer sobre as virtudes de Pitágoras sobre Confúcio, ou qualquer coisa assim, chamou ao tal primo “strawberry face”, e isto sem me pagar direitos de autor.

A situação foi bastante desagradável, uma vez que o cara amorangada em questão está naquela fase problemática (bem, são todas...) dos 15/16 anos, da afirmação, e não sei que mais. E o Weng, coitado, nem pode fazer a barba. É deprimente ter 16 anos e não poder falar de after-shaves com os amigos. Daí que passamos a grande chavascal em cantonense, gritaria, gente histérica e todas essas parangonas da interculturalidade.

Levo o miúdo mais cedo para casa, depois de pedidos de desculpa daqueles à moda do samurai, para lavar a honra, e pelo caminho dou-lhe mais uma lição de vida. Começo por explicar que dizer a verdade e ser sincero são coisas positivas, mas por vezes não se deve dizer a verdade ou ser sincero porque isso pode “magoar alguém”. Enfim, estava a ensiná-lo a ser mentiroso e hipócrita como todos fazemos, e já os nossos pais o fizeram.

Daí que ele retorque: “mas porque podes tu?”. Então explico-lhe que como adulto do sexo masculino, entre 30 e 50 anos, toda a gente ouve o que tenho para dizer, e tenho o poder, não, o dever, de mandar umas bocas foleiras de vez em quando para lembrar ao mundo que ninguém é perfeito. Já ele, por exemplo, tem oito anos, é pior que subsídio-dependente, e enfim, o seu papel é ganhar no futuro próximo um lugar na sociedade e aí sim, é avaliado pelo que diz. É o tal cinismo, esse ingrediente essencial às relações inter-pessoais.

Isto no futuro pode sofrer desvios, e todos nós sabemos que podem ser trágicos, ou nem por isso. Há chavalitos e chavalitas que querem chamar a atenção durante a adolescência fazendo disparates como roubar, maltratar animais, consumir estupefacientes ou engravidar. Depois há os outros que se portam bem, entram para os escuteiros e ajudam os primeiros (toxicodependentes, mães solteiras, presidiários juvenis) juntando-se a associações de beneficência que depois dejectam em cima quando arranjam um emprego a sério.

Em todo o caso é sempre necessário guiar os mais pequenos no caminho do bem, para que não tenham dúvidas sobre o certo e o errado, e para que consigam crescer uns grandes hipócritas e mentirosos que encaixem perfeitamente nesta maravilhosa engrenagem da vida.

6 comentários:

Anónimo disse...

:)

Anónimo disse...

Mas que lição de moral exemplar.
Haja quem lhe encontre moral...

Pedro Coimbra disse...

Mas afinal quem és tu?
Almoços em família aos domingos; a vertente ocidental e oriental da família; sei que não és o Pedro Coimbra, porque esse sou eu.
Mas há aí muita coisa em que o Pedro Coimbra se revê....

Leocardo disse...

Eu também sei que eu sou eu, e também não sei quem é o Pedro Coimbra ;)

Cumprimentos.

Anónimo disse...

Já eu estou em desvantagem: nem sei quem é um nem outro.

Pedro Coimbra disse...

O Pedro Coimbra é bom rapaz, um pouco tímido até.
(Esqueci-me do resto da letra da poora da música).